São Paulo - Depois de registrar um dos piores primeiros trimestres desde 2002, os números relativos à captação da indústria de fundos de investimentos sinalizam uma recuperação no segundo trimestre. Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), a captação no mês passado, até o dia 28 atingiu R$ 18,5 bilhões.
O cenário de alta taxa de juros e de incertezas favoreceu os fundos de curto prazo, que registraram captação líquida de R$ 11,5 bilhões no período, seguido de referenciado DI, com R$ 8,1 bilhões, e renda fixa, com R$ 1,7 bilhão.
Para o economista da Leme Investimentos João Pedro Brugger, o segundo trimestre começa a se desenhar mais positivo que o anterior, mas uma melhora mais consistente só deve acontecer no final do ano. De acordo com o profissional, o investidor local ainda está “machucado” e mais receoso sobre os rumos do país, enquanto o estrangeiro está vindo com força. “Mesmo com todos os problemas, o estrangeiro olha para o Brasil e vê a força do Levy ( Joaquim Levy, ministro da Fazenda) para colocar o país nos trilhos, isso passa segurança”, afirma.
Brugger lembra ainda que o Brasil tem um importante atrativo que é a taxa de juro de 13,25% ao ano. “Quando o investidor compara a taxa de juros daqui com a de outros países emergentes, que têm praticamente os mesmos riscos do Brasil, ele decide vir para cá. É um fluxo forte em busca de rentabilidade”, afirma, ressaltando ainda que também é um dinheiro de curto prazo e que pode sair a qualquer momento.
Outro fator que tem contribuído para a entrada de recursos de estrangeiros no país é a percepção de que a taxa de juro nos Estados Unidos deve subir somente no final do ano e, mesmo assim, num ritmo lento. “A taxa de juros nos EUA é o principal driver no mercado internacional e nossa expectativa é que deve acontecer no quarto trimestre. A desaceleração da economia chinesa, outro foco de atenção, já está no preço”, pondera.
A consultora de investimentos da Órama Investimentos Sandra Blanco observa que a maior captação desses fundos reflete a migração de recursos da poupança, com investidor buscando maior rendimento. “Enquanto a taxa (Selic) estiver neste patamar à tendência deve continuar. A vida do investidor fica muito mais fácil, ele ganha de 10% a 13% sem correr risco”, diz, ressaltando, no entanto, que este não é um rendimento real, porque a inflação está alta. “Mesmo assim, o investidor consegue preservar o poder de compra, sem risco. A rentabilidade dos fundos é quase o dobro da poupança”, afirma.
Ela também concorda que o investidor estrangeiro está melhorando o apetite por fundos domésticos, de curto prazo, e que permitem a saída ao menor sinal de estresse. “É dinheiro de oportunidade. Há uma liquidez abundante. O estrangeiro melhorou o humor e vem buscar retornos aqui. Ele vê que têm empresas boas, que sofreram bastante, tiveram seus preços reduzidos, mas têm boas perspectivas de melhorar”, diz, se referindo aos fundos de ações que, embora ainda apresentem captação negativa, sinalizam recuperação.
O diretor de renda fixa da Queluz Asset Management, Luiz Augusto Rego Monteiro, pondera ainda que a perspectiva de um cenário mais promissor de longo prazo contribui para atrair o investidor para o fundo de ações. “O cenário brasileiro vem melhorando, a expectativa de longo prazo é melhorar. Tudo isso é suficiente para o investidor externo, que enxerga oportunidade em bolsa e já começa a voltar para os fundos de ações”, afirma.