Por douglas.nunes

As gestoras independentes irão enfrentar uma série de desafios para captar recursos este ano. A conclusão faz parte do levantamento feito pela Moody’s Investors Service antecipado com exclusividade para o jornal Brasil Econômico. O estudo mostra que o fluxo de recursos desacelerou no primeiro trimestre do ano, refletindo o ambiente desafiador pelo qual o Brasil está passando. Neste cenário, o investidor torna-se menos avesso a risco, o que torna os fundos de renda fixa atrativos, em razão do atual nível da taxa Selic, de 13,25% ao ano.

De acordo com o vice-presidente e analista da Moody’s para o Grupo de Instituições Financeiras, Diego Kashiwakura, as gestoras ligadas a bancos são provedoras naturais de fundos de renda fixa, justamente, por isso, tendem a captar mais recursos. Já as gestoras independentes vão enfrentar mais dificuldades, porque elas se dedicam a classes de fundos que não são beneficiadas pelo atual ambiente de incertezas. “Não é uma vantagem das gestoras ligadas a bancos, mas elas se beneficiam do ambiente. Por isso, as independentes terão um grande desafio para fazer crescer seus ativos sob gestão”, afirma.

O executivo explica que a Moody’s faz a avaliação de algumas gestoras no Brasil e um dos aspectos relevantes é o nível de ativo sob gestão. “Esse é um dos componentes que mais impacta o fluxo e decidimos que faria sentido começar o estudo de acompanhamento formal dos fluxos da indústria de fundos e também de outros competidores mais próximos, que são a poupança e as LCIs e LCAs que tem isenção tributária”, afirma.

O estudo, que está sendo divulgado hoje para os clientes, passará a ser trimestral e o objetivo é fazer uma analise do que passou e tentar prever os próximos trimestres. “Esta é a primeira vez que estamos fazendo o estudo. Vamos publicar este estudo a cada trimestre, com atualização dos gráficos, um breve descritivo e as perspectivas para os próximos períodos”, afirma.

Kashiwakura pondera, no entanto, que apesar de enfrentar desafio para crescer, não existe uma preocupação latente por conta deste cenário com as gestoras independentes. “Temos um grande grau de confiança de que não haverá mudança significativa que possa alterar o ambiente de controle dessas empresas. Só a avaliação do ativo sob gestão não será suficiente para alterar a avaliação que fazemos dessas gestoras”, pondera, acrescentando que outras “dimensões são consideradas”.

De acordo com o levantamento, o investidor migrou o dinheiro dos fundos de ações e multimercados, que são opções mais sensíveis à crise, para opções menos arriscadas. O estudo mostra que estes dois segmentos continuarão sob pressão, dado o elevado nível da taxa juro que acaba atraindo o investidor para a renda fixa.

De acordo com Kashiwakura, a desaceleração da economia, os escândalos de corrupção envolvendo a Petrobras, a desvalorização do câmbio e a inflação deixaram o ambiente macroeconômico mais desafiador, e que acabou contribuindo para a migração dos recursos.

No entanto, o executivo pondera que a indústria de fundo tem enfrentado forte concorrência das Letras de Crédito Imobiliária e do Agronegócio (LCIs/LCAs) e da poupança, em razão da isenção tributária. Para o executivo, este cenário deve se manter nos próximos três a seis meses, com os investimentos isentos e os fundos de renda fixa atraindo o interesse do investidor. “Nos próximos meses continuaremos vivendo em um ambiente ainda incerto e o investidor tem a tendência a adotar uma postura mais conservadora, que tende a privilegiar esses segmentos”, avalia, ressaltando que o fluxo continuará forte para LCI e LCA no longo prazo, mas, no caso da poupança, as retiradas devem continuar.

Ele ressalta ainda que o fato de as famílias estarem mais endividadas, a queda no nível do emprego e a pressão inflacionária tendem a reduzir a capacidade de investimento. “Essas questões podem pressionar a capacidade das famílias de poupar e podem ser um elemento importante na questão dos fluxos para qualquer desses investimentos”, afirma.

O executivo avalia ainda que um segmento que continua bastante resiliente, apesar das flutuações, é o de fundos de previdência que são representados pelos Plano de Gerador de Benefícios Livres (PGBL) e Vida Gerador de Benefícios Livres (VGBL). “Quando você olha cada trimestre verifica que eles continuam captando recursos e imagino que irá continuar nesta toada nos próximos períodos”, diz, acrescentando que isso reflete o maior amadurecimento das pessoas em relação ao produto. “Parece que o mercado atingiu maturidade em entender que este é um veículo interessante para poupar no longo prazo. É um dos segmentos que vem ganhando importância com o tempo”, pondera.

O estudo mostra ainda que as gestoras ligadas a bancos têm sob gestão R$ 2,2 trilhões (83%) e as independentes, R$ 465 bilhões (17%). Para Kashiwakura, não deve haver mudança significativa no total administrado entre elas. “Não se altera muito, talvez algum incremento na proporção dos gestores ligados a bancos. Deve se manter mais ou menos nesta proporção”, afirma.

Você pode gostar