Por bruno.dutra

Sob efeito de múltiplas e complexas variáveis, de difícil interpretação, os mercados financeiros operaram com intensa volatilidade e incerteza. O pano de fundo internacional — desagrado dos investidores globais com o retorno das turbulências no Leste europeu e a decepção provocada por dados do comércio exterior chinês — não foi, porém, o mais decisivo. Ele apenas deu o impulso inicial à alta do dólar contra o real. A busca por moeda americana foi amplificada por fatores domésticos mesmo. O principal: rumores de que as pesquisas que serão divulgadas hoje apontarão o declínio da candidata Marina Silva, a predileta dos pregões.

Embora em momento algum do dia o dólar tenha operado abaixo dos R$ 2,2396 em que fechou na sexta-feira, oscilou muito em sua rota primária de alta ao sabor de rumores. No início da sessão, prevalecia o entendimento de que os novos lances da apuração das denúncias de existência no passado de um esquema de corrupção dentro da Petrobras iriam ampliar a rejeição à candidatura oficial.

Os investidores nem chegaram a comemorar direito essa discutível possibilidade pois logo surgiram boatos de que as novas sondagens do Datafolha e da MDA/CNI iriam indicar um retrocesso na preferência pela pessebista. Pela última pesquisa Datafolha, Dilma Rousseff cresceu de 34% para 35% e Marina permaneceu estável em 34%. Os rumores foram se intensificando ao longo do dia e a moeda fechou com valorização de 1,16%, cotada a R$ 2,2655. Como só os profissionais mais destemidos estavam operando, o volume de negócios não passou de US$ 850 milhões.

O segundo fator prendeu-se à gestão da política cambial. O Banco Central parece ter sentido as pesadas pressões exercidas por influentes economistas em uma impressionante avalanche de artigos, estudos e entrevistas em favor de uma suavização da estratégia de intervenção cambial posta em prática há um pouco mais de um ano. A pressão, que se agigantou na passagem de agosto para setembro, consistiu no alerta, aparentemente magnânimo, de que o BC está, por meio dos swaps cambiais, comprimindo exagerada e desnecessariamente a cotação do dólar, fragilizando o seu potencial de resposta quando for de fato preciso agir contra uma escalada verdadeira.

O BC parece ter acusado o golpe. Começou ontem a rolar os US$ 6,68 bilhões em swaps antigos que vencerão no dia 1° de outubro de forma muito tímida. Vendeu, para tanto, apenas 6 mil contratos — uma redução de 4 mil em relação aos leilões de renovação feitos diariamente em agosto —, no valor de US$ 300 milhões. Mantido esse ritmo, revalidará apenas US$ 4,8 bilhões do lote total, permitindo o resgate de US$ 1,88 bilhão, ou 28,16% do volume integral. Trata-se de um crescimento expressivo, já que em agosto deixou vencer apenas 11%.

Os players atilados sempre usam o argumento da menor oferta de swaps para substituir os antigos para promover esticões do dólar embora saibam que, liquidamente, não haverá retirada efetiva desse instrumento de proteção do mercado. Como toda semana oferece US$ 1 bilhão em swaps novinhos em folha, mesmo que resgate US$ 1,88 bilhão, o saldo do mês indicará oferta líquida de US$ 2,12 bilhões. Ou seja, em termos de estoque, que é o que de fato interessa, a oferta do mês se expandiu.

A empresa que estava com sua dívida externa de curto prazo perfeitamente hedgeada por meio de swaps velhos em sua carteira não ficará desprotegida porque poderá resgatá-los e trocá-los pelos novos. O único inconveniente é de caixa: o resgate implicará a realização de uma perda contábil, uma vez que os swaps só vêm dando lucro ao emissor, o BC. Mas empresa não é especulador: compra o papel para se proteger de uma arrancada do dólar, não para ter ganhos em reais.

O pregão de juros futuros da BM&F foi o que mais acusou o baque da reviravolta conduzida pelos rumores eleitorais. De manhã, as taxas dos contratos chegaram a operar em queda. Mas no início da tarde os tesoureiros e os gestores se assustaram com as informações de que a dianteira de Marina sobre Dilma no segundo turno havia sido reduzida acentuadamente. E trataram de reverter suas posições ultraotimistas. O resultado foi uma disparada capaz de inverter a curva futura entre os vértices para janeiro de 2016 e janeiro de 2017.

Na sexta-feira, ela estava negativa: 11,35% para o primeiro vencimento e 11,26% para o segundo. Mas ontem o contrato para janeiro de 2016 subiu a 11,40%, enquanto a taxa para janeiro de 2017 saltava para 11,42%. A curva ainda se mantém negativa para janeiro de 2021, embora a taxa tenha avançado de 10,98% para 11,20%. Mas se as pesquisas confirmarem um empate técnico no dia 26 de outubro, a curva também pode se tornar positiva para o contrato mais longo.

A nova revisão para baixo da estimativa de crescimento do PIB para este ano do boletim Focus do BC não suavizou a tendência de alta dos contratos. Pela 15° semana consecutiva, o prognóstico recuou de 0,52% para 0,48%. A estagnação econômica não é uma novidade, nem será combatida pelo início de um ciclo de afrouxamento monetário.

A volatilidade tende a persistir intensa nos mercados ao longo da semana. A pesquisa MDA/CNT abrirá os trabalhos hoje, uma vez que a sua divulgação está prevista para às 10h30. A do Datafolha deve sair depois do fechamento dos pregões, mas estes irão operar como se já soubessem o resultado. Outras duas consultas ao eleitor estão agendadas para a semana.

O Vox Populi registrou sexta-feira no TSE pesquisa de abrangência nacional cuja coleta termina hoje e cuja divulgação poderá ocorrer amanhã. O Ibope não ficará ausente esta semana. De coleta mais extensa, iniciada na sexta-feira, deverá prosseguir até quinta-feira, mesmo dia da veiculação, às 18 horas.

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