Despenca o ganho de quem investiu FGTS em ações da Petrobras
Rendimento, que já chegou a 1.760% em maio de 2008, cai para 312%. Este ano, denúncias de corrupção acentuaram perdas
Por parroyo
Os trabalhadores que optaram por investir metade do FGTS em ações da Petrobras em agosto de 2000 chegaram a se deparar, no extrato, com uma acumulação de rentabilidade superior a 1.760% nos tempos áureos da companhia, em maio de 2008, um ano depois de o governo anunciar oficialmente a descoberta de petróleo no pré-sal. Entretanto, os ganhos diminuíram e ,até o mês passado, a rentabilidade do fundo FMP da Caixa Econômica Federal (CEF) com melhor desempenho foi de 312,74%. Se descontada a inflação acumulada nesses 14 anos (145%), o ganho do investidor é de 167,74%.
Os fundos têm praticamente todos os recursos aplicados em ações ordinárias da estatal (PETR3), com direito a voto, que foram adquiridas com desconto de 20% - a R$ 34,46- para os primeiros 310 mil trabalhadores que optaram por comprar papéis da companhia com os recursos do FGTS, há 14 anos. No fechamento da sessão de sexta-feira, dia 12, a mesma ação terminou cotada a R$ 9,46. No acumulado de 2014, a desvalorização é de 42,29%. Os papéis preferenciais, por sua vez, (PETR4) recuam 40,12% no ano, negociados a R$ 9,61.
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A desaceleração da economia que reflete de maneira negativa na bolsa de valores, a ingerência política e, principalmente, os escândalos de corrupção na petrolífera têm pressionado seus papéis. Pela primeira vez desde abertura de capital, a estatal deixou de apresentar o balanço dentro da data legal. A justificativa foi que a operação Lava Jato, da Polícia Federal, criada para investigar denúncias de irregularidades na companhia, poderia impactar os demonstrativos e, por isso, a auditoria externa se eximiu de assinar o resultado referente ao terceiro trimestre deste ano. Uma versão do balanço não auditada deve ser divulgada nesta sexta-feira.
Embora a rentabilidade dos fundos tenha diminuído, o percentual ainda ganha da inflação, que acumula 145% de agosto de 2000 até o fim do mês passado, de acordo com cálculo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Ou seja, o ganho real do investidor cotista do fundo FMP“Caixa Petrobras IV”, com rendimento acumulado de 312,74% no mesmo período, foi de 167,74%. “Esse ganho já foi muito maior em alguns momentos, mas mesmo com as perdas recentes, quem optou por comprar ações fez um bom negócio do ponto de vista técnico, matemático, uma vez que rendimento está maior que o da inflação”, avaliou o vice-presidente da Anefac, Miguel Ribeiro.
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A lucratividade dos fundos é maior que a da ação ON, diferença explicada pelo desconto no preço das ações no momento da aquisição, incorporação dos juros sobre capital próprio e dividendos distribuídos pela estatal. De acordo com cálculo do Instituto Fundo Devido ao Trabalhador, que compara o rendimento das ações ON com o FGTS no período de agosto de 2000 até o dia 10 de dezembro, já considerando os desdobramentos dos papéis que aconteceram em 2005 e 2008, os ativos renderam 132% enquanto a lucratividade do FGTS foi de 93%, ambos abaixo da inflação.
O conselho de Ribeiro, da Anefac, para quem está comprado nos papéis da Petrobras com vista no horizonte de longo prazo é manutenção da posição. Ele acredita que, nos próximos meses, os ativos podem ser ainda mais pressionados pelos desdobramentos das denúncias de corrupção no Brasil e nos Estados Unidos. “Os desvios de recursos podem resultar em deságios no balanço da companhia e aumento do endividamento. Por isso, quem irá precisar do dinheiro investido nos primeiros meses do ano que vem, é melhor realizar a venda agora, em meio ao risco de maior desvalorização dos papéis”, disse Ribeiro, para quem adquirir ações da companhia agora é muito arriscado, mesmo com o preço atrativo dos ativos.
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Já o professor de Gestão Finanaceira da Unicid, Walter Franco, afirma que é “tentador o preço da ação extremamente baixo”. Para o investidor disposto ao risco, ele recomenda a compra do papel, mas não agora. “Acredito que a ação deva chegar ao piso nos próximos meses, o que abre a possibilidade de um posicionamento de alto risco”, afirmou. No médio e longo prazo, sua expectativa para a ação é de recuperação. “Apesar de toda a problemática da Petrobras, é impensável que esse papel continue se desmanchando na bolsa por mais muito tempo”, previu.