Por bruno.dutra

A zeragem parcial de posições que supunham a retomada do ciclo de alta no ano que vem provocou quedas nos contratos negociados para janeiro de 2016 e janeiro de 2017. O primeiro cedeu de 11,10% para 11,05%, e o segundo de 11,41% para 11,36%. Não veio nenhuma sinalização. A decisão de manter a taxa em 11% veio acompanhada de uma nota idêntica à anterior: “Avaliando a evolução do cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, neste momento, manter a taxa Selic em 11,00% a.a., sem viés”.

Antes de conhecer o resultado da reunião, os executivos fizeram algumas conjecturas. Todas se revelaram inúteis no início da noite. Se o Copom quisesse sinalizar, ratificando o seu último Relatório de Inflação, a propensão de manter a Selic nos atuais 11% por um longo período bastaria suprimir do comunicado anterior a expressão “neste momento”. Não foi o que fez. Com a retirada iria, ao mesmo tempo, alimentar a ala de instituições que acredita que o próximo passo lá em 2015 será de elevação da taxa. Se, ao contrário, o Copom mudasse a nota de forma a enfatizar a sua certeza de que a inflação irá cair no horizonte da política monetária estaria induzindo a uma rebaixa geral na inclinação da curva futura de juros.

Também não fez isso. Mas se alterasse a nota manifestando sua preocupação com a atividade econômica – indício de que estava colocando o combate à inflação num segundo plano – poderia forçar uma baixa dos contratos mais curtos, mas não evitaria uma alta dos mais longos, já que o mercado iria supor que a negligência no ataque às pressões inflacionárias correntes iria requerer o uso de uma força monetária maior no futuro. E, como os juros longos interferem na formação do custo do crédito, não haveria na verdade incentivo à atividade mesmo na hipótese de ser implementado um corte da taxa básica ainda em 2014. Tampouco sinalizou isso. O pregão da BM&F tende a esperar a ata do Copom de ontem, a sair no dia 24, antes de tomar um rumo mais consistente.

O movimento de redução dos juros futuros não foi suavizado pela Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do IBGE, melhor da que era esperada. Após três meses consecutivos em queda, as vendas varejistas mostraram crescimento em maio de 0,5% ante projeção de 0,1%. Foi um ponto fora da curva incapaz de reverter a tendência primária de fraqueza. A expansão se concentrou em setores vinculados ao Dia das Mães e aos itens de preparação à Copa do Mundo, como a comercialização de televisores.

Não há solidez na recuperação porque os efeitos de contração induzidos pelo ciclo de aperto monetário encerrado em abril ainda não se fizeram sentir plenamente, os índices de confiança permanecem baixos e o mercado de trabalho perde viço. Esse cenário de apatia deve ser comprovado hoje pelo IBC-Br, o índice de atividade do BC. O mercado estima queda em torno de 0,30%.

Mais do que a PMC, o impulso primário à baixa dos contratos veio dos informes de que a inflação respira de boca aberta. A deflação de 0,56% constatada pelo IGP-10 de julho foi maior do que a prognosticada pelos analistas, de 0,50%. Alguma fatia dessa descompressão vai chegar ao varejo. A alta de 5,55% acumulada pelo índice da FGV nos últimos 12 meses seria uma benção para o IPCA.

O mercado de câmbio operou ontem sob o efeito de notícias antagônicas entre si. Oscilou sem muita convicção ao longo do dia e fechou com uma leve alta de 0,05%, cotado a R$ 2,2223. Puxando o dólar para cima, além do viés externo de valorização, a percepção de uma preocupante diminuição no fluxo de investimentos financeiros de portfólio. Os fundos globais já parecem estar reagindo à decisão de Federal Reserve (Fed) de encerrar seu programa de afrouxamento quantitativo em outubro.

E também aos recentes sinais da autoridade de que, se for o caso, estará preparada para subir o juro básico antes do que o projetado pelas instituições (ou seja, antes do início do segundo semestre de 2015). Confirmando a sensibilidade dos executivos, o BC informou ontem que na semana passada o fluxo cambial foi negativo em US$ 3,82 bilhões. A maior parte desse déficit foi atribuída às saídas líquidas de US$ 2,4 bilhões contabilizadas pela conta financeira. Mas o rombo comercial, de US$ 1,42 bilhão, também foi pesado.

O fluxo de capitais externos financeiros inverteu completamente a mão este mês. Enquanto no mês passado como um todo, a conta financeira registrou um superávit de US$ 1,89 bilhão, apenas nos primeiros onze primeiros dias de julho a saída líquida alcança US$ 4,14 bilhões. Como não há ainda especulação altista com derivativos cambiais, essa fuga de capital não tem sido capaz de desencadear disparadas da cotação do dólar no mercado à vista. No acumulado de julho até ontem a valorização é até modesta, de 0,56%.

O que inibe a formação de apostas contra o BC é a determinação da autoridade em manter a moeda dentro da faixa de flutuação informal, com R$ 2,20 no piso e R$ 2,25 no teto. O instrumento utilizado é o swap cambial. O BC persiste rolando aos poucos os US$ 9,46 bilhões que irão vencer no dia 1°. Faltam ainda US$ 6,31 bilhões. Se a pressão crescer, pode desistir de sua intenção de deixar vencer cerca de US$ 2,8 bilhões, ou 29,7% do total. Apressaria o passo e rolaria tudo se o dólar rompesse o teto. Para tanto, o mercado secundário de títulos do Tesouro americano teria de espantar a sua letargia.

Ontem, porém, apesar dos alertas do Fed, a taxa da T-Note de 10 anos recuou de 2,55% para 2,53%. Os indicadores do dia não alentaram os investidores. A produção industrial de junho, ao subir 0,2%, veio aquém do 0,3% esperado. E o núcleo do Índice de Preços ao Produtor (principal indicador do atacado) comportou-se no mês passado dentro do previsto: alta mensal de 0,2% e anual de 1,8%.

Em contraponto aos fatores altistas, puxando o dólar para baixo atuaram os novos dados sobre a economia da China, importante consumidora das commodities brasileiras. O PIB anual fechou o segundo trimestre com avanço (7,5%) superior à expectativa (7,4%) dos analistas. Na passagem do primeiro para o segundo trimestre, o ritmo se expandiu de 1,5% para 2%. A produção industrial cresceu 9,2% em junho, também acima do esperado (9%). As medidas de estímulo à economia, sobretudo as de crédito, adotadas nos últimos meses começam a surtir resultado. Se o fôlego se mantiver, o PIB estará rodando mais perto de 8% do que dos 7,5% perseguidos pelo governo.

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