Por diana.dantas

Na ausência de novas informações e especulações sobre os nomes que irão compor a equipe econômica do segundo mandato de Dilma Rousseff, uma onda benigna disseminada ontem pelos mercados globais foi usada como gatilho para a realização de lucros nos pregões domésticos de câmbio e juros futuros.

Interrompendo uma sequência de seis altas, durante as quais acumulou valorização de 6,46%, o dólar caiu ontem 0,55%, cotado a R$ 2,5493. Mas o reduzido volume de negócios, de apenas US$ 780 milhões, tirou consistência da queda. Uma menor aversão global a risco fez a taxa do título do 10 anos do Tesouro americano subir de 2,30% para 2,35%. Também nos EUA o dia foi de giro limitado de negócios, pois encravado entre o fim de semana e o feriado de hoje do Dia do Veterano.

O dólar enfraqueceu-se globalmente em razão dos dados mais apagados sobre o mercado de trabalho dos EUA em outubro, mês em que foram criadas apenas 214 mil novas vagas, para uma expectativa de 235 mil, alargando o horizonte até o início do movimento de alta da taxa básica americana. E a balança comercial chinesa exibiu um superávit de US$ 45,41 bilhões em outubro, um saldo superior tanto às projeções dos especialistas, de US$ 42 bilhões, quanto ao registrado em setembro, de US$ 30,97 bilhões. O indicador desencadeou alta das commodities e apreciação geral das moedas de emergentes que exportam para a China.

No pregão de juros futuros da BM&F, a curva de taxas estreitou-se uma vez que, enquanto subiram os contratos mais curtos, os longos declinaram. A taxa para a virada do ano avançou de 11,31% para 11,32%. Já o contrato para janeiro de 2016 permaneceu estável em 12,38%, refletindo as incertezas sobre os rumos da política monetária no ano que vem. Os contratos mais vinculados à conjuntura externa cederam. A taxa para janeiro de 2021 recuou de 12,48% para 12,44%.

As cem instituições que participam da pesquisa Focus do BC acreditam que o Copom não irá intensificar o ritmo de elevação da taxa Selic em sua próxima reunião, agendada para o próximo dia 3, a última do ano. A projeção para a última Selic de 2014 foi ajustada na edição publicada ontem para 11,50%, ante 11% na anterior, ou seja, o mercado espera que o Comitê repita, agora de forma unânime, a dose de alta de 0,25 ponto aplicada no encontro do dia 29 de outubro. A expectativa consensual, portanto, é um ciclo de aperto modesto e não convencional.

Tradicionalmente, os ciclos severos e prolongados começam com um ajuste pequeno, geralmente de 0,25 ponto, e prosseguem com passos mais largos, de 0,50 ponto, instituindo uma velocidade de cruzeiro até ser iniciado o procedimento de pouso com o retorno de um ritmo mais contido, de 0,25 ponto, após o qual a taxa permanece em solo por alguns meses até a autoridade ter confiança sobre a direção do movimento seguinte, se de queda ou de alta. Foi assim no último ciclo: em abril de 2013, o Copom aumentou a Selic de 7,25% para 7,50%, na reunião seguinte subiu a pulsação para 0,50 ponto e a manteve por mais cinco reuniões até reduzir o batimento para 0,25 ponto no encontro de fevereiro, quando a taxa chegou a 10,75%. A intenção parecia ser o de estabilizar o juro nesse ponto, mas a inflação obrigou o Comitê a fazer um ajuste adicional de 0,25 ponto na reunião seguinte, a de abril de 2014. Com a Selic em 11%, a taxa foi preservada estável até o encontro que ocorreu três dias depois do segundo turno das eleições.

O mercado está convencido que o ciclo atual será diferente. A última ata do Copom deixou evidente que o BC não está disposto a repetir a dosagem do ciclo anterior de 3,75 pontos. E prevê majoritariamente uma taxa de 12% no fim de 2015, ou seja, agora será feito um ciclo de um ponto, por meio de quatro altas sucessivas de 0,25 ponto. Essa alta será suficiente para trazer o IPCA do teto de 6,5% da banda inflacionária para o centro de 4,5%? O mercado acredita que não, se a política fiscal persistir expansionista. Sem ajuda da área fiscal, será complicado ao BC manejar as pressões inflacionárias vindas do câmbio e das tarifas públicas com uma Selic de 12%. No próximo governo, terá de ser posta em prática uma sintonia muito fina entre as políticas fiscal, monetária e cambial.

E essa sintonia depende de quem for nomeado ministro da Fazenda do segundo mandato. A ata foi acusada de imprecisa e vaga, mas não poderia ser escrita de outra forma. O BC não sabe quem será o próximo ministro, nem sabe se Alexandre Tombini permanecerá à frente da autoridade. O cenário mais assíduo com o qual o mercado trabalha hoje é de implantação de um ajuste fiscal crível mas gradual, sem radicalismos. Isso, mesmo na hipótese de Dilma aceitar a dobradinha supostamente sugerida por Lula e benquista pelos mercados: Henrique Meirelles na Fazenda e Nelson Barbosa no Planejamento. Com Tombini mantido no BC, estaria montado um Conselho Monetário Nacional (CMN) capacitado a dar legitimidade técnica a um aumento da TJLP. A principal tarefa do triunvirato será reverter o baixo-astral, infundindo expectativas mais otimistas nas instituições. Se o plano fiscal incluir uma elevação paulatina, fidedigna e sem malabarismos contábeis da meta de superávit primário até 3% do PIB em 2016, as agências internacionais de rating podem ser mais complacentes e evitar o rebaixamento da nota.

O Focus não esperou a nomeação da nova equipe econômica e a apresentação do seu plano de trabalho e já revisou para pior algumas projeções essenciais para 2015. A expansão do PIB foi reduzida de 1% para 0,8%, o IPCA subiu de 6,32% para 6,40% e a taxa de câmbio avançou de R$ 2,50 para R$ 2,60. A pesquisa que será publicada na segunda-feira que vem não deve conter alterações relevantes, pois as instituições estarão no aguardo do anúncio da nova equipe que comandará a economia até 2018.

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