Por monica.lima

São Paulo - A política monetária restritiva que o Banco Central (BC) tem adotado para tentar segurar a inflação começa a dividir o mercado sobre o real efeito na economia. Amanhã começa o primeiro dia de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) e a expectativa é de que a autoridade monetária promova um aumento de 0,50 ponto porcentual na Selic, passando a taxa básica para 13,75% ao ano. No entanto, há economistas que esperam uma alta mais moderada, de 0,25 ponto.

Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, mesmo com o Produto Interno Bruto (PIB) em queda, ainda não é possível desacelerar o ritmo de apreciação da taxa básica. Na sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o PIB referente ao primeiro trimestre do ano apresentou retração de 0,2% ante o quarto trimestre de 2014, registrando a maior sequência negativa da série histórica. Embora, ruim, o resultado veio abaixo da expectativa do mercado.
Para Agostini, o BC deve elevar a taxa em 0,50 pp na quarta-feira e, para a próxima reunião, em julho, só será possível fazer uma estimativa após a divulgação da ata da reunião. “A aposta majoritária é de que seja o último aumento, mas vai depender da comunicação do BC”, avalia.

Para o economista, ao contrário de muitos dos seus pares que consideram que o BC tem que focar no crescimento econômico, este discurso não funciona em países emergentes. “Não dá para ter discurso puritano. O BC dos países emergentes tem que fazer a inflação ficar no lugar dela. Quando ela escapa tem que dar chicotada, e isso se faz com os juros”, afirma, acrescentando que não é o que acontece em países desenvolvidos. “Em países desenvolvidos, o prisma do BC é com o crescimento econômico, é outra realidade”, afirma.

Agostini concorda que o aumento da Selic prejudica a economia, mas afirma que é necessário para trazer a inflação para um nível mais satisfatório. “A inflação é de serviço, promovida pelo tarifaço dos administrados. A inflação só vai ceder quando afetar fortemente os preços livres e o mercado de trabalho. Infelizmente, ainda precisa apertar mais”, afirma.

O analista da Clear Corretora Raphael Figueredo estava estimando um aumento de 0,25 ponto, mas mudou sua aposta para 0,50 pp. “Mudei por conta dos indicadores de inflação”, diz. Ele lembra que na última ata do Copom o colegiado manteve o mesmo discurso da anterior, de que não mediria os esforços para conter os preços. “Com a ata igual, deve vir mais 0,50 ponto e depois a gente vai ver se para ou não, mas ainda acho que seja necessário mais uma alta de 0,25 ponto”, pondera.

Figueredo ressalta, no entanto, que daqui a dois meses talvez já seja possível vislumbrar um cenário um pouco mais positivo. Isso pode ocorrer, principalmente, em razão do pessimismo verificado no início do ano. “Essa política de juro alto pode surtir efeito. Além de tirar dinheiro da economia você tem a questão de perspectiva. No início do ano, o pessimismo foi bem grande. Todo mundo que emprega estava desanimado, começaram a investir menos, não contrataram por preocupação. Foi um primeiro semestre perdido. Mas no segundo, podemos começar a ver esta mudança de perspectiva”, estima.

Mais modesto, o mestre em economia e professor da FECAP André Roncaglia de Carvalho, espera um aumento de 0,25 pontos por três motivos. Primeiro, porque queda do PIB veio abaixo do esperado pelo mercado. Segundo, porque houve uma desaceleração no preço dos aluguéis e, por último, uma descompressão dos preços dos alimentos.

O professor ressalta que o desejo é de que a autoridade monetária não elevasse o juro, porque os efeitos sobre a inflação são limitados e levam a uma desaceleração maior da economia. Mas, outra coisa é o comportamento do BC. “Dado esses três fatores, a minha percepção é que a alta será de 0,25 pp, metade do que o mercado está esperando por sinais de descompressão. A inflação é cíclica, tem momentos em que cresce mais e, no segundo semestre tende a diminuir”, diz.

Para Carvalho, existem indicadores suficientes para que o BC seja mais moderado também na reunião de julho, no entanto, isso irá depender do comportamento do câmbio. “Se o câmbio passar de R$ 3,20 começa a pressionar fortemente os preços, o que justificaria um novo aumento”, afirma.

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