Por diana.dantas

A ata do Copom endureceu a política monetária ao anular os sinais anteriores de que poderia, em breve, encerrar o ciclo de alta da Selic com um ajuste final de 0,25 ponto, congelando a taxa em 13% por alguns meses e iniciando movimento de queda já no final de 2015. O Banco Central deixou claro ontem que pretende manter o ritmo de alta em 0,50 ponto, com a Selic avançando para 13,25% no próximo Copom, dia 29 de abril. Não há indicação explícita de quando ocorrerá o encerramento do ciclo de aperto. Queda este ano, nem pensar. Apesar desse tom bem mais severo, o mercado não gostou da ata. Achou branda demais. As instituições e investidores queriam que o BC indicasse ampliação da velocidade para 0,75 ponto para adequar a política monetária à mudança de patamar da taxa de câmbio.

A revolta do pregão de juros futuros com o BC “moderado” foi explicitada na alta generalizada dos contratos negociados na BM&F. Os contratos para janeiro de 2016 e janeiro de 2017 subiram de 13,69% e 13,62%, respectivamente, para o mesmo degrau de 13,78%. Antes havia uma curva declinante entre os dois vértices, já que se supunha que a autoridade fosse reduzir a Selic no ano que vem. Agora, alerta o DI, como se recusa a fazer de imediato todo o choque necessário para reconduzir a inflação à meta, terá de manter o juro alto também em 2016.

Colaborou para a arrancada dos DIs a voracidade que vem sendo demonstrada pelo novo Tesouro Nacional, o de Joaquim Levy, na captação de recursos junto ao público. Vendeu ontem um megalote de LFTs, no valor de R$ 64 milhões. Nominalmente, nem é um montante tão expressivo assim, mas estranhável em se tratando de LFTs. Estes são títulos inteiramente pós-fixados, com indexação direta à variação da Selic. O mercado comprou, exigindo prêmio, afinal ninguém oferece um lote de tamanho incomum se não está ávido por dinheiro. Por isso, tem de pagar mais caro. Mas desconfiou que havia aí uma pegadinha. Afinal, se o Copom não vai subir a Selic na magnitude necessária para derrubar a inflação, o juro real implícito na operação poderá não vir a ser atraente quanto projetado.

A ata da reunião realizada na semana passada, que subiu a Selic de 12,25% para 12,75%, sugere que a inflação de 2015, por causa do tarifaço e do dólar, já é um caso perdido. O documento divulgado ontem retirou a frase destacada no anterior, referente a janeiro, segundo a qual a inflação “ainda este ano entra em longo período de declínio”. A ata diz que o IPCA “tende a permanecer elevado em 2015”. Outro trecho revelador: a alta de preços relativos (tarifas e câmbio) “tornou o balanço de riscos para a inflação menos favorável para este ano”. Nestes parágrafos há subentendido o reconhecimento de que não há o que fazer em relação a este ano — não há formalmente a admissão de que o IPCA vai estourar o teto de 6,5% da banda inflacionária, mas veladamente — destina-se a preparar o mercado para criação de uma meta ajustada, providência que vem sendo defendida por esta coluna já há algum tempo.

Com validade para apenas este ano, o centro da meta de inflação deveria ser elevado, mantendo-se o intervalo de tolerância em dois pontos para mais ou para menos. O BC só deve ajustar a meta no segundo semestre, quando tiver mais confiança sobre o tamanho do IPCA do ano. Se subisse agora a meta central de 4,5% para 6,5%, teria espaço para suportar uma inflação de até 8,5%. Trata-se de margem folgada? Para a mediana das previsões, sim. Mas há alarmistas que já trabalham com taxa entre 9% e 10%. Convém esperar.

O Copom já não se mostra inteiramente convencido de que a inflação declinará até perto do centro de 4,5% nos trimestres finais de 2016. Fala agora em “convergência” ao “longo do próximo ano”. A impressão que se tem é que vai batalhar para derrubar a inflação de 8% este ano para algo perto de 5,5% em 2016. Trata-se, nas circunstâncias atuais, de uma façanha, e o BC não deveria se envergonhar disso.

O BC não pode, de qualquer forma, ser muito enfático e explícito em suas colocações porque há fatores condicionantes essenciais que independem de sua vontade. O primeiro é o ajuste fiscal. Os sinais são de que o pior momento da crise entre Executivo e Legislativo em torno das medidas de correção das finanças públicas pode já ter passado. Isso não significa que não pode voltar, dado os melindres e suscetibilidades afloradas dos egos em questão em ambas as partes. Quem conhece Levy sabe: ou encontra condições para fazer o superávit de 1,2% ou vai embora. Esta segunda hipótese empurra o país da borda onde se encontra para o despenhadeiro. Tal perspectiva não interessa a ninguém, salvo um ou outro oposicionista mais sanguinário.

O segundo é o cenário externo. Parece ter caído a ficha dos analistas internacionais. Vinham teimando que, apesar do fortalecimento do dólar, o Federal Reserve (Fed) iria encontrar justificativas para subir o juro básico em meados do ano. Ontem, desistiram de forçar excessivamente a barra. A taxa da “treasury” de 10 anos caiu de 2,12% para 2,09%. Os indícios são de que o Fed não terá condições de fazer o ajuste este ano. Isso abre a possibilidade de retorno de investidores estrangeiros a países emergentes notabilizados pela generosidade com a qual remuneram seus visitantes. Tal hipótese promoveu ontem rodada de baixa do dólar frente a moedas emergentes, com exceção do real.

O mercado de câmbio doméstico segregou-se dos congêneres globais. Aqui, a moeda americana valorizou-se 1,08%, vendida a R$ 3,1615, maior preço desde os R$ 3,17 de 14 de junho de 2004. Trata-se de uma aposta (de que as crises política e econômica irão agravar-se) e de um lobby (como a Selic depende do câmbio, coage o BC a elevar o juro em 0,75 ponto em abril).

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