Por bruno.dutra

As três projeções de IPCA mais sensíveis aos eventos atuais declinaram, de acordo com o Boletim Focus divulgado ontem: o índice fechado de julho tombou de 0,22% para 0,15%; o prognosticado para os próximos 12 meses foi rebaixado de 5,95% para 5,94%; e o estimado para o acumulado do ano recuou de 6,44% para 6,41%, afastando-se um pouco mais do teto de 6,5% da banda inflacionária. As cinco casas que mais acertam no médio prazo o IPCA do ano trataram de derrubar seus vaticínios. Elas vislumbram agora uma alta de 6,39%, ante 6,51% na semana anterior.

Parte dessa revisão pode ser atribuída à última ata do Copom. Nela, o Banco Central mostra-se implacável contra a resistência da inflação e pouco sensível às pressões em prol do desencadeamento de uma política monetária voltada a salvar o PIB. Se o BC não moverá o seu principal (para ele, único) instrumento monetário, o juro básico, para resgatar a atividade, as instituições entendem que o PIB irá afundar mais ainda. E a projeção de crescimento da economia este ano caiu pela nona semana consecutiva, desta vez de 0,97% para 0,90%.

O mercado acredita que, se puder, o BC irá mesmo estabilizar a Selic em 11% até que o IPCA convirja mais decididamente para o centro de 4,5% da meta, lá pelos “trimestres finais” do horizonte de 18 meses da política monetária, ou seja, fins de 2015. Mas, por enquanto, acredita que não poderá. Por isso, sustentou sua previsão de que a taxa básica terá de avançar a 12% no ano que vem. Não se trata de má vontade com o BC. Na ata da semana passada o Copom explicitou a orientação de que não pretende reduzir a Selic, mas não desconsiderou com a mesma ênfase a possibilidade de um aumento.

Se a diretriz oficial é a manutenção da Selic independentemente do declínio das expectativas de IPCA e do depauperamento da atividade econômica, os juros futuros, internamente de mão atadas, se locomovem quase que exclusivamente em função das taxas dos títulos de longo prazo do Tesouro americano. Nem o Focus mais condescendente com a inflação, nem o novo tombo do Índice de Confiança da Construção (ICST) da FGV — de 10,3% na comparação interanual do trimestre até julho — fizeram preço no pregão da BM&F. O movimento de alta das “treasuries” avalizou o avanço dos DIs de vencimento mais distante, enquanto os de curto prazo permaneceram imóveis. A taxa para a virada do ano estabilizou-se em 10,77%. Já o contrato com vencimento em janeiro de 2017 subiu de 11,24% para 11,28%.

Como o DI futuro, o dólar dedicou-se apenas ao giro técnico de posições, com os investidores mais atilados tentando rentabilizar suas posições por meio do “day trade”. A moeda oscilou entre R$ 2,2195 e R$ 2,2353, e fechou cotada a R$ 2,2235, em baixa de 0,18%. Embora a maior parte das posições compradas e vendidas em derivativos cambiais negociados na BM&F não possa ser classificada como aposta especulativa unidirecional — pois, se pudesse, o câmbio à vista não estaria nessa pasmaceira que já dura quase cinco meses —, os três últimos dias úteis da semana concentram uma batelada de indicadores e eventos capazes potencialmente de aumentar a temperatura dos pregões de cupom cambial e dólar futuro.

A quarta-feira, véspera do encerramento do mês — portanto de fechamento de “Ptax” e dos contratos futuros — será na verdade uma “superquarta” para os mercados globais. Logo às 9h15, a empresa ADP divulga seu relatório sobre os empregos no setor privado americano, proxy confiável do relatório oficial do mercado de trabalho a sair na sexta-feira. Depois, às 9h30, o governo divulga a primeira prévia para o comportamento do PIB dos EUA no segundo trimestre do ano. Os analistas estão otimistas. Esperam que a economia saia da retração de 2,9% experimentada nos três primeiros meses do ano para uma expansão ao redor de 3%. Ou seja, as perdas do trimestre anterior já teriam sido zeradas no segundo. E, às 15 horas, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve realiza sua reunião de política monetária de julho. Os mercados estão ansiosos por recepcionar um tom menos “dovish” no comunicado pós-Fomc.

Há, portanto, oportunidades para uma reviravolta mais consistente na curva de juros dos títulos do Tesouro americano. A excitação pré-Fomc já começou ontem. A taxa da T-Note de 10 anos avançou de 2,47% para 2,50% porque o mercado resolveu desconsiderar um dado ruim do setor habitacional — as vendas pendentes caíram 1,1% em junho, quando se previa uma alta de 0,5% — e saudaram a evolução de 11,4 em junho para 12,7 em julho do índice de atividade manufatureira do Fed de Dallas.

Também na superquarta, dois outros eventos podem sacudir a rota dos mercados. Depois de amanhã termina o prazo para o pagamento dos débitos da Argentina ou conclusão de algum acordo com os credores. Sem isso, o país vizinho entrará em default. O Ibope pode anunciar nesse dia os resultados de pesquisa eleitoral que começou a ser feita no fim de semana.

Uma questão mais técnica do que real pode mexer com o dólar na quinta-feira. Todo o mercado sabe que, do lote total de US$ 9,46 bilhões em swaps cambiais que vencerá na sexta-feira, o BC deixará vencer cerca de US$ 2,81 bilhões. Este é o montante que investidores terão de contratar no mercado futuro para suprir a falta do hedge oficial. Empresas e hedge funds estrangeiros já vêm se preparando para isso e repondo gradualmente a proteção. Mas a retirada de um volume tão expressivo de moeda pode servir de álibi para alguma estripulia

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