Por monica.lima

São Paulo - O mercado de empresas credenciadoras, dominado atualmente por poucos concorrentes, tem um novo player com planos ambiciosos. Este será o ano em que a Stone, a mais nova entrante, quer decolar. “Temos uma série de projetos na manga a serem anunciados em breve”, disse ontem ao Brasil Econômico Augusto Lins, diretor da credenciadora de estabelecimentos para uso de cartões e outros meios eletrônicos de pagamento.

Baseada em um modelo diferente do utilizado pelas grandes concorrentes Cielo (do Bradesco e Banco do Brasil) e Rede (do Itaú), a empresa está em fase final de negociação com três varejistas para prestar serviços em larga escala — seja de mobile payment, e-commerce ou transferência de fundos (TEF).

Lins não quis revelar os nomes das redes. Mas informou que os negócios devem estar concluídos no final do semestre.

O executivo diz que a Stone quer chegar a 5% de participação no mercado até 2020. No final do ano passado, a Cielo tinha 54,5%, a Rede, 37,4% — enquanto a empresa do Santander, GetNet, tinha 6,5% e a do Banrisul, a Vero, tinha 1,6%. Além dessas quatro e da Stone, o mercado brasileiro tem ainda as americanas Elavon (que tem parceria com o Citi e 1,2% do mercado, segundo a empresa) e a Global Payments, com o Banco de Brasília.

A Stone não revela muitos números da operação porque, segundo Lins, ainda se considera “uma presa fácil”. Mas uma das armas que está usando para concorrer com as credenciadoras ligadas a grandes bancos é a customização de serviços e a tecnologia avançada. “Nossa estratégia está em linha com a tendência da ‘uberização’ da economia”, diz Lins. O termo, derivado do aplicativo para smartphones Uber (que interliga motoristas a usuários precisando de caronas), significa trabalhar e ser remunerado “por demanda”. Ou seja, oferecer serviços diferentes para clientes diferentes. “Hoje, por exemplo, as ‘maquininhas’ de cartões são iguais e tem as mesmas funções em todos os estabelecimentos”, diz.

A Stone foi lançada em 2013 pelo Banco Pan, BTG e ex-donos da Braspag e iniciou suas operações há pouco mais de um ano. Segundo a empresa, até agora já conquistou mil clientes.

“Somos centrados no cliente e desenvolvemos soluções e serviços sob medida para as necessidades de cada segmento”, afirma Lins. Segundo o executivo, as grandes concorrentes têm menos flexibilidade para adaptar suas redes às necessidades cada vez mais digitais dos clientes e consumidores. “Não trabalhamos com troca de arquivos, mas com ‘Big Data”, tecnologia baseada em ciclos de dados criada pelo Google e usada pelas redes socais”, explica.

Lins acredita que a oferta de serviços customizados pode atender especialmente a demanda de profissionais liberais, como médicos, dentistas e advogados, bem como prestadores de serviços, como jardineiros e eletricistas.

“Poucos médicos aceitam cartões hoje porque as secretárias tem dificuldade de identificar qual cliente pagou o que naquele dia. Se três pagaram o mesmo valor com cartão, mas um dos cartões for recusado, o médico não pode saber qual dos três não pagou. Com a tecnologia da Stone, isso será possível”, afirma.
Outro grande foco da Stone será em comércio eletrônico: “Oferecemos a primeira solução genuinamente de market place. O que existe no Brasil até agora são simulações”, diz Lins. “Market place” é o nome dado a sites de e-commerce que reúnem diversos vendedores, centraliza e distribui os pagamentos, como a Amazon.

“Melhorar a ‘usabilidade’ dos sistemas de pagamento dos sites é foco de investimentos da nossa parte. A experiência de pagamento é fundamental para a imagem da marca”, diz.

Lins admite, porém, uma limitação — temporária, segundo ele. “Estamos aguardando uma mudança na legislação do Banco Central (BC) para conseguirmos licença para trabalhar com a bandeira American Express”. Por enquanto, a Stone processa cartões com as bandeiras Visa e MasterCard.

A entrada da Stone e de outras “desafiantes” ao duopólio Cielo-Visa é resultado de uma mudança de regra do BC que instituiu a livre concorrência nesse mercado em 2010. Até então, as “maquininhas” da Visanet somente cartões Visa e as da Redecard, só as da bandeira Mastercard. Agora todas as maquininhas podem aceitar todas as bandeiras, contanto que tenham a licença. A ideia do BC com a nova regra era reduzir os preços cobrados. Mas até agora a dominância das duas grandes segue e os preços caíram pouco. Lins diz que não acredita em guerra de preços: “Não vamos competir por preço, mas teremos preços muito competitivos”.

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