Por diana.dantas

Rumores de que as classificadoras de risco S&P e Fitch não vão demorar em seguir a decisão da Moody’s de rebaixar o rating da Petrobras promoveram ontem fortes oscilações nos mercados de dólar e juros futuros. O nervosismo dos pregões não teve amparo no mercado externo nem no notório ceticismo fiscal dos investidores. Afinal, o superávit primário do governo central referente a janeiro — o primeiro da era Levy — foi de R$ 10,41 bilhões, 18,82% da meta de R$ 55,3 bilhões para o ano todo. O dólar oscilou entre R$ 2,844 e R$ 2,891, e fechou, em alta de 0,60%, a R$ 2,8852. Os juros futuros de maior prazo cederam: o peso da recessão oprime mais do que os temores inflacionários. A taxa para janeiro de 2017 recuou de 12,98% para 12,94%. E o contrato para janeiro de 2021 cedeu de 12,58% para 12,54%.

As duas agências estão mais perto para arremessar a petroleira ao inferno do grau especulativo do que estava a Moody’s. No penhasco de ambas, a companhia ocupa o último platô do grau de investimento. Basta um passo para o precipício. Na escala da Moody’s, faltavam dois, vencidos num único pulo. Teoricamente, será mais fácil à inglesa Fitch dar o empurrão do que à S&P. A americana, historicamente, gosta de vincular a nota da estatal ao rating soberano do país. Ambos estão em “BBB-“. Ela só derruba a Petrobras depois de passar a rasteira no Brasil. Tem lógica, já que o segundo é o acionista majoritário da primeira. Foi o que fez em 24 de março do ano passado. Primeiro fez o rebaixe do país e depois o de sua principal empresa. A Fitch não se preocupa com esse pormenor e está em posição mais vantajosa. Ao contrário da S&P, cujo “outlook” de Petrobras é estável, na Fitch o viés já é negativo.

Os analistas defendem que o risco de crédito do país não deverá piorar por causa do rebaixamento da nota atribuída à Petrobras pela Moody’s. O argumento é o de que o Brasil continua a merecer o status de grau de investimento porque o seu ministro da Fazenda tem reputação insuspeita e competência para fazer as correções capazes de evitar o corte da nota soberana. Trata-se de uma consciência de classe. Abertamente, não se ouviu voz crítica contra a decisão mercurial e raivosa da classificadora americana de puxar a escada da petroleira em dois degraus. Ela mergulhou do segundo estágio de baixo para cima do “investment grade” para o primeiro de cima para baixo do “especulative grade”. O motivo é que Aldemir Bendine, um homem de Dilma, não tem a carteirinha do clube, enquanto Joaquim Levy é sócio-fundador. O que conduz à conclusão de que se a presidente tivesse cedido na hora da substituição de Graça Foster e tivesse nomeado algum membro vitalício, a Petrobras não teria sido rebaixada. A própria Moody’s reforçou essa impressão ao apressar-se em garantir, em nota, que a paulada desferida na Petrobras não produzirá escoriações em seu dono.

Os contratos futuros de juros negociados na BM&F não se conformaram ontem em seguir obedientemente as oscilações do dólar no mercado à vista. Tesoureiros e gestores acreditam que não haverá condições para um “pass through” cambial nem automático muito menos linear. Quem repassar o aumento de custo decorrente da valorização da moeda americana corre o risco de quebrar. O mercado de trabalho, último bastião da política econômica desenvolvimentista do primeiro mandato de Dilma, já começou a rachar. A taxa de desemprego medida pelo IBGE subiu nada menos do que um ponto na passagem de dezembro para janeiro. Pulou de 4,3% para 5,3% porque mais gente entrou no mercado em busca de um emprego. A população ativa cresceu 0,1% e a ocupada caiu 0,5%. Quem estava em casa porque a renda dos familiares empregados bancava o ócio, agora tem de sair do sofá. A pesquisa divulgada ontem pelo IBGE mostrou, nas palavras do economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, “significativa deterioração” do mercado de trabalho. Quem consumiu, consumiu, daqui para a frente é cinto apertado. Não há inflação cheia que resista, pois a inflação do tarifaço reduz ainda mais a renda disponível para gastos. E o Banco Central vai dar na quarta-feira, com a mão direita, mais uma pincelada nesse quadro sinistro, aumentando a Selic de 12,25% para 12,75%. “Comprado” em Levy, o DI futuro não acredita que o rating do país será cortado. Caso fosse, para compensar a retração na oferta de crédito e a fuga de investidores estrangeiros do mercado local, o BC teria de promover um “choque de juros”.

O mercado global teve pouco influência sobre o comportamento dos pregões domésticos. A deflação se aprofundou nos EUA. Os preços caem sem parar há três meses. Ontem saiu o CPI (consumidor) de janeiro. Veio deflação de 0,7%, pior do que a expectativa de 0,6% dos analistas. Em dezembro, a queda tinha sido de 0,3%. No acumulado de 12 meses, o índice desacelerou de +0,8% para -0,1%. Não há banco central no mundo que suba o juro diante de três meses consecutivos de deflação. Nem o falcão de garras mais afiadas do Federal Reserve (Fed) se atreveria a propor tal disparate. Mas a porção de fundos especulativos mais sedenta por rendimento não se entrega facilmente: viu no núcleo do CPI (alta de 0,2% no mês e de 1,6% em doze meses) e num dado de encomendas de bens duráveis (avanço de 2,8% em janeiro, acima da previsão de alta de 0,6%) razões suficientes para desencadear a surrada expectativa de aperto monetário. A taxa da T-Note de 10 anos avançou de 1,97% para 2,03%. O indicador positivo de encomendas é, no entanto, um dado isolado e inconclusivo. Na verdade, o juro longo elevou-se muito mais porque declinou a procura por títulos do Tesouro americano. Não há mais crise a exigir dos investidores a busca de refúgio seguro nas “treasuries”.



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