Por bruno.dutra

Os mercados já fecharam mais cedo ontem torcendo para que as comemorações do 4 de Julho sejam mais demoradas que as fugazes desencadeadas por um “payroll” melhor do que o esperado. O relatório de junho do Bureau of Labor Statistics apontou a criação de 288 mil vagas de emprego, uma grata surpresa já que os analistas previam 215mil. Melhor ainda: a taxa de desemprego caiu de 6,3% para 6,1% com consistência uma vez que a população ocupada cresceu mais do que a expansão da população ativa. Na alegria do momento, a taxa do título do Tesouro de 10 anos deu um pulo de 2,63% para 2,70%, mas não se sustentou, recuando a 2,64%. O rojão estourou na mão dos apressadinhos porque prevaleceu a interpretação de que hoje a prioridade absoluta do Federal Reserve (Fed) é o pleno emprego, e este se situa em 5,25%.

O mercado de câmbio aproveitou o entusiasmo matinal das “treasuries” para puxar o dólar para cima. A moeda chegou a avançar 0,69% sobre o fechamento anterior, mas também perdeu terreno e encerrou o dia com desvalorização de 0,57%, cotada a R$ 2,2116. Por causa do jogo do Brasil, os mercados locais, já sem o referencial fundamental dos pregões americanos, irão se comportar hoje como se aqui também fosse feriado. A maior parte das operações cambiais foi fechada ontem mesmo. E o giro alto forçou o desequilíbrio pelo lado da oferta.

Movimento similar de bate-e-volta também foi descrito pelos contratos futuros de juros negociados na BM&F. A taxa para janeiro de 2016, por exemplo, no instante de pico das T-Note de 10 anos e do dólar, chegou a subir dos 11,13% do fechamento anterior para 11,21%. Depois acalmou-se para encerrar em queda, a 11,11%. A taxa do contrato preferido dos hedge funds globais, com vencimento em janeiro de 2017, bateu em 11,60%, vindo de 11,49% na quarta-feira, e fechou a 11,44%.

Se o Fed fosse, por causa do payroll, estudar a possibilidade de imprimir maior rapidez ao desmonte do seu programa de afrouxamento quantitativo, antecipando o início da contagem regressiva para a alta da taxa básica de juros, as “treasuries” não teriam parado de subir depois que alcançaram 2,70%, nem o dólar após encostar ontem em R$ 2,24. Mas não vai. As recentes manifestações da presidente Janet Yellen não passam qualquer ansiedade em alterar a política monetária. A economista não tem nenhuma inquietação de ordem inflacionária. Suas preocupações derivam de dois pontos: 1) o vasto desemprego oculto e o subemprego; e 2) a estabilidade financeira.

Por estabilidade financeira, entenda-se o seguinte: não quer que uma decisão precipitada de aumento das “fed fund rates” arraste à falência, revivendo a crise de 2008, instituições e investidores que utilizaram a liquidez hiper-abundante fornecida pelos programas do Fed para especular com ativos (ações nos pregões americanos, commodities, títulos e moedas de países emergentes). Malconduzido, o aperto monetário previsto para o segundo semestre de 2015 pode jogar o mundo em uma nova crise, sabotando a retomada dos EUA. Os emergentes amargam baixo crescimento, a China luta para crescer ao menos 7,5% este ano e a Europa não consegue tirar as quatro rodas do areal. Em sua reunião de política monetária de ontem, o Banco Central Europeu (BCE), depois de manter a taxa básica em 0,15%, se disse pronto a adotar novas providências creditícias se as adotadas há um mês não se mostrarem suficientes.

Enquanto todos os indicadores sobre a saúde da economia americana não andarem juntos, sinalizando sem vacilação a inevitabilidade de uma correção monetária, o Fed persistirá em sua política acomodatícia. E mesmo no dia do “payroll”, os outros indicadores voltaram a ser contraditórios. O índice de gerentes de compras (PMI) do setor de serviços, apurado pela Markit, avançou de 58,1 em maio para 61,0 em junho, mas a boa notícia não foi confirmada por outro indicador do setor, o ISM, que cedeu de 56,3 para 56. O saldo foi inconclusivo.

Como as forças naturais atuantes ontem no câmbio pressionavam a moeda para baixo, o mercado relativizou a pesquisa de intenções de voto divulgada pelo Datafolha. O crescimento da candidatura oficial impulsionaria tanto o dólar quanto os juros futuros. Apesar da preferência por Dilma Rousseff ter avançado de 34% para 38% — uma expansão de quatro pontos, enquanto os seus dois principais opositores subiram um (no caso de Aécio Neves, de 19% para 20%) e dois (no de Eduardo Campos, de 7% para 9%), o mercado preferiu ver a pesquisa pelo lado mais amigável a si próprio, o da suposta consolidação da necessidade de um segundo turno.

O fato de a simulação de um segundo turno feita pelo Datafolha indicar vitória de Dilma tanto contra Aécio quanto disputando com Campos foi atenuado. O dólar e os juros costumam cair quando as sondagens são mais favoráveis ao candidato tucano com base na suposição de que, eleito, Aécio promoverá um choque positivo de expectativas, entrarão mais dólares na economia, as empresas voltarão a investir e a inflação cairá.

Como o dólar não sustentou ontem a alta de 0,88% conquistada na quarta-feira em resposta à decisão do BC de sinalizar a ampliação dos resgates de swaps cambiais a vencer, a autoridade não precisa, por enquanto, alterar os seus planos. Em princípio, do lote integral de US$ 9,457 bilhões que será liquidado no dia 1° pretende rolar US$ 7,35 bilhões. Não renovaria hedge equivalente a US$ 2,08 bilhões, um aumento de 60% em relação ao resgate líquido ocorrido na terça-feira. Pode fazer isso porque, até agora, o teto de sua banda informal de flutuação do câmbio, de R$2,25, não está sob ameaça.

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