São Paulo - A possibilidade de melhor rentabilidade, juntamente com a diversidade de produtos e a educação financeira, estão levando investidores a buscarem novas alternativas para suas aplicações. Os bancos, que ainda figuram como principal opção de muitos clientes, começam a perder espaço para as corretoras, casas de investimentos, assets e afins. A desbancarização de investimentos, como tem sido chamada pelos concorrentes, está começando, ainda vai demorar um tempo para se concretizar, mas promete mexer com o mercado.
Norberto Giangrande, sócio da corretora Rico, lembra que na década de 60 e 70 teve um crescimento grande da classe média no pós-guerra nos Estados Unidos. Nessa época, os americanos, preocupados em guardar dinheiro para a aposentadoria, passaram a se questionar sobre como fazer isso para garantir maior retorno lá na frente. Foi nessa época que surgiram as grandes corretoras independentes e o movimento de desbancarização teve início.
Giangrande observa que um movimento parecido começou aqui no Brasil no início do primeiro governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva, quando houve um crescimento da massa salarial e a migração das classes sociais. “Essas pessoas começam a se preocupar em como poupar para ter um futuro financeiro mais tranquilo. A internet popularizou a distribuição de informação e do acesso a produtos que os bancos dificilmente ofereceriam, pois eles vendem produtos só deles. Na Rico, vendemos produtos de 24 bancos diferentes”, explica.
Para o executivo, a desbancarização financeira está pautada em três pilares: o nascimento da nova classe de investidores, a educação financeira cada vez mais popularizada e a facilidade de o investidor acessar as corretoras.
O sócio diretor da Geração Futuro Eduardo Moreira avalia que cada vez mais as pessoas vão ver os bancos como local de serviços e, essas casas de produtos. “Banco não tem vocação e nem estrutura para criar produto com algum tipo de diferencial”, diz.
Para isso, no entanto, Moreira ressalta que é necessário que essas casas estejam sempre investindo em produtos e em alternativas de investimentos para os clientes. “Ainda é um movimento pequeno, mas tende a crescer. Antes as casas exigiam volume muito grande e era complicado para entrar nelas. Hoje tudo mudou e está mais fácil e acessível”, diz.
Para o executivo da Guide Investimentos Jean Sigrist, o movimento irá crescer, mas o Brasil não atingirá os níveis dos EUA, onde 80% do total do patrimônio das pessoas estão fora dos bancos. “Não vejo o mercado brasileiro com esta magnitude. Mas, por outro lado, o país é o sétimo maior mercado no mundo de asset management. É um mercado muito grande e está tendo um processo de diversificação tanto de produto quanto de instituição”, diz, ressaltando que no Brasil 50% dos investimentos ainda estão aplicados em poupança. “Já está havendo uma mudança de mix de produtos. Os investidores já estão buscando produtos mais sofisticados, com maior nível de complexidade e também melhor aconselhamento financeiro”, diz.
Sigrist ressalta que outro diferencial entre os bancos, as corretoras e casas de investimentos é a independência. “Nós somos mais independentes e não temos conflito de interesse. Ao contrário dos bancos, que têm metas para serem cumpridas”, afirma. “Já percebo cliente procurando atendimento mais personalizado. Existe este movimento que está começando agora. As pessoas estão tendo experiências positivas fora do banco. É um movimento embrionário, que vai ganhar tração com o tempo”, diz.
O gerente de investimentos da Concórdia Corretora, Mauro Mattes, concorda que existe um conflito entre a meta do gestor e o objetivo do cliente. “Isso fica obscuro até para o próprio gerente”, pondera, acrescentando ainda que, com o avanço da informação, o cliente ficou mais consciente e hoje ele quer ter certeza de que o que está sendo indicado é a melhor alternativa. “As corretoras enxergaram a oportunidade e começaram a ser especialistas em clientes”, diz.
O presidente da corretora Magliano, Raymundo Magliano Neto, ressalta que esse é um movimento de volta às origens. Ele lembra que quando o avô dele abriu a corretora, em 1927, ele ajudava as famílias da época a aplicar o dinheiro em ação, em títulos de guerra, títulos municipais, opções que tinham grande liquidez à época. “Meu avô era um corretor de valores que buscava investir o dinheiro do cliente na melhor opção possível”, afirma.