Por diana.dantas

O País parece estar sendo assolado por uma versão século XXI das Sete Pragas do Egito. Por se sucederem ininterruptamente, sem pausa para respirar, as notícias ruins nem estão permitindo aos mercados o exercício do seu esporte favorito em momentos de crise aguda: a especulação. Dólar e juros pioram mais em função da perplexidade do que de tentativas de manobrar as operações com o objetivo de obter-se lucros financeiros. Atônitos, os analistas reconhecem que todo o ganho forjado na construção de expectativas positivas a partir da nomeação de Joaquim Levy e das suas primeiras medidas de ajustamento fiscal já se desvaneceu em meio ao incômodo sentimento de que o País parece estar sob comando frágil e vacilante.

Não se trata de uma tempestade perfeita. O que se vê hoje assemelha-se mais a um furacão perfeito. Já espantado pelos números, todos piores que as previsões, acerca da degradação da economia — e hoje vem mais um, o IPCA fechado de janeiro, algo acima de 1,2%, elevando a inflação acumulada em 12 meses para além dos 7% —, o mercado recebeu embasbacado a trapalhada em torno do arranjo para a saída de Graça Foster da Petrobras. Alguém deveria ter avisado à presidente Dilma Rousseff que somente um santo como Guido Mantega concorda em ser fritado lentamente em praça pública.
As decisões, quando não tardam, são equivocadas. Basta ver o olímpico desdém com o qual o Planalto tratou a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados. O destino da maior empresa do país terá de ser decidido em 48 horas, como se a Operação Lava Jato tivesse sido desencadeada ontem. Por falar em ontem, a nova etapa da dita operação começou a fechar o cerco ao núcleo duro do PT. O mercado sente que decisões vitais estão sendo proteladas até que a solução se imponha por si mesma sob a forma de uma nova crise. É o caso do racionamento de energia. Os reservatórios já chegaram ao limite abaixo do qual cortes seletivos serão necessários. O que o governo faz? Aumenta as tarifas impondo um imposto inflacionário destinado a desestimular o consumo.

Diante das vacilações e das apatias, a solução proposta pelos mercados não poderia ser outra: uma guinada total às políticas liberais-conservadoras. Exemplo? A nomeação de um expoente mercadista com carta-branca para sanear a Petrobras, mudar o sistema de partilha do pré-sal e enterrar a exigência de conteúdo nacional.

O real chegou durante a sessão de ontem a ter o pior desempenho frente ao dólar dentre as 34 principais moedas globais. A moeda americana, na máxima, cravou R$ 2,7625, em alta de 0,77%. Mas era um comportamento discrepante demais em relação ao que acontecia no mercado de câmbio global, mesmo se for considerado que os operadores notaram uma sensível diminuição no fluxo de investidores externos viciados na Selic alta. O boom de entradas registradas na última semana de janeiro ficou para trás. Mas as compras foram diminuindo à tarde, e o dólar encerrou o dia com leve baixa de 0,02%, a R$ 2,7415.

O pregão de juros futuros da BM&F não acompanhou o declínio vespertino do dólar. Como faltam investidores dispostos a assumir a ponta prefixada, a que corre o risco inflacionário, os contratos fecharam com acentuadas altas. A taxa para a virada do ano subiu de 12,79% para 12,84%. Os contratos de vencimento mais distante subiram com fôlego maior. A taxa para janeiro de 2017 avançou de 12,56% para 12,67%. E o contrato para janeiro de 2021saltou de 12,11% para 12,25%.

A aversão global a risco, indexada ao vaivém do petróleo, diminuiu porque em Nova York o barril tombou 5%. Com isso, os mercados puderam dar pouca atenção à tragédia grega. O Banco Central Europeu (BCE) começou ontem a jogar duro com a Grécia, num sinal de que os donos do euro — a Comissão Europeia, o BCE e o FMI, aglutinados na Troica, um apelido que cairia igualmente bem a um sagueiro truculento — vão tratar os dirigentes do Syriza à base de caneladas, carrinhos e voadoras. O BCE tomou uma decisão destinada a reconduzir o país de volta ao bom caminho da austeridade, mas que pode ter como resultado efetivo exatamente o oposto. Sem aviso prévio, a instituição cortou o oxigênio aos bancos gregos, ao não mais aceitar bônus gregos como lastro na concessão de financiamentos. Daqui para a frente, o governo do país terá de conceder crédito às instituições privadas. Resultado: o custo dos empréstimos saltou mais de três pontos, batendo em 20%. O governo abriu uma linha emergencial de 10 bilhões de euros caso os bancos passem a enfrentar uma onda de saques.

Enquanto os demais países europeus praticam taxas perto de zero, a Grécia ostenta juros pré-falimentares. Com a medida do BCE, a Troica quer que o novo governo desista das medidas já anunciadas: elevação do salário mínimo, recontratação de funcionários públicos demitidos há dois anos, pagamento de bônus a pensionistas de menor renda e fim das privatizações. Ontem, o ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis, reuniu-se com seu colega alemão Wolfgang Schaeuble. Foi, na verdade, uma não-reunião: "Não concordamos nem mesmo em discordar", disse o grego. Se o objetivo oculto da Troica for empurrar a Grécia para fora da zona do euro, ontem fez grandes progressos. A bolsa de Atenas desvalorizou-se 3,37%, puxada para baixo pelas ações de bancos, cujo índice setorial tombou 10%. À tarde, talvez para aliviar a consciência, o BCE liberou 60 bilhões de euros para o Banco Central grego emprestar aos bancos locais.

Você pode gostar