Por monica.lima

São Paulo - Pelo segundo mês consecutivo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) revisou para pior os indicadores econômicos do Brasil. Para a taxa Selic, a expectativa é de que ela encerre o ano em 14%, ante projeção anterior de 13,50%. O Comitê de Acompanhamento Macroeconômico da Anbima espera que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) aumente a taxa em 0,50 ponto percentual (p.p.) hoje, para 13,75% e promova um novo ajuste em julho, de 0,25 p.p.

Embora o Comitê da Anbima espere que a taxa entre em trajetória de queda em 2016, a expectativa agora é que a redução seja ainda mais modesta e a Selic termine o ano que vem em 12,75% ante a projeção anterior de 12,58%.

De acordo com o presidente do Comitê, Marcelo Carvalho, um mês atrás a ideia dos seus integrantes era de que o juro não subiria tanto e o processo de queda teria início neste ano. “Esta hipótese está afastada”, afirma, ressaltando que a mudança de percepção reflete as recentes sinalizações dadas pela autoridade monetária.

Carvalho lembra que os diretores da instituição têm enfatizado os efeitos da inflação que foi causada pela desvalorização do câmbio e o ajuste dos preços administrados. “Esses eventos provocam choque e o BC quer segurar isso este ano e evitar que espirre para 2016”, diz, lembrando ainda que o BC tem enfatizado sua determinação em trazer a inflação para o centro da meta em 2016, que é 4,5%. “Os avanços não são suficientes e o BC tem enfatizado que continuará sendo vigilante e essas questões levaram a turma a rever para cima a projeção”, afirma.

E não foi só o juro que teve a projeção revisada para pior: a inflação e o Produto Interno Bruto (PIB) também foram alterados. Para inflação, apesar da atividade mais fraca e da taxa de juro em alta, a projeção ainda está acima da meta, e o IPCA foi revisado de 8,22% para 8,47% este ano. Para 2016, houve um leve recuo mas, ainda assim, muito acima da meta: passou de 5,70% para 5,60%.
“A percepção é que é muito difícil trazer a inflação para a meta”, diz, destacando a inflação de serviços e a questão das expectativas. “Portanto, o cenário base é de que a inflação caia, mas será difícil chegar à meta de 4,5%”, afirma. Para o IGP-M a expectativa passou de 6,52% para 6,60%. Para o ano que vem, se manteve em 5,80%.

Para o PIB, a expectativa passou de 0,95% para 0,79% este ano e, para 2016, de 1,99% para 1,60%. De acordo com o executivo, apesar do crescimento no primeiro trimestre não ter sido tão ruim quanto se esperava, a expectativa para o restante do ano continua sendo negativa, com consenso de que o segundo trimestre será pior que o anterior. “Os dados que saíram até agora indicam queda mais intensa da atividade econômica. O segundo semestre é incerto, principalmente para o terceiro trimestre, mas, de qualquer forma, a ideia é de um segundo trimestre mais fraco”, diz.

Carvalho ressalta que as duas principais consequências da trajetória pior do PIB são no desemprego e nas contas fiscais. No desemprego, os números veem piorando, o que também afeta 2016. A projeção para este ano passou de 6,1% para 6,5% e, para 2016, de 6,9% para 7,5%. “Essa é a primeira consequência de um crescimento fraco: o desemprego sobe mais do que o previsto”, diz, ressaltando que a segunda são as contas do governo.

“A arrecadação tende a sofrer e revisamos o superávit de 0,95% para 0,79%, abaixo da meta forma de 1,2% do PIB”, explica. O executivo ressalta, no entanto, que há uma “melhora visível das contas fiscais que estavam no vermelho”. Mas a melhora fica aquém da meta oficial proposta pelo governo. “Para 2016 também ficou um pouco mais complicado. Nossa projeção passou de 1,99% para 1,6% do PIB”, revela.

Para o dólar PTax, a expectativa foi mantida em R$ 3,20 neste ano mas, para o próximo foi elevada de R$ 3,35 para R$ 3,39.

Na contramão, Anefac prevê alta de 0,25 p.p. dos juros hoje

Ao contrário do que espera a maioria dos analistas do mercado, a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) espera uma nova elevação da taxa básica de juros em até 0,25 ponto, de 13,25% para 13,50% ao ano.

Segundo análise do diretor de Estudos e Pesquisas Econômicas da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira, com elevação da Selic, a poupança continuará interessante frente aos fundos de renda fixa, mas apenas em fundos cujas taxas de administração sejam maiores que 2,50% ao ano.

Com a Selic em 13,50% ao ano a poupança terá rendimento mensal de 0,61% ao mês ( 6,17% ao ano + TR). Para taxas maiores, os fundos pagam, líquido, de 0,65% a 0,85%, dependendo do prazo da aplicação.

Oliveira diz, porém, que seja qual for a elevação da Selic, a mesma pouco impacto terá nas taxas de juros das operações de crédito. Entretanto, considerando todas as elevações ocorridas desde março de 2013 quando o Banco Central começou a elevar a taxa básica de juros, as mesmas já causam grande impacto nas taxas.

Enquanto a Selic subiu de 7,25% para 13,2% até o mês passado, as taxas de crédito passaram de 24,8% para 35% ao ano.

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