Um dos contratos de maior liquidez, por ser dos preferidos dos investidores estrangeiros, com vencimento em janeiro de 2017, tinha taxa de 11,66% na sexta-feira anterior à morte de Eduardo Campos. No dia 2 de setembro, no auge da empolgação com a onda Marina, a taxa tinha descido a 11,10%. Após a retomada de Dilma Rousseff, os juros futuros foram subindo aos poucos. E dispararam esta semana, com a taxa para janeiro de 2017 encostando em 12%. O pesado declínio de Marina constatado nas últimas pesquisas e a alta insuficiente de Aécio Neves levam o pregão de DI futuro a concluir que, pelo cenário de hoje, será muito difícil impedir a reeleição da petista.
Com os movimentos feitos esta semana, o mercado já se prepara para o que poderá vir no segundo mandato de Dilma Rousseff. Não se espera, por enquanto, mudanças profundas nas grandes linhas da política econômica. Um aperto fiscal será tentado apenas para evitar o rebaixamento da nota de risco de crédito soberano para a categoria de grau especulativo. A política monetária persistirá apertada mas não tão arrochada como seria a praticada pelo Banco Central independente defendido por Marina. Não se imagina uma liberalização da política cambial. O câmbio continuará flutuante, mas administrado com rédea curta. Nada de encolhimento do BNDES, nada de realinhamento aos EUA, nada de reforma trabalhista, nada de ajuste tarifário. O mercado só conseguirá alguma coisa se espernear bastante.
É a política que o economista Tony Volpon, chefe de análise de mercados emergentes da Nomura Securities, chama de “pragmatismo sob coação”: os mercados só conseguirão avanços ortodoxos desde que submetam a política econômica a constrangimentos. “Nossa visão atual é que, provavelmente, só veremos uma mudança real na política econômica em um segundo governo Dilma sob pressão substancial do mercado. O modelo para nós é exatamente o ciclo de aperto feito pelo BC em 2013. Ele o fez por causa das pressões criadas pela discussão em torno do “tapering” do Fed”, escreveu Volpon em relatório.
O mercado futuro de juros da BM&F ainda não jogou a toalha inteira na arena política. Mas falta muito pouco. A principal bandeira agitada em favor da política liberal-ortodoxa prometida por Marina foi a inclinação negativa da curva futura de juros. O pregão reconhecia que 2015 e 2016 seriam anos de correção das “mazelas petistas”. Os frutos dourados do conservadorismo seriam colhidos a partir de 2017. No dia 2, a curva era negativa: 11,27% para janeiro de 2016, 11,10% um ano depois e 10,82% em janeiro de 2021. Os fechamentos de ontem já mostraram uma inclinação positiva entre 2016 e 2017.
O primeiro contrato fechou em 11,75% e o segundo em 11,94%. Mas, para 2021, a taxa ainda é menor, de 11,85%. Se Dilma continuar crescendo nas pesquisas e Marina caindo, logo a taxa para 2021 será mais elevada que a relativa a 2017. Isso quer dizer uma coisa bem simples: o mercado não confia em Dilma e também no seu BC. A gritaria que busca influir nos rumos da política econômica já começou.
E o vozerio hoje se vale muito mais dos “trackings” privados sobre a corrida eleitoral do que das pesquisas oficiais elaboradas pelos grandes institutos. As tendências são antecipadas com perfeição pelas sondagens particulares, para só então serem replicadas pelas registradas no TSE. A razão é que os “trackings” estão desprovidos das preocupações técnicas decorrentes das adequações de margens de erro destinadas a preservar a reputação do instituto.
Por falar em “coação”, já está indo longe demais a indiferença do BC com a arrancada do dólar. A valorização de ontem da moeda aconteceu de novo sem a necessária fundamentação externa. O dólar estava em alta frente as demais emergentes, mas nem tanto. A oito pregões do primeiro turno, está se revivendo agora, embora em escala reduzida, a febre anterior à eleição de Lula em 2002. Isso é muito perigoso, e o BC precisa acabar com a brincadeira já, antes que o movimento vire uma bola de neve incontrolável.
O dólar subiu ontem 0,53%, cotado a R$ 2,4070. No acumulado de setembro até ontem, a moeda contabiliza um pulo de 7,5%. O preço já está bem perto do ápice de R$ 2,4510 atingido no dia 21 de agosto de 2013. No dia 22, o BC baixou o atual programa de intervenções cambiais e a cotação baixou imediatamente para R$ 2,353 no dia seguinte.
Para manter o dólar sob controle, ele despejou no mercado futuro US$ 95 bilhões em swaps cambiais. Vai por tudo a perder pelo capricho de mostrar autonomia operacional? Não pode. Ele precisa agora acelerar a rolagem diária dos contratos a vencer de forma a deixar clara a sua intenção de renovar todos os US$ 6,677 bilhões programados para liquidação no dia 1° de outubro. Mais: deve aumentar a oferta de novos swaps da atual cota semanal de US$ 1 bilhão para US$ 2 bilhões enquanto durar a onda de protestos anti-Dilma.
Os mercados globais não justificam essa alta toda de 7,5%. Os dados mais recentes sobre a recuperação da economia americana retiram qualquer urgência do Fed em apressar seus passos monetários. Ontem, a taxa do título de 10 anos do Tesouro americano recuou de 2,57% para 2,53%, já distante dos 2,63% da semana passada. Muito em função da retomada apenas moderada dos EUA e menos de um suposto crescimento da aversão global a risco. O único acontecimento geopolítico presente hoje são os ataques aéreos americanos a regiões da Síria dominadas pelo Estado Islâmico. E não houve sinais de piora nas economias já enfraquecidas da Europa e da China.