São Paulo - A seguradora de risco de crédito de origem francesa Coface registrou um forte aumento da inadimplência dos clientes brasileiros nos primeiros cinco meses do ano. Segundo a presidente da companhia, Marcele Lemos, o aumento das notificações de atrasos nos pagamentos aumentou 45% desde setembro.
Os atrasos são dos compradores de bens e serviços dos clientes da Coface. A Coface vende apólices que asseguram aos seus clientes o recebimento de vendas feitas a prazo. Se o comprador não pagar, a seguradora paga.
Marcele informa, ainda que a quantidade de pedidos de recuperação judicial dos clientes de seus clientes subiu mais de 28 vezes no mesmo período. “Até meados do ano passado, era um caso a cada quatro meses; no final do ano esse número dobrou, mas desde janeiro vemos cerca de sete pedidos todos os meses”, informa.
Segundo ela, o mais assustador é que os problemas estão generalizados, em todos os setores. “No ano passado começou com o setor de eletrodomésticos, mas agora é geral, do automotivo à celulose. Só o de alimentos está melhor”.
Mas se o risco aumentou, por outro lado a Coface espera faturar mais com isso neste ano. O seguro de crédito não é um produto muito popular no Brasil, ao contrário. “Empresário brasileiro vê seguro apenas como mais um custo”, diz Marcele. Mas, com o crescente aumento dos calotes, ela acredita que a importância desse tipo de garantia vai aumentar.
Segundo a executiva, as cotações (consultas, no jargão do mercado segurador) já aumentaram 40% e os novos contratos, 8,5%. “Para uma economia em recessão, esse é um índice de crescimento muito elevado”, comemora a executiva.
Quando o cliente notifica um atraso, a Coface tem 150 dias para seguir com uma cobrança amigável e 30 dias para indenizar o cliente. Se não conseguir receber em 150 dias, entra com uma ação judicial.
A executiva também vê um aumento da procura dos clientes pelas apólices em decorrência do aumento da seletividade dos bancos. Como eles estão mais restritivos na hora de dar crédito, fica mais difícil para os clientes dos seus clientes conseguirem empréstimos nos bancos e comprar a vista — ou seja, os vendedores estão sendo obrigados a dar mais prazo para seus compradores para conseguir vender. E quanto mais prazo dão,mas precisam de seguro contra atrasos no pagamento.
“As apólices de seguro de crédito também servem como garantia para os nossos clientes conseguirem descontar as duplicatas nos bancos”, diz Marcele. Ao mesmo tempo que reduzem o risco da operação, ainda reduzem a parte que os bancos precisam contabilizar no balanço. Ou seja, reduz a alavancagem do banco com o empréstimo e, consequentemente,a necessidade de capital para atender as exigências do acordo de Basileia, que está mais rígido.
Pelo serviço prestado, a Coface cobra em média algo como 0,15% do valor das vendas. A maioria dos clientes da Coface são multinacionais — 65%, segundo Marcele.
Para dar o seguro, a Coface analisa os riscos de crédito dos clientes e estabelece um “limite”. O custo da apólice é influenciado também pelo “rating” atribuído pela Coface ao país — atualmente, o do Brasil é A4, depois de ter sido rebaixado de A3 no ano passado. Em março, ganhou perspectiva negativa. A escala da Coface vai de A1 (o melhor) até A4, depois B, C e D (o pior).
A Coface está no Brasil há 17 anos, e começou com seguro de crédito a exportação — ou seja, garantia para o exportador brasileiro que ele receberia do importador lá fora. Depois, passou a atuar no seguro de crédito doméstico e hoje o seguro à exportação representa apenas 30% do faturamento da Coface Brasil.
A empresa obteve em 2014 R$ 232 milhões em prêmios. É a maior das seis seguradoras de crédito em operação no Brasil — todas multinacionais — com 48% do mercado.
Coface alerta clientes para recessão no país
A economista da Coface Brasil, Patrícia Krause, divulgou ontem um relatório alertando clientes sobre o mau desempenho da economia brasileira. Para ela, o PIB vai cair 1% neste ano — e crescer apenas 0,5% em 2016.
“A retração de 0,2% no primeiro trimestre veio melhor do que os 0,5% esperados, mas no segundo trimestre a situação não vai melhorar. Isso vai colocar o Brasil tecnicamente em recessão”, diz, argumentando que a definição de recessão técnica são dois trimestres seguidos de contração do PIB.
Para justificar sua expectativa de nova contração, Patricia lembra o esforço pelo ajuste fiscal que vem sendo empreendido pelo ministro da Fazenda “pro business” e as taxas de juros elevadas.
O texto é claramente escrito para atualizar leitores estrangeiros sobre a atual conjuntura local.
A economista acredita porém que as medidas do governo devem ser suficientes para evitar que as agências de rating revisem a nota do Brasil, que está em revisão, para grau especulativo. A própria Coface rebaixou a sua classificação dada ao país no ano passado e em março, a colocou com perspectiva negativa.
Patricia afirma que o Brasil precisa de novos vetores de crescimento e uma forte implementação de reformas para voltar a crescer. Além disso, cita uma melhora no clima para os negócios, e investimentos mais pesados em infraestrutura. “Esses continuam sendo os dois maiores desafios do país”, acredita a economista da Coface Brasil.