Por bruno.dutra

A moeda americana operou em baixa contra o real, seguindo o viés externo, até às 13 horas. Mas não teve jeito, falou mais alta a percepção de que o pleito de domingo está mais perto de Dilma Rousseff do que de Aécio Neves. No período da tarde, prevaleceu movimento de compra e o dólar encerrou com avanço de 0,15%, cotado a R$ 2,4802. Foi a terceira alta em sequência, durante a qual acumulou valorização de 1,96%. Mais técnico, o pregão de juros futuros da BM&F afastou a má companhia do dólar e conseguiu fechar em baixa.

O câmbio tentou se convencer de que não está nada decidido nas eleições 2014. Como a pesquisa de intenção de voto divulgada de manhã pelo Datafolha apenas autenticou os números da realizada dois dias antes — numa espécie de contraprova ratificadora do resultado anterior, uma virada de Dilma Rousseff que foi contestada por Aécio Neves —, o dólar até se sentiu confortável no preço da véspera, sem requerer correções maiores. Um ajuste mais intenso pode ser necessário hoje, dia de veiculação de novas sondagens do Datafolha e do Ibope. Como elas só serão divulgadas oficialmente depois de fechado o pregão, os investidores ficarão, com o dedo no gatilho, ligados nos boatos.

Os analistas já discutem quanto seria o valor justo do dólar a partir de segunda-feira, com o mercado já despido das especulações pré-eleitorais. A conclusão preliminar, para ambos os casos, quer vitória de Dilma quer de Aécio, é de que será difícil ao mercado sustentar um preço acima de R$ 2,50. A moeda já subiu muito em curto espaço de tempo. De setembro até ontem a valorização foi de 10,77%. Não se sabe a conduta da diretoria do Banco Central a partir do dia 27 se as urnas derem mais quatro anos ao PT.

Podem ser tomadas providências destinadas a trazer a moeda para um patamar menos danoso à inflação. Se o dólar consolidar-se em R$ 2,48, o impacto direto no IPCA de 12 meses será de meio ponto percentual, ou seja, não se estará falando mais em uma taxa anual de 6,5%, mas de 7%. Será mais fácil, rápido e indolor agir sobre o câmbio do que elevar a Selic de 11% para 13% como está sendo precificado pela curva futura de juros. Emergencialmente, o BC poderia dobrar o volume de contratos de swaps cambiais vendidos semanalmente. A oferta avançaria do atual US$ 1 bilhão para US$ 2 bilhões, e todos os títulos antigos seriam rolados integralmente. A medida poderia valer até o dólar voltar à faixa de R$ 2,30.

O mercado acredita que o fluxo de dólares financeiros será restabelecido depois do pleito, independentemente de quem vencer. Como o grande capital mundial teme radicalizações políticas de consequências imprevisíveis, procurou este mês manter-se distante dos pregões. No acumulado de outubro até sexta-feira, a conta financeira da balança cambial registra uma saída líquida de US$ 2,697 bilhões, que só não foi desastrosa porque a conta comercial mostra superávit de US$ 2,032 bilhões. Sobretudo as aplicações externas em bolsa de valores tendem a voltar assim que o pregão restaurar um mínimo de racionalidade.

Mesmo na hipótese de triunfo de Dilma, os investidores estrangeiros, sem conhecer o novo ministro da Fazenda e as eventuais linhas de mudança da política econômica, ainda não irão trabalhar supondo uma deterioração mais acelerada dos fundamentos da economia brasileira. Até porque irão dispor de mais tempo para efetuar realocações de portfólio pelo fato de o ajuste monetário americano ter sido deslocado para um ponto mais longínquo de 2015.

No caso de vitória de Aécio, não haverá justificativa para vendas maciças de moeda americana sob o argumento de que, consertados, os fundamentos atrairão levas de capital externo. Foi inequívoca a sinalização de Armínio Fraga no sentido da interrupção no dia 1° de janeiro das vendas de novos contratos de swap e do desmonte gradual do estoque de US$ 100,41 bilhões. Vai faltar hedge aos endividados. Trata-se de um convite à compra de moeda americana enquanto ela está no preço barato de R$ 2,50.

Se Aécio ganhar, será altamente improvável que o BC de Alexandre Tombini aceite fazer uma política cambial de transição, reduzindo a oferta de swaps. Pode acontecer o contrário: uma exacerbação da política de intervenção nos dois meses finais do ano de forma a sedar a inflação, melhorando as estatísticas de IPCA do mandato de Dilma, e aumentando o rebote inflacionário da futura gestão Fraga.

O comportamento exibido ontem pelos mercados carregou um viés menos especulativo. Os agentes parecem ter desistido das práticas terroristas destinadas a forjar um ambiente junto à população mais propício à vitória da oposição. A pesquisa Datafolha revelou claramente ontem que o eleitorado não percebe a crise econômica denunciada pelo mercado, nem se escandaliza com as denúncias de corrupção. Bate num muro de concreto o discurso da oposição de “mar de lama” e descontrole inflacionário. Pela pesquisa, 21% dos entrevistados acreditam que a inflação vai diminuir, uma alta expressiva frente aos 12% da mostra de 26 de setembro. E para 35% vai continuar como está.

Ou seja, para uma maioria de 56%, o país não tem um problema inflacionário. Sobre a situação econômica em geral, 44% acham que vai melhorar, ante 32% na sondagem precedente. A vida cotidiana das famílias não está sendo atingida diretamente, apesar da coleção de indicadores negativos de agosto, o mês cujos dados ficaram completos ontem com a divulgação da pesquisa de serviços do IBGE. A indústria caiu 3,6%, o comércio varejista cedeu 1,1%, o PIB (medido pelo IBC-Br) contraiu-se 1,35% e a renda real do setor de serviços caiu 3,57% na comparação interanual. Mas, para o consumidor/eleitor, a inflação no bolso é baixa e há empregos.

A principal notícia do dia foi positiva para os mercados globais. O Índice de Preços ao Consumidor (CPI) dos EUA avançou 0,1% em setembro tanto pelo critério cheio quanto pelo que exclui os preços de alimentos e energia, exatamente o que previam os analistas. Em doze meses, a inflação está bem-comportada em 1,7%. O Federal Reserve (Fed) não precisa se preocupar. Nem os investidores. A distensão provocou alta da taxa da T-Note de 10 anos, de 2,22% para 2,24%.

Os juros recuaram em bloco no mercado futuro da BM&F. A taxa para janeiro de 2016 cedeu de 12,05% para 11,94%, enquanto que o contrato com vencimento um ano depois caiu de 12,18% para 12,10%.

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