Por douglas.nunes

Enquanto os grandes bancos lutam para mover suas pesadas estruturas rumo à digitalização, novos entrantes — empresas conhecidas como start ups, que recebem recursos de investidores para desenvolver projetos inovadores - vão silenciosamente ocupando essas lacunas no setor financeiro. Além de atender às demandas dos clientes por mais agilidade e experiências mais amigáveis,esses novos entrantes também acenam com taxas de empréstimos e tarifas mais baratas.

O site de empréstimos online Geru e o emissor de cartão de crédito Nubank são dois exemplos. Também o Banco Original,do grupo J&F - dono do frigorífico Friboi - decidiu adotar o modelo digital para se relançar no mercado. O Original é resultado da fusão do antigo Banco JBS com o Matone, e era especializado em crédito ao agronegócio.

O Nubank, um emissor de cartões de crédito Platinum da bandeira Mastercard surgiu exatamente para ocupar a lacuna que os bancos vem apenas tateando, dizem David Vélez, fundador e presidente do Nubank e Cristina Junqueira, co-fundadora e diretora. Sem revelar as taxas cobradas, Velez garante, contudo,que são bem menores do que as dos concorrentes: “Apesar de oferecer transparência e serviço de qualidade, não temos agências”, diz. As agências representam um custo fixo elevado que encarece a operação.

“Jovens com menos de 30 anos, que são a metade da população brasileira, tem hábitos diferentes e não querem nenhum relacionamento direto com banco, não gostam de ir a agências. Eles procuram uma experiência diferente e até agora não tinha essa oferta no Brasil”, explica Vélez.

O Nubank se define como 100% digital — mas o cartão de plástico é físico. O cliente baixa um aplicativo em seu smartphone e se cadastra, aguardando por uma aprovação de crédito. Segundo os executivos, 200 mil pessoas já pediram o cartão,mas 100 mil ainda estão na fila de espera pela aprovação de crédito. Dos outros 100 mil, uma parte foi recusada e outra, aprovada - mas eles não revelam quantos.
O Nubank começou a operar em abril do ano passado. A empresa é uma instituição de pagamento emissora de um instrumento pós-pago, segundo definem as novas regras do Banco Central, editadas em dezembro de 2013 e em vigor desde o ano passado.

“Há três perfis de clientes: o que tem o crédito aprovado na hora, o que tem o crédito recusado e os que estão no meio termo”, explica Cristina. O Nubank desenvolveu uma modelagem de aprovação que ainda está em implantação. Por enquanto, a resposta ao cliente sai em três meses; com o tempo, diz Cristina, a empresa vai constituir uma base de dados mais robusta e as aprovações devem ficar mais rápidas. Segundo ela, até agora a propaganda foi feita apenas na base do boca-a-boca.

O Nubank tem parcerias com bancos para financiar o rotativo quando um cliente o utiliza. Segundo Velez, a oferta de outros produtos financeiros não está descartada. “Temos essa ambição, sim”.

O site Geru - a palavra é uma gíria para dinheiro, em japonês — estreou em março, depois de dois anos de desenvolvimento. A ideia inicial foi do economista Sandro Reiss, que se juntou a dois outros sócios para levar adiante aqui no Brasil um modelo semelhante ao utilizado,desde 2006, em diversos países: o empréstimo online ‘peer-to-peer’ — diretamente de pessoa a pessoa.

Aqui, porém, a legislação não permite a relação direta entre gente que pretende tomar dinheiro emprestado e investidores que emprestam — por isso, o Geru fechou parceria com um banco, o Bracce.

O banco, que era especializado na estruturação de operações para médias empresas , foi escolhido em 2014 e, no meio do caminho, foi comprado pelo AndBank, o banco da realeza de Andorra. Segundo Reiss, a escolha do banco foi devido a sua plataforma tecnológica de ponta.
Assim como o Nubank, o Geru acena com taxas e prazos melhores do que nos bancos. O valor vai de R$ 2 mil a R$ 35 mil;os juros variam de 25% a 80% ao ano e os prazos, de 12 a 36 meses. No cartão e cheque especial, por exemplo, passam de 300% ao ano.

“Nosso foco é atingir clientes com bom histórico de crédito e familiaridade com internet”, afirma, sem determinar uma faixa etária específica como alvo.

O modelo de crédito desenvolvido pelos sócios do Geru envolve 35 níveis de classificação de risco, e as taxas são cobradas de acordo com essas faixas. “O cliente precisa, também, ser brasileiro, maior de 18 anos, apresentar documento com foto, CPF e RG e um comprovante de endereço. Infelizmente, não podemos atender a todos”. Por essas exigências, também, a plataforma do Geru funciona apenas na web, e não em aplicativos para smartphones.
Reiss também não divulga ainda um balanço da operação, mas afirma que os sócios estão bastante satisfeitos com os resultados. Mas afirma que o objetivo do site, ao oferecer taxas mais baixas, é servir de ferramenta para os clientes planejarem e administrarem sua vida financeira, trocando, por exemplo, dívidas mais caras por um empréstimo no Geru.
O Banco Original, por sua vez, não atendeu aos pedidos de entrevista até o fechamento desta edição. O banco é controlado pela holding J&F, dona, ente outras, do frigorífico Friboi e da Eldorado Celulose. “O Original já nasceu digital para descomplicar sua relação com o dinheiro”, diz o slogan na página do banco na internet. “O Original tem tudo o que seu banco tem, menos fila e burocracia”, promete. O banco também oferece taxas mais baixas e acesso a investimentos a partir de R$ 5 mil

Outro atrativo do banco é ter Henrique Meirelles, ex-presidente do BC, como presidente do seu conselho de administração. A presidência executiva é ocupada por Jackson Ricardo Gomes, ex-diretor de riscos do Itaú.

Clientes impulsionam convergência digital, diz pesquisa

São os clientes que estão impulsionando a convergência digital do setor financeiro. A conclusão é de uma pesquisa realizada recentemente pelo Grupo GFT, provedor global de serviços de Tecnologia da Informação para o setor financeiro. Ao mesmo tempo, a pesquisa descobriu também que ainda falta muito a fazer.

A pesquisa foi realizada com bancos de diversos países. No Brasil, a estratégia de digitalização das grandes instituições financeiras se dá através do constante investimento em canais digitais, impulsionado pelo forte crescimento do uso de dispositivos móveis. "Entretanto, ainda existe um universo de oportunidades a serem exploradas no bancos brasileiros, principalmente no setor de meios de pagamentos", destaca Raphael Yuri Carvalho, account executive sênior da GFT Brasil.

Segundo Marika Lulay, diretora operacional e membro do Conselho Executivo do Grupo GFT, os bancos estão repensando radicalmente a sua estratégia. No passado, o produto era sempre o centro das atenções. “Agora, o cliente está tomando o lugar central”.
A convergência digital tem tornando possível a entrada de novos concorrentes no setor bancário — de pequenas start ups a corporações globais, como o PayPal e Facebook, diz a pesquisa. Para enfrentar esse assédio, os bancos estão focando em oferecer uma experiência consistente, mas estão mudando em ritmos diferentes”, disse o diretor para a América Latina do GFT, Marco Santos.

Dos bancos que participaram da pesquisa, 48% esperam ter implementado completamente sua estratégia de digitalização dentro de três a cinco anos. Já para 36% deles, o prazo seria de um a dois anos. Dos entrevistados, 83% dizem que já estão trabalhando em sua estratégia ou deram início a um ou mais projetos; pouco mais de 7% já contam com uma gama completa de ofertas disponíveis no mercado.

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