Com um movimento ínfimo, o dólar fechou às 12h30 cotado a R$ 2,2330, em baixa de 0,04%, acompanhando a tendência externa de queda. O fechamento da BM&F não permitiu ao Banco Central realizar nem a colocação de sua ração diária de 4 mil contratos novos de swaps cambiais, nem o leilão de rolagem de parte dos títulos antigos que vão vencer no dia 1°. Essas operações serão retomadas hoje. Até quarta-feira já rolou 37% do lote de US$ 10,06 bilhões.
Fora do ar ontem, o pregão de juros futuros da BM&F terá de ajustar-se na abertura dos negócios de hoje às pressões de baixa vindas tanto do câmbio quanto do mercado secundário de títulos do Tesouro americano. As taxas da T-Note de 10 anos cederam de 2,64% para 2,62% por causa de dois indicadores ruins sobre a economia dos EUA revelados ontem. As vendas feitas pelo comércio varejista em maio cresceram apenas 0,3%, quando os economistas previam uma alta de 0,6%. E os novos pedidos iniciais de seguro-desemprego aumentaram em quatro mil na semana passada, para 317 mil.
Os DIs futuros terão de cair hoje na abertura do pregão também porque, divulgadas ontem, as vendas do comércio brasileiro não agradaram. Segundo o IBGE, o varejo vendeu 0,4% a menos em abril comparativamente a março, enquanto a mediana dos analistas previa um modesto recuo de 0,1%. Foi o pior abril desde 2001, em sequência a um mês de março onde as vendas já foram 0,5% abaixo das registradas em fevereiro. Dois meses de retração confirmam o esvaziamento das pressões de demanda sobre a inflação. As taxas futuras só não irão recuar se o BC informar logo cedo, às 8h30, um IBC-Br (índice de atividade econômica, proxy do PIB) de abril acima das expectativas. O mercado projeta estabilidade ou alta mínima de 0,1%.
Não está prevista para hoje a divulgação de nenhuma pesquisa eleitoral. Depois de conhecidos esta semana os resultados do Ibope e do Vox Populi, a próxima será a do Sensus, amanhã. O pregão de juros futuros da BM&F, o maior do país em volume de negócios, reluta em incorporar à curva futura as oscilações na preferência do eleitor detectadas pelas pesquisas de intenção de voto. A razão mais óbvia é que, a quatro meses das eleições, tudo pode acontecer. E a própria natureza técnica dos contratos não recomenda a adoção de posturas rígidas e definitivas, pois suas margens são ajustadas diariamente, por diferença.
Mesmo que um gestor acredite no fundo de sua alma que o longo reinado do PT está no fim, seria por demais imprudente assumir imediatamente posições baseadas na crença de que a política econômica sofrerá em 2015 uma guinada ao feitio das posições clássicas do PSDB. Mesmo que o mercado não viesse a punir diariamente esse gestor açodado, qual conduta deveria assumir na hipótese de vingar sua certeza de adoção de uma política econômica liberal-conservadora? Primeiro teria de supor como verdadeiras as sugestões do nome do economista Armínio Fraga como ministro da Fazenda do governo Aécio Neves. Isso pode ser até fácil.
E depois? Teria de supor que Fraga não fugirá ao figurino ortodoxo: a rigorosa reconstrução do tripé antigamente chamado de neoliberal, a conciliação harmoniosa entre o rigor monetário do regime de metas de inflação, a flexibilidade do sistema de câmbio flutuante e a austeridade fiscal. Em termos práticos, como se daria isso?
O gestor talvez se lembrasse que quando Fraga assumiu a presidência do Banco Central, em março de 1999, após malograda a âncora cambial do seu antecessor (Gustavo Franco), a primeira providência ao instituir o sistema de metas inflacionárias que vigora até hoje foi dar uma paulada na Selic. A taxa básica pulou de 25% para 45%. Isso para combater uma inflação que chegou em março a 1,10%. O feroz aperto monetário conseguiu que no acumulado de 1999 o IPCA subisse “apenas” 8,94%. Os frutos só foram conhecidos no ano 2.000, quando a inflação baixou para 5,97%, e a Selic pode cair para 19%.
Mantida hoje a mesma atitude, o que esperar de Fraga em 2015? Um forte tranco inicial na Selic, para, supõe-se, à faixa de 15%, destinado a resgatar a credibilidade do regime de metas que ele criou e implantou, e queda da taxa a partir de 2016. Ou seja, o gestor assumiria a ponta pós-fixada dos contratos futuros com liquidação ao longo de 2015 e, a partir de 2016, a ponta prefixada. Acontece que a curva futura de juros está completamente desalinhada em relação a essa expectativa. Hoje o DI futuro supõe Selic estável em 11% até o fim do ano e reinício do ciclo de alta em 2015, mas moderadamente, alçando a taxa para o degrau entre 12% e 13%. Mas mesmo o mais devoto cultor da ortodoxia liberal no íntimo seria capaz de duvidar de uma decisão tão radical como a de jogar a Selic de 11% para 15%.
Seria uma providência completamente divorciada do que acontece hoje no mundo. Os países desenvolvidos e parte dos emergentes atravessam agora um período de crescimento anoréxico e inflação moribunda. Mesmo no Brasil a conjuntura não é muito diferente disso. A economia encaminha-se para a estagnação resultante de um nível de confiança muito baixo, crédito e liquidez apertados. E a inflação, exceto pelos mecanismos de reindexação e pelos choques periódicos de oferta, também se mostra dormente. O IPCA é um atleta correndo a uma velocidade de 6% ao ano, mas completamente podre por dentro. Se for assim, desde que os fundamentos dos outros dois pilares do tripé liberal fossem resgatados, talvez não fosse necessário subir tanto a Selic.
As “medidas impopulares” já aventadas pelo postulante tucano certamente irão contemplar a redução dos gastos públicos. Um superávit primário rigoroso, despido da contabilidade criativa, atingiria uma economia cujo PIB potencial nem chega a 2%. Nessa hipótese, a curva de juros seria outra. E o câmbio? Talvez o gestor se lembrasse que o PSDB adora uma âncora cambial. A defesa do câmbio “realista” sempre foi feita pelos desenvolvimentistas do PT. De novo, a Selic não precisaria subir tanto. Diante de tantas incertezas, o melhor que o gestor deve fazer é continuar observando as pesquisas de intenção de voto como objetos de curiosidade e atenção, e não de ferramenta para a operação dos seus contratos.