Os seis bancos credores da Sete Brasil — empresa criada pela Petrobras em 2011 para construir sondas para perfuração de petróleo no pré-sal, que está envolvida nas investigações de corrupção da Operação Lava Jato — podem perder juntos R$ 8,5 bilhões dos R$ 12,9 bilhões de empréstimo-ponte que concederam à empresa antes da liberação de financiamento aprovado em 2014 pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Os empréstimos do Banco do Brasil, Caixa, Bradesco, Itaú BBA e Santander já venceram e foram rolados várias vezes mas agora os bancos não querem mais rolar e os prazos vencem no fim deste mês. Se até lá o BNDES não liberar os recursos, a Sete Brasil não terá como pagar os bancos, que nos próximos dias devem seguir os passos do banco britânico Standard Chartered, que na semana passada entrou com pedido de execução de garantia do seu crédito no Fundo Garantidor da Construção Naval (FGCN).
O FGCN tem hoje um saldo de R$ 4,5 bilhões. Pela regra do fundo, o banco só pode executar um valor equivalente a no máximo 50% do emprestado. O pedido do Chartered visa executar garantias para receber parte do empréstimo de R$ 250 milhões que fez à Sete Brasil.
“Mas como os outros cinco bancos envolvidos também devem pedir execução das garantias, cada banco só deve conseguir no máximo 30%. Quem chegar antes ganha mais”, disse uma fonte que pediu para não se identificar.
Segundo a fonte, dos seis bancos credores da Sete Brasil, o Standard Chartered é o que tem menor valor emprestado; o resto está mais ou menos dividido entre os cinco outros, sendo que o BB teria uma parcela maior.
Procurados, nenhum dos bancos se pronunciou sobre o assunto. Em comunicado enviado ao Brasil Econômico, a Sete Brasil confirmou que o Standard Chartered encaminhou notificação de solicitação de pagamento ao FGCN. Pelo regulamento, o FGCN tem 30 dias úteis para analisar a questão. “Por isso acredito que os outros banco vão entrar com os pedidos em breve, pois demora para ser liberado”, disse a fonte.
A Sete Brasil, no entanto, acredita que encontrará solução para o recebimento de financiamento de longo prazo — etapa prevista desde a concepção do projeto — atendendo a todas partes e, assim, reverter a decisão do banco.
Procurado pela reportagem, o BNDES, que tem o empréstimo de longo prazo aprovado para a Sete Brasil, não se pronunciou sobre o assunto. A Caixa também respondeu à solicitação, dizendo que “informações de operações com empresas privadas são protegidas por sigilo bancário, nos termos da Lei Complementar 105/01, inclusive as operações de crédito de que o FGCN participa”.
“Acredito que o BNDES vai acabar liberando o dinheiro”, disse a fonte. “Deixar a empresa quebrar traria muitos prejuízos ao país”.
Além dos empréstimos, alguns dos bancos também têm participação no capital da Sete Brasil, por meio de um fundo de investimentos, o FIP Sonda. O BTG Pactual, por exemplo, tem 26% da empresa — o equivalente a R$ 1 bilhão — e por isso não participou do empréstimo porque, por lei, sócios com mais de 10% do capital não podem oferecer crédito a uma empresa.
Em teleconferência no mês passado para apresentação dos resultados de 2014 do banco, o presidente André Esteves disse que ele e os outros investidores estavam muito aborrecidos com a situação, mas que “esperava ver uma solução em breve”.
Além do BTG, Santander e Bradesco, os fundos de pensão Previ, Funcef, Petros e Valia, o FI-FGTS, os investidores Luce Venture Capital, EIG e Lakeshore, além da própria Petrobras (que detém na companhia, direta e indiretamente, quase 10% do capital social) têm participação no FIP Sonda.