Agora, constrangidos, os analistas se cindem entre a ala dos que veem chance de elevação em setembro e a dos que não acreditam haver justificadas para um aperto antes da reunião de dezembro. A reunião de hoje do Fed é quase um não-evento: ninguém aposta em mudança, o Comitê deve reiterar a sua resignação. Munido de uma paciência infinita, deverá esperar por números melhores antes de dar início a uma longa preparação dos mercados para o descongelamento da FFR.
O número relativo às encomendas de bens duráveis veio tão ruim que a sua sombra esfriou eventuais comemorações resultantes dos outros indicadores do dia. O PMI (índice de gerentes de compras) do setor de serviços subiu de 53,3 em dezembro para 54 em janeiro, embora ainda distante do pico de 61 atingido em junho. O Conference Board detectou certa animação por parte do consumidor. Seu índice de confiança avançou de 93,1 no mês passado para 102,9 este mês. E, por fim, o setor imobiliário persiste em recuperação. Em dezembro, as vendas de casas novas alcançaram a marca anual de 481 mil, acima da expectativa dos analistas, de 450 mil.
Se a conjuntura dos EUA, na melhor das hipóteses é de retomada vacilante e ainda inconclusiva do crescimento, a Europa persiste na UTI. A prolongada prostração às vezes dá ensejo a lampejos fugazes de lucidez. Como os idos de março, o mês da grande inundação de euros jorrados dos cofres do BCE, ainda parecem distantes, os mercados se enfraqueceram ontem, após a divulgação de balanços ruins de conglomerados do continente, como Siemens e Philips, e após a nomeação do ministro das Finanças do novo gabinete grego, Yavis Varoufakis, autodefinido como um “marxista libertário” — o que é uma contradição em termos, já que os libertários são adeptos de uma liberdade absoluta associada a ideologias de direta como o menor Estado possível. A indicação de Varoufakis sinaliza que o Syriza quer briga, o processo de renegociação da dívida grega e das suas condicionalidades não será nem rápido nem indolor. O principal índice do mercado de ações da região, o FTSEurofirst 300, desvalorizou-se ontem 0,81%. Dentre os grandes pregões, o que mais sentiu foi o de Frankfurt, com queda de 1,57%, enquanto Paris cedia 1,09% e Londres, 0,60%.
Os juros domésticos caíram menos do que seria recomendável para emparelhar-se às “treasuries”. O contrato de maior liquidez, com liquidação em janeiro de 2017, cedeu de 12,37% para 12,32%. A taxa longa de referência, para janeiro de 2021, recuou menos ainda, de 11,69% para 11,67%. O pregão da BM&F estava ressabiado com o tipo de apoio que a presidente Dilma Rousseff iria dar à política de austeridade de Joaquim Levy. Queria que Dilma reconhecesse os erros do passado e acolhesse entusiasticamente como definitiva a ortodoxia. Nem uma coisa, nem outra. A política econômica dos dois últimos anos do primeiro mandato não foi um equívoco do qual a presidente se penitencia — um arrependimento sincero que inviabilizaria uma recaída. Foi, pelo diagnóstico presidencial lido ontem, necessária para que o governo absorvesse dois choques externos (queda das commodities e alta do dólar) e um interno (alimentos) e evitasse danos à economia real e aos empregos. A deterioração das finanças públicas foi voluntária e planejada para rechaçar um mal maior. Mas ela chegou a um limite. Não dava mais. Era preciso equilibrar de novo as contas. E depois que o equilíbrio for alcançado, o que vai acontecer? A presidente nada disse a respeito.