Não prosperou por muito tempo a tentativa de intrigar de novo o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, com a presidente Dilma Rousseff. Ontem, logo na abertura, o dólar chegou a subir 1,53%, cotado a R$ 3,2902. Foi jogado para cima pela fofoca de que Levy estaria deliberadamente tentando forjar um ambiente de antagonismo cujo arremate seria a entrega de sua demissão. Como estaria assustado com o tamanho da encrenca fiscal e com a força dos políticos de todos os matizes que se opõem aos termos do ajustamento, sairia por cima, atirando previamente. Mas foi um pretexto muito frágil para sustentar um rali do dólar. Logo a moeda enfraqueceu-se e passou a operar em baixa depois que Dilma, em entrevista no Pará, disse que o ministro foi mal interpretado quando declarou que a presidente tem desejo genuíno em acertar, mas nem sempre consegue fazer as coisas da maneira mais fácil e efetiva. Não há um climão entre eles, e o dólar fechou em baixa de 0,27%, cotado a R$ 3,2317.
O mercado de câmbio dedica-se ao jogo contínuo de apostas de curto e médio prazo. Já foram armadas ontem operações destinadas a antecipar para hoje um desempenho satisfatório do ministro em seu depoimento à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Certamente, Levy será instigado por senadores a criticar a presidente. Mas será uma ótima oportunidade para elogiá-la. E o seu ajuste fiscal será esmiuçado para que caia em contradição. Mas a má vontade será substituída por uma acolhida menos hostil se apresentar um plano que não prejudique excessivamente as finanças de Estados e Municípios. As fichas de ontem à tarde foram jogadas na vitória de Levy. O entendimento foi de que a declaração de Levy aos ex-alunos de Chicago, cujo tratamento dado pela mídia foi considerado por ele um “banzé”, não irá prejudicar as negociações do ajuste fiscal no Congresso. A do câmbio foi uma reação mais madura do que a de oposicionistas que tentaram faturar em cima da frase. O tom de terror empregado pelo ministro ontem em almoço com empresários repassou para os políticos a culpa por um rebaixamento de rating do país na hipótese de não aprovação das medidas fiscais. Foi um chamamento à responsabilidade dos partidos.
Como a temperatura baixou depois das explicações de Levy e Dilma, o câmbio pode acompanhar o quadro externo distensionado. O mercado secundário de títulos do Tesouro americano não consegue dar impulso à rentabilidade dos papéis mesmo depois de a presidente do Federal Reserve (Fed), Janet Yellen, ter garantido que o juro básico irá subir ainda este ano. Os agentes se agarraram mais ao ritmo introduzido por ela a esta certeza — definido como suave e gradual — para manter a taxa da T-Note de 10 anos perto do 1,95% do fechamento de sexta-feira. Os indicadores americanos não colaboram. Divulgado ontem, o núcleo do PCE de fevereiro — principal índice de inflação acompanhado pelo Fed, pois expurgado da volatilidade dos preços de energia e alimentos — manteve-se em 1,4% em doze meses. E o índice de atividade da regional de Dallas do Fed caiu 17,4 em março, quando já havia registrado contração de 11,2 em fevereiro. Os mercados de risco globais acompanharam a alta das commodities causada por declarações tranquilizadoras de autoridades chinesas. O BC acenou com novos cortes de juros e facilitações quantitativas.
O mesmo comportamento de bate-e-volta do câmbio foi descrito pelos contratos de juros futuros negociados na BM&F. As taxas subiram de manhã e cederam à tarde. O contrato para janeiro de 2017 pulou de 13,53% para 13,69% no pregão matutino, mas encerrou o dia a 13,47%. A taxa para janeiro de 2021 foi de 13,12% para até 13,31%, fechando a 13,06%. Tecnicamente, o dia era de baixa mesmo.
Os economistas de instituições já começaram a convergir suas expectativas para o cenário traçado pelo Copom no seu Relatório Trimestral de Inflação (RI). O movimento de harmonização captado pelo boletim Focus divulgado ontem é tipicamente lento. Como as expectativas são consignadas pela mediana, as oscilações de humor obedecem a um ritual onde a pressa não é incentivada. O exemplo mais eloquente vem do prognóstico de IPCA acumulado para este ano. Ele está em ininterrupta elevação há treze semanas, mas a alta relatada ontem foi simbólica, com o indicador subindo de 8,12% para 8,13%. As previsões de inflação parecem ter batido no teto. Evidência disso pode ser colhida na redução das apostas para o comportamento do IPCA nos dois outros períodos relevantes abrangidos pela pesquisa do Banco Central. Para o acumulado dos próximos 12 meses, a inflação percebida pelos analistas de cem instituições recuou de 6,54% para 6,49%. E, para o ano que vem, de 5,61% para 5,60%. No primeiro caso, foi a segunda semana consecutiva de baixa. No segundo, a queda ocorreu após três semanas de avanço.
A garantia do presidente Alexandre Tombini de que a partir de abril o IPCA iniciará longa trajetória de queda foi ratificada pelo menos na passagem deste mês para o próximo. De acordo com o Focus, o índice tombará de 1,40% em março para 0,62% em abril. Se o mercado assume como seu o cenário do RI, ele não tem dificuldade em prever que a alta de 0,50 ponto da Selic que será feita pelo Copom em sua próxima reunião, agendada para o fim do mês que vem, será a última do longo ciclo de aperto monetário. Com esse movimento derradeiro, a taxa básica sobe para 13,25% e, nesse teto, será congelada por alguns meses até iniciar uma trajetória de queda até fechar 2016 em 11,50%.