Por bruno.dutra

A crise política esmorece rapidamente; o balanço da Petrobras vai finalmente sair na semana que vem; os sinais são de que, após oito meses de indecisão, enfim a presidente parece ter encontrado um nome (o do ministro do STJ, Benedito Gonçalves) de consenso dentro do PMDB e do PT para preencher no STF a vaga de Joaquim Barbosa; a inflação perde vigor; e a equipe econômica vai poder fazer as correções fiscais que assegurarão a permanência do Brasil no rol dos bons pagadores globais. A agência inglesa Fitch parece ter escolhido a dedo o momento para alinhar-se à Moody’s e à Standard and Poor’s — um momento de construção de expectativas positivas que tornou irrelevante a mudança negativa de “outlook”.

O clima no Congresso tornou-se respirável depois que a presidente entregou a Michel Temer a coordenação política. Um dia depois de o vice-presidente ter obtido um acordo escrito dos líderes da base aliada em favor da governabilidade e do reequilíbrio macroeconômico, a criação de duas CPIs que ameaçavam agigantar as labaredas políticas — a dos fundos de pensão e a do BNDES — foi arquivada. Eduardo Cunha e Renan Calheiros recolheram o lança-chamas porque agora negociam com o seu chefe, o presidente nacional do PMDB. Ao mesmo tempo em que elabora um pacote de agrado aos dois caciques, reuniu-se ontem em São Paulo com o ex-presidente Lula e terá encontro hoje com FHC. Para os analistas, a rapidez e a sagacidade do antigo político são espantosas.

Do ponto de vista do mercado, Dilma só está podendo começar a governar porque entendeu corretamente que o problema sempre foi ela mesma. Para fortalecer-se, afastou-se dos dois focos de turbulência, a economia (a cargo do linha-dura Joaquim Levy) e a política (função do bombeiro Temer) — o que não tem nada a ver com renúncia branca. É uma tática de autopreservação: sai a gerentona que em tudo interfere e entra a estadista capaz de delegar, cobrar resultados e articular planos de longo prazo. A principal tarefa de Dilma agora é infundir ânimo à população, reconquistar a confiança nos rumos do Brasil, fornecer um horizonte de esperança porque, se o mercado estiver certo no ponto central de suas preocupações (condições efetivas para Levy fazer o que sabe fazer), os próximos meses serão de recessão, desemprego e redução geral do poder aquisitivo.

A decisão da Fitch de rebaixar a perspectiva da nota brasileira de estável para negativa, mantendo o rating em BBB, estava mais do que precificada. O mercado se perguntava quais as razões que estariam levando a classificadora a atrasá-la. Idêntico “outlook” foi deliberado pela Moody’s em setembro, em pleno frenesi da disputa eleitoral. A mudança de viés não significa muita coisa. Como na Moody’s, a nota da agência inglesa coloca o Brasil dois degraus antes do “junky bonds”. A situação mais crítica é a da S&P: uma nota menor põe o país entre os caloteiros potenciais. Mas, nela, a perspectiva é estável. O mercado de câmbio não entendeu ontem que a Fitch indicou a possibilidade de retirar o selo de grau de investimento do Brasil.

Ao contrário, no seu comunicado já traz uma via de escape. “Embora o governo tenha começado um processo de ajuste macroeconômico para impulsionar a confiança e credibilidade política, riscos negativos relacionados à sua efetiva implementação e duração persistem, especialmente no contexto de uma economia e ambiente político desafiadores”, frisou. O que a frase quer externar? Se a crise política for resolvida e não ameaçar mais o Plano Levy, estará tudo certo. E é exatamente isso que começou a se tornar realidade esta semana.

Depois do anúncio da Fitch, feito ao meio-dia, o dólar chegou a emitir um soluço, saindo da tendência de baixa que perdurou durante a manhã. Voltou a cair logo em seguida. Ao longo da tarde, revezou pequenas altas e baixas, relutando em absorver o movimento global de valorização do dólar. A moeda americana voltou a ser procurada por causa das dúvidas que cercam as negociações da dívida da Grécia. E o Dollar Index operou com valorização superior a 1%. Nos EUA, um informe sobre os pedidos de auxílio-desemprego feitos na semana passada, embora em sintonia quase perfeita com as expectativas, provocou uma elevação dos rendimentos pagos pelo título de 10 anos do Tesouro americano, de 1,91% para 1,96%.

Não era para tanto, uma vez que a alta de 14 mil ocorrida nas solicitações, para 281 mil, foi até levemente superior às projeções de 280 mil. Mas como o mercado está querendo encontrar pretextos para voltar a sonhar com uma alta da taxa básica de juros já na reunião de junho do Federal Reserve (Fed), notou uma contradição entre o dado de ontem e o anêmico relatório de mercado de trabalho, divulgado na sexta-feira. O auxílio-desemprego vem sustentando uma média histórica muito baixa, o que coloca em suspeição o pessimismo desencadeado pelo “payroll”.

No fim do dia, o dólar não conseguiu se livrar das condicionantes externas e fechou com valorização de 0,47%, cotado a R$ 3,0706. O avanço das “treasuries” também foi invocado para justificar correções altistas no pregão de juros futuros da BM&F. Após a pesada onda de baixa desde o final de março, as taxas subiram ontem. O contrato para a virada do ano passou de 13,22% para 13,26%. A taxa para janeiro de 2017 avançou de 12,98% para 13,10%, enquanto que o vencimento referente a janeiro de 2021 foi de 12,53% para 12,62%.

Você pode gostar