Por monica.lima

A disparada do dólar na sexta-feira só teve a virtude de informar que a maioria dos investidores não pretende trabalhar hoje. A ideia era enforcar esta segunda-feira e voltar a fechar negócios apenas na quarta-feira. Embora a agenda doméstica e internacional para hoje seja muito esquálida, investidores e instituições decidiram não correr riscos até depois de amanhã. E resolveram passar o feriadão com os cofres abarrotados de dólares. Reforçaram suas posições em moeda americana porque há duas ameaças de crise pairando no ar: a Grexit e o risco de estouro do mercado acionário chinês. A alta do dólar — de 0,82% na sexta-feira, para R$ 3,0414 — deve ser entendida como o pagamento antecipado de um seguro antiturbulência. Mesmo que a moeda desabe na quarta-feira, o custo da tranquilidade terá valido a pena.

Um clássico movimento de aversão global a risco, amplificado no Brasil pelo feriadão de Tiradentes, marcou o encerramento da semana passada. O medo desencadeou compras de títulos do Tesouro americano e a taxa do papel de 10 anos recuou de 1,89% para 1,87%. O grande capital global vê alarmes soarem na Grécia e na China. O cerco das autoridades europeias ao país mediterrâneo se fecha implacavelmente: o FMI já descartou a possibilidade de dar um prazo maior para o pagamento da parcela de 747 milhões de euros da dívida grega junto ao organismo a vencer no dia 12 de maio; e os credores só irão liberar tranche de 7,2 bilhões de euros do pacote de ajuda se o Syriza se comprometer a realizar efetivamente reformas econômicas ortodoxas.

Não se trata de uma recomendação, mas de uma condicionante: ou faz do jeito que a Troica quer, ou o dinheiro não sai. Como o Syriza enfrenta vastas pressões internas em prol do enfrentamento, está aberto o caminho para o default grego e sua saída da eurolândia. Dizer que os alemães se mostram insensíveis à tragédia grega é dizer pouco. As mais recentes declarações de autoridades germânicas foram no sentido justamente de incentivar o Grexit. Depois que o Syriza resolveu cobrar reparações de guerra da Alemanha em montante superior ao total do socorro financeiro, os alemães tomaram a questão como rixa pessoal. Hoje, agem para excluir a Grécia da comunidade monetária. Membro da eurozona desde janeiro de 2001, a Grécia não faria falta: a sua exclusão pode até aumentar a coesão dos 18 países restantes, unidos sob a austera direção germânica. A Grécia é vista como um obstáculo à recuperação da área do euro, cujos PIBs somados representam hoje a segunda maior economia do globo, superando a China e atrás dos EUA.

Quais os efeitos de uma moratória grega e de sua exclusão da eurolândia sobre os mercados globais? Como a maior parte da dívida está vinculada à Troica — FMI, BCE e Comissão Europeia —, o impacto sobre o sistema bancário privado seria reduzido. Como o BCE está girando loucamente a máquina de impressão de euros — à velocidade de 60 bilhões de euros por mês — para produzir inflação, não deverá ser complicado contabilizar o calote grego. O maior perigo seria a possibilidade de contágio às economias mais vulneráveis. O BCE pode dar conta desse desafio. As ilhas gregas ficariam isoladas na depressão, mas já não seriam uma dor de cabeça para a Alemanha.

Ao contrário da Grécia, o potencial de contaminação de uma crise de ativos na China não é negligenciável. Há uma bolha no mercado de ações chinês. Enquanto abril está sendo pródigo em indicadores decepcionantes sobre o desempenho da economia, a bolsa de Xangai subiu 14% no acumulado do mês. A entidade que zela pela saúde das Bolsas alertou sexta-feira que há uma “excessiva precificação” dos papéis, eufemismo técnico para a velha especulação altista, o “bull market” alavancado. E adotou uma medida que reforça a sua posição favorável a uma correção baixista sob controle, ao viabilizar, por meio do aluguel de ações, a assunção de posições vendidas. E se a baixa sair do controle? Os investidores terão de vender outros ativos, mundo afora, para cobrir prejuízos. Nessa hipótese, o mercado global pode ser afetado. Mais ainda se o estouro da bolha acionária for acompanhado, numa corrente da infelicidade, por defaults no sistema “shadow banking”, o mercado paralelo de concessão de crédito que movimentou apenas em empréstimos a empresas lastreados em títulos quase US$ 4 trilhões no ano passado. Com a economia em desaceleração, o temor é de começar a deslocar-se uma gigantesca bola de neve de inadimplência.

Como as compras de dólares feitas na sexta-feira foram preventivas, a valorização da moeda não poderia ser invocada como argumento para novas altas dos juros futuros. Nem o IPCA-15 de abril. Afinal, o índice de fato veio acima das expectativas, mas muito ligeiramente. Subiu 1,07%, quando o mercado previa 1,02%. O indicador confirmou a localização do epicentro inflacionário nos preços administrados e no de serviços. O Banco Fator, depois de excluir esses dois focos, conclui que a inflação em 12 meses desacelerou de 5,76% para 5,18%. Não há razão para o Copom exacerbar seu aperto monetário. Mas o pregão de DI futuro da BM&F se comporta como se fosse persistir no ritmo atual de alta da Selic por mais algumas reuniões. A taxa para a virada do ano subiu de 13,34% para 13,43% e o contrato com vencimento em janeiro de 2017 avançou de 13,02% para 13,17%. Talvez fosse a hora do presidente do BC, Alexandre Tombini, mandar da reunião do FMI um recado para esfriar os ânimos.

Esta semana começa efetivamente na quarta-feira, dia em que acontece um evento marcante: a divulgação dos balanços auditados da Petrobras referentes ao último trimestre e ao ano de 2014. O Congresso irá retomar as negociações em torno das MPs do ajuste fiscal, a 664 e a 665, e do projeto de lei da terceirização. A partir de quinta, saem os números do Caged e a arrecadação federal, ambos referentes a março.

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