São Paulo - O cenário desafiador para a economia brasileira tem feito economistas e analistas revisarem suas projeções constantemente. Os números, na maioria das vezes, mudam sempre para pior. Ontem, foi a vez do Comitê de Acompanhamento Macroeconômico da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima) depreciar as projeções macroeconômicas desde e do próximo ano. Para a taxa Selic, o comitê estima o juro em 13,50% ao final do ano, ante 13% de fevereiro. Para 2016, a estimativa subiu de 11,50% para 12%.
Hoje o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anuncia no fim do dia a nova Selic. A expectativa majoritária do mercado é de que o juro suba de 12,75% para 13,25% ao ano.
O presidente do comitê, Marcelo Carvalho, chama a atenção para a dispersão das projeções de juros para este ano. “É interessante notar que há uma clara diferença do juro no curto e no médio prazo”, diz, acrescentando ainda que, embora haja um grande consenso sobre o aumento de 0,50 ponto porcentual hoje na taxa básica, há um dissenso sobre o que será o número para o final do ano. “Tem uma dispersão muito grande. Tem gente que acha que acaba acima (de 13,25%), tem gente que acha que vai ficar bem abaixo e tem aqueles que só veem a taxa caindo o ano que vem”, diz.
Para Carvalho, a falta de unanimidade reflete a dificuldade do mercado de entender a autoridade monetária. “Eu interpreto esta dispersão de projeções para o final do ano como uma medida de como o mercado tem dificuldade de entender a reação do BC”, diz, ressaltando que a autoridade monetária vem adotando expressão mais dura em relação à inflação, mas “não há consenso se isso é para valer e até onde subiria o juro”.
O grupo formado por 25 analistas de instituições financeiras associadas à Anbima estima que a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá continuar subindo ao longo deste e do próximo ano. A mediana do IPCA para 2015 passou de 7,5% para 8,2% ante projeções de fevereiro. Para 2016, subiu de 5,51% para 5,70%.
Carvalho ressalta que ainda há preocupação com questão da energia e também dos preços administrados. “O aumento da inflação deste ano irá respingar em 2016. Há incertezas sobre os administradores, principalmente, energia elétrica”, pondera.
Para o dólar médio, as projeções passaram de R$ 2,87 para 3,10 este ano e de R$ 3,06 para R$ 3,30 em 2016. A expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) também piorou. Para o final de 2015, passou que queda de 0,83% para retração de 1,27%. Para 2016, o número é positivo, crescimento de 1% antes previsão anterior de 1,30%.
Para Carvalho, os impactos das medidas de austeridade do governo vão ser sentidos em diversos pontos do tempo, dependendo de onde se está olhando. Do lado financeiro da economia, o efeito já está acontecendo. Mas, do lado real da economia, ainda não houve efeito, até porque muitas medidas ainda não foram aprovadas pelo congresso. “Acredito que terão impacto nos próximos meses, por isso a projeção do PIB vem caindo”, afirma.