Por diana.dantas

Depois de amargar o pior primeiro trimestre em sete anos, com captações de apenas R$ 10,1 bilhões, as emissões de empresas brasileiras no mercado de capitais devem se recuperar com novas grandes oeprações saindo do forno na semana que vem.A previsão foi feita ontem por executivos do Bradesco Banco de Investimento (BBI) no evento Brazil Investment Forum, em São Paulo.

“Estamos em um ponto de inflexão”, diz Sergio Clemente, vice-presidente do Bradesco, que está à frente do banco de investimentos do conglomerado. “O pior já passou”, diz Leandro Miranda, diretor gerente do BBI. Segundo ele, esta é exatamente a melhor hora para retomar os negócios — antes que a concorrência também perceba a volta das oportunidades.

Sem dar detalhes, Miranda antecipou que na semana que vem algumas novas operações de renda fixa serão anunciadas e uma delas, de grande porte, vai servir de “benchmark” para o mercado — ou seja, vai dar uma direção para as próximas operações, em termos de prazo, juros e volumes.

No mercado secundário internacional, o risco Brasil, medido pelo Credit Default Swap (CDS), caiu 24% desde 15 de março, para 234 pontos ontem. No caso dos títulos privados de empresas brasileiras, também houve queda: os da Petrobras com vencimento em 2024 caíram 16%, diz Miranda. Em ambos os casos, quanto menor, maior a confiança do investidor.

“O Brasil ainda desperta muito interesse e há bastante liquidez. Assim que a Petrobras divulgar seu balanço anual, o que deve ocorrer em breve, que o ajuste fiscal for aprovado pelo Congresso e que a crise corporativa provocada pela Operação Lava Jato estiver equacionada, o mercado vai voltar a crescer com força”, diz Clemente.

Miranda lembra que depois de três meses de muita incerteza e volatilidade, finalmente as coisas estão se acalmando e a percepção de risco está melhorando. Segundo os executivos, o que ocorreu no primeiro trimestre foi mais uma retração dos emissores do que dos investidores.

“O juro lá fora está muito baixo, os ativos no Brasil ficaram baratos principalmente depois da alta recente do dólar e tem muito dinheiro em fundos de private equity esperando boas oportunidades de investir”, diz Miranda. O banco calcula que existe cerca de R$ 15 bilhões de recursos disponíveis desses investidores.

O vice-presidente de investimentos da SulAmerica, Marcelo Mello, tem a mesma percepção: “Hoje tem uma série de fundos voltados para Brasil que estão olhando vários setores. Este é um mercado que deve oferecer várias oportunidades”.

Clemente diz ainda que o BBI não fechou as portas do crédito de forma generalizada a empresas dos setores apontados pela Lava Jato, como empreiteiras e óleo & gás. Mas está mais seletivo. “Fazemos análise caso a caso, conhecemos bem os riscos, as companhias e os setores, e estamos reavaliando os ratings dos clientes”, diz. Se a conclusão for de que o risco aumentou, o banco pode aumentar os juros ou não emprestar. Mas ele também diz que o maior problema não é oferta, mas demanda. “Estamos com 60% das nossas linhas de crédito a comércio exterior ociosas”, diz.

O setor exportador, aliás, é um dos primeiros a se beneficiar com a alta do dólar. Além dele, alguns outros sentem menos a recessão, como o varejo e algumas commodities como papel e celulose.
O BBI vê, ainda, boas oportunidades de intermediar negócios de fusões e aquisições que devem surgir a partir, exatamente, dos problemas com empresas investigadas pela Lava Jato. “Podemos estruturar a operação para vendedores ou financiar compradores”, diz Clemente.

A diretora da Anbima Carolina Lacerda ressalta que o mercado de renda fixa internacional está aberto para as empresas brasileiras. De acordo com Carolina, há uma fila grande de empresas que querem fazer abertura de capital. No entanto, ela ressalta que ainda não está havendo uma preparação para isso.

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