Por diana.dantas

O ex-presidente do Banco Central e sócio da Gávea Investimentos, Armínio Fraga, afirmou ontem que o ajuste fiscal do governo será insuficiente para colocar o país na rota do crescimento e estancar o avanço da dívida pública. “Meu amigo (o ministro da Fazenda Joaquim Levy) é extremamente competente, mas milagres não faz”, disse Fraga em seminário sobre crescimento econômico promovido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro.

Para o ex-presidente do Banco Central (BC) no governo Fernando Henrique Cardoso, o ajuste proposto pelo ministro não vai estancar o processo de endividamento público brasileiro. “É possível que o Brasil caminhe para a recuperação da credibilidade, abandonando as ‘pedaladas’. Porém, o processo de aumento da relação dívida/PIB, não vai ceder. O denominador, que é o PIB, não está crescendo, deve cair esse ano e os juros altos vão pressionar o montante da dívida. É um quadro preocupante”.

Segundo Fraga, o ajuste fiscal proposto pelo governo enfrenta obstáculos como a rigidez do orçamento brasileiro, levando o governo a reduzir investimentos e elevar a carga tributária.
Para Fraga, nos últimos quatro anos o país entrou em processo progressivo de perda de transparência e disciplina na área fiscal. “Temos uma relação dívida/PIB bastante elevada, considerando nossa história e nossa taxa de juros, além de um déficit público nominal de 7% do PIB. E para piorar, o crescimento contínuo dos gastos públicos como proporção do PIB”, disse, acrescentando que esse cenário contribui para elevar o custo do capital brasileiro, afetando a dinâmica da dívida pública.

Fraga observou que o Brasil vive há anos um descompasso econômico. “A demanda cresceu mais que a oferta. Esse desequilíbrio vaza para a inflação e para a balança de pagamentos”. Segundo ele, na ponta da oferta, que representa o investimento e a produtividade, o Brasil é destaque negativo no universo dos países em desenvolvimento.

O ex-presidente do BC ressaltou ainda que a renda per capita brasileira — que representa 20% da renda das economias mais avançadas — deveria crescer num ritmo mais forte. “Hoje ela cresce em média 1% ao ano, quando deveria crescer 3% a 4% sem esforço”.

Fraga criticou a condução do governo Dilma Rousseff em setores estratégicos, como petróleo e energia. No elétrico, “o problema se estende há muito tempo”. Segundo ele, a incerteza em relação à regulação desses segmentos é um forte obstáculo ao desenvolvimento. “O arcabouço regulatório foi prejudicado por políticas pouco profissionais ou enviesadas ideologicamente”, concluiu.

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