Por monica.lima

São Paulo - Se por um lado as incertezas sobre a economia e o cenário político têm afastado o investidor pessoa física das opções de investimentos mais voláteis, como a Bolsa, por outro, o atual patamar da taxa Selic tem contribuído com os que querem rentabilidade sem risco. Este é o caso do Tesouro Direito. A quantidade de pessoas físicas (PF) que aplicam nos títulos do Tesouro está se aproximando de meio milhão e quase empatando com o número de PF que investem na Bolsa.

Segundo o último balanço divulgado pelo Tesouro, em março o número total de investidores cadastrados no programa atingiu 484.275, alta de 23,4% em relação ao mesmo período do ano passado. Na Bolsa, o total de pessoas físicas em abril era de 559.703 pessoas.

Além deste número positivo, as vendas mensais em março do Tesouro Direto foram recorde, atingindo R$ 1 bilhão. Até então, o mês com maior volume de vendas tinha sido janeiro de 2014, com R$ 651,1 milhões. Os resgates totalizaram R$ 457 milhões, resultando em emissão líquida de R$ 544,7 milhões. Com esse desempenho, o estoque do programa cresceu 4,90%, em relação à fevereiro, e chegou a R$ 16,72 bilhões. De acordo com o Tesouro, o resultado reflete as mudanças sofridas pelo Programa, que simplificou o nome dos títulos, modernizou o site e passou a oferecer a possibilidade de recompra diária. Os dados de abril serão divulgados no dia 25.

Para o diretor de investimentos da TOV Corretora Pedro Afonso, além desta mudança, que contribui para atrair o investidor, o baixo valor do tíquete é outro diferencial para quem busca bom retorno. No Tesouro Direto é possível fazer aplicação a partir de R$ 30,00.

Para o administrador de investimentos Fábio Colombo, o investidor acaba vendo no Tesouro Direto uma opção interessante em termos de custo e retorno, que normalmente ele não consegue num banco ao fazer um investimento de baixo valor. “Essa é a grande vantagem ao comprar títulos públicos, você consegue com valores pequenos taxas competitivas, comparadas a de grandes investidores”, diz, acrescentando ainda que a geração mais jovem, mais familiarizada com a internet, é o principal público que migra para este tipo de aplicação. Segundo dados do Tesouro, a faixa etária que mais investe no segmento têm de 26 a 35 anos.

Colombo pondera, no entanto, que essa opção pode perder a vantagem se ela for resgatada antes do prazo. “O problema desses títulos é que são de longo prazo. Se no meio do caminho você resolve resgatar e o juro oscila, pode ter marcação a mercado desfavorável quando for resgatar”, alerta.

Afonso ressalta que num ambiente com taxa de juro em alta o investidor sempre procura retorno com menos risco. “É natural este movimento considerando o atual patamar da Selic”, diz, acrescentando ainda que este é o ano não só dos títulos do Tesouro Direto mas, do segmento de renda fixa. “Este é um cenário favorável para a renda fixa como um todo. No caso do Tesouro Direto ele vem se popularizando e o produto oferece uma boa educação financeira. Isso vem despertando o interesse do investidor que não quer se posicionar em ativos com mais risco, como a Bolsa”, diz.

Neste caso, o diretor da TOV lembra que também está havendo uma procura maior pelas Letras de Crédito do Agronegócio e Imobiliária (LCA e LCI), que são investimentos isentos de impostos. “O governo já sinalizou que poderá acabar com a isenção, mas ainda não tem nada de concreto”, ressalta. Ele lembra que esses investimentos são lastreados em crédito agrícola e imobiliário, mas o que se vê é uma escassez no mercado. “Isso pode significar duas coisas. A primeira é que as empresas dos setores não estão investindo e, por isso, não estão buscando crédito. A segunda, é que o bancos estão mais restritivos e menos dispostos a conceder crédito”,diz.

Com relação à Bolsa, Afonso ressalta que existem boas oportunidades, mas para que o investidor se sinta atraído a voltar para o segmento será necessário que as taxas de juros voltem a cair e que seja feito trabalho mais intenso de educação financeira. “O investidor ainda tem dificuldade em entender a Bolsa. Quando ele decide comprar a parte de uma empresa, ele precisa analisar diversos fatores como a área de atuação, o cenário macroeconômico, se a empresa é exportadora ou não. É muito diferente de quando ele resolve compra um título do Tesouro ou mesmo um fundo de renda fixa”, explica.

Colombo também concorda que a Bolsa tem boas opções de investimentos. De acordo com ele, num investimento de longo prazo é possível até o rendimento superar os títulos do Tesouro. “Embora tenha registrado uma alta importante nos últimos dois meses, a Bolsa ainda está num patamar muito baixo. Quem quiser fazer aplicação de longo prazo, mais de cinco anos, pode ter retorno superior aos títulos do Tesouro”, diz, acrescentando ainda que para as pessoas que têm pouco conhecimento sobre o mercado de renda variável o ideal é buscar uma instituição financeira e entrar na Bolsa via fundo indexado ao índice Ibovespa ou IBX, por exemplo.

Menos otimista, o gestor da Humaitá Investimentos Frederico Mesnik, avalia que o retorno da pessoa física para a Bolsa vai além da educação financeira. Segundo ele, é necessário que haja uma melhora na confiança do empresário e do consumidor e que a economia comece a dar sinais de recuperação, para que a Bolsa volte a interessar a este público. “Quando a população começar a ver essa melhora ela começará a voltar”, pondera.

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