Por diana.dantas

A bolsa de apostas de quem será o novo ministro da Fazenda monopolizou as atenções dos mercados financeiros ontem. O mercado financeiro operou dividido entre os vendedores de dólar que acreditam que a presidente Dilma Rousseff não tem outra opção a não ser colocar Henrique Meirelles no comando da economia e os compradores de moeda americana que apostam na promoção do atual presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, ao posto. Na queda de braço, venceu a segunda ala. O dólar fechou em alta de 1,2%, cotado a R$ 2,5948, maior preço de fechamento desde 18 de abril de 2005. Na máxima do dia a moeda foi a R$ 2,6120. Os juros também subiram no mercado futuro da BM&F. A taxa para janeiro de 2017 avançou de 12,77% para 12,87%.

O raquítico volume de negócios no mercado de câmbio, de apenas US$ 900 milhões, revela que nenhum dos lados tem muita certeza de qual será a decisão final. Apostam nos seus candidatos, mas não põem todo o seu cacife. Mais numerosa, a corrente tombinista — entenda-se bem: não defende a escolha de Tombini, pelo contrário, apenas acha que é a mais logicamente provável — enxerga sinalizações mais nítidas da preferência presidencial pelo funcionário de carreira do BC. Dilma incorporou-o às pressas em sua comitiva à cúpula do G-20 para justamente transmitir o recado de que estava acompanhada tanto pelo ministro da Fazenda que sai quanto pelo que entra. A sucessão está sendo consumada na Austrália aos olhos da comunidade financeira internacional, cuja aprovação da troca é essencial já que o balanço de pagamentos não fecha sem os investimentos estrangeiros de portfólio.

Para esta ala majoritária tombinista, outro sinal é a suposta recusa de Meirelles em aceitar o cargo caso seja convidado. Foi uma forma elegante que encontrou para transmitir ao mercado o alerta de que não será convidado. Outro indício que fortalece a candidatura Tombini: à agência Estado, o terceiro cogitado na bolsa de apostas, para o qual faz lobby o partido da presidente, Nelson Barbosa, declarou que não foi convidado, nem sondado, para ocupar nenhum cargo no segundo mandato.

Qual a diferença essencial entre Meirelles e Tombini? Qualquer um dos dois teria competência técnica para promover uma guinada da política econômica em direção à ortodoxia. Não há nenhum segredo indevassável na estratégia conservadora. O seu grau depende de vontade política. Esse é o problema. Meirelles só toparia a empreitada se tivesse os plenos poderes desfrutados quando ocupou a presidência do BC na era Lula. Tinha status de ministro e se mantinha forte e independente a despeito dos petardos devastadores que lhe eram endereçados pelo seu chefe imediato, Guido Mantega, pelo distante — José Alencar, vice-presidente — e pela sua colega de Ministério, Dilma Rousseff. Detinha então uma carta tão branca de Lula que pôde impunemente, em meio ao colapso de Wall Street, tomar decisões de política monetária das mais equivocadas da história do Copom.

Em setembro de 2008, às vésperas da quebra do Lehman Brothers, o comitê subiu a Selic de 13% para 13,75%. A taxa foi mantida estável nesse patamar, contra todas as evidências em contrário, nas reuniões de outubro e dezembro. Enquanto isso, Mantega baixava várias medidas macroprudenciais para evitar uma recessão muito severa em 2009. Meirelles e o seu Copom só foram reduzir a taxa básica na reunião de 21 de janeiro. E carregaram na dose: a taxa caiu um ponto, para 12,75%, mas era tarde demais. Em setembro de 2008, o mercado americano já estava em pandarecos, com o Tesouro procedendo ao salvamento de vários bancos “grandes demais para quebrar”. O mínimo que o Copom deveria fazer era não fazer nada, mantendo a taxa em 13%, e aguardar os acontecimentos. Seria um sonho pueril alguém achar que, no Ministério da Fazenda de Dilma, Meirelles teria tal grau de independência.

Tombini é um homem da equipe de Dilma, alguém que desfruta de toda a sua confiança pessoal e que poderá realizar o ajuste fiscal na medida exata imaginada pela economista Dilma. O problema é que ele não goza da confiança do mercado, justamente por sua fidelidade à presidenta.

Tal proximidade foi a responsável pelo que a maioria dos analistas acredita ser uma perda de credibilidade da autoridade monetária só reparável por uma independência formal. Para o mercado, pior do que Tombini na Fazenda seria conjugar sua promoção com a do atual diretor de Assuntos Internacionais do BC, Luiz Awazu Pereira da Silva, à presidência da autoridade. Awazu é considerado o integrante com maiores pendores “dovish” dentre os oito membros do atual Copom. Foi um dos três que, na reunião passada, a de 29 de outubro, votaram pela manutenção da Selic em 11% — voto vencido pela maioria de cinco, dentre os quais Tombini, que decidiu pela alta para 11,25%. Com Tombini na Fazenda e Awazu no BC, nem Nelson Barbosa no Planejamento impediria a instalação de um clima de guerra nos mercados.

O mercado internacional não contribuiu muito para suavizar as compras de dólares pela ala tombinista. O dia foi monopolizado por indicadores ruins sobre as duas maiores economias do planeta. Em princípio, dados negativos sobre a atividade produtiva nos EUA e na China poderiam ser vistos como benéficos aos mercados, pois forçariam a adoção de medidas destinadas a alargar a liquidez e a encetar a recuperação econômica. O problema é que os EUA acabaram de encerrar um programa de afrouxamento quantitativo, ao qual não voltarão, apenas o início da fase de aperto monetário explícito (a elevação do juro básico) pode ser postergado. Na China, providências destinadas a aquecer a economia são vistas como quimeras irrealizáveis da mesma natureza das eternas promessas não cumpridas do presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi.

O rendimento do título de 10 anos do Tesouro americano recuou de 2,37% para 2,36% por causa da decepção com o relatório semanal de auxílio-desemprego. Os especialistas esperavam que as solicitações do seguro se limitassem a 280 mil, mas foram de 290 mil na semana passada. O dado deu razão ao presidente da regional de Nova York do Federal Reserve, William Dudley, para quem seria prematuro aumentar os juros em breve em face da grande ociosidade no mercado de trabalho e da inflação muito baixa. Na China, a produção industrial subiu 7,7% em outubro, ante previsão de 8%. E as vendas no varejo avançaram 11,5%, também abaixo do projetado, de 11,6%.

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