Por monica.lima

O dólar chegou ontem a ser cotado abaixo de R$ 3,00. Na mínima, bateu em R$ 2,9969, fechando a R$ 3,0083, em queda de 0,63%. O cenário externo de menor aversão a risco, que reduziu a procura por títulos do Tesouro americano, compôs um pano de fundo favorável para destacar, em primeiro plano, os resultados positivos colhidos pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em suas incursões pelo FMI e pela banca reunida em Nova York. O ministro e suas políticas de ajuste foram aprovadas por ambos. Foi um referendo formal já antecipado, na prática, pelo impressionante ingresso de capitais estrangeiros no país em abril. Devagar, o país volta a ser o queridinho dos financistas globais. Tal namoro não pode ser estremecido: como mostram os números da área externa divulgados ontem pelo Banco Central, o país vai precisar muito dos investimentos externos para fechar o balanço de pagamentos, de longe hoje o principal problema econômico.

O déficit em conta corrente de março (US$ 5,7 bilhões) elevou a US$ 101,6 bilhões o rombo acumulado em 12 meses, correspondente a 4,54% do PIB. O investimento externo produtivo financia apenas o equivalente a 3,97% do PIB. O resto precisa ser buscado nas oscilantes aplicações de portfólio. Em março, não faltaram: para renda fixa, entraram US$ 3,2 bilhões e, para o mercado de ações, US$ 1,4 bilhão. O economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, acredita no declínio do déficit para algo perto de 3,8% do PIB no fim do ano por causa das trajetórias benignas das contas de viagens internacionais e remessas de lucros e dividendos.

Mas o país não pode depender dos ariscos capitais de portfólio para fechar suas contas externas. A recuperação só será sólida se calcada na balança comercial. Para tanto, a condição fundamental é taxa de câmbio competitiva. O BC não pode deixar o dólar se consolidar abaixo de R$ 3,00. Se for necessário dar sustentação à moeda, deveria estudar a diminuição da oferta de swaps cambiais destinados à rolagem dos antigos. Este mês, vai renovar a totalidade dos US$ 10,115 bilhões que vencem no dia 4. Poderia restringir a revalidação dos US$ 9,656 bilhões que serão resgatados no começo de junho.

Nem sempre — para não dizer, quase nunca – a oscilação do dólar reflete as forças de mercado, ou seja, o preço costuma esnobar a lei da oferta e da procura, sendo frequente a cotação trafegar na mão oposta à do fluxo de entrada e saída de moeda americana. Na semana passada foi diferente: o armistício político assinado pelo vice Michel Temer com os seus liderados peemedebistas, a percepção de que o segundo mandato de Dilma Rousseff finalmente tinha começado e a postergação das aflições (mais imaginárias e especulativas do que reais) que cercam a expectativa de alta do juro básico dos EUA provocaram um expressivo ingresso de dólares no país na semana passada. E o dólar não teve como impedir o reflexo dessas entradas em seu preço. A cotação tombou de R$ 3,1245 na segunda-feira para R$ 3,0414 na sexta-feira. O fluxo deve ter continuado positivo no pregão de segunda, de débil liquidez pois ensanduichado entre o fim de semana e o feriado de Tiradentes, pois a moeda persistiu em baixa, desta vez de 0,46%, e ontem a perspectiva de superação da aversão ao risco brasileiro, agudizada pelos temores de derrocada da Petrobras, autorizou mais uma desvalorização do dólar, agora que a publicação dos balanços da estatal normalizarão as condições de crédito externo do país.

Apesar de o dólar ter espelhado na semana passada um declínio cuja justificativa foi explicada corretamente no ingresso de capitais externos, o volume de entradas revelado ontem pelo BC não deixou de surpreender. De 13 a 17 do mês, o fluxo cambial foi superavitário em US$ 3,441 bilhões, valor que ultrapassa com folga o montante, já elevado, de ingressos ocorrido na semana anterior, de US$ 1,776 bilhão. O saldo foi positivo tanto em relação à conta financeira (US$ 2,313 bilhões) quanto à comercial (US$ 1,127 bilhão).

No acumulado de abril até o dia 17, a balança cambial contabiliza ganho de US$ 4,41 bilhões, já superando o saldo de março inteiro, de US$ 2,003 bilhões. Os investidores estrangeiros estão vendo o país este mês por um prisma bem mais róseo. Abril é o mês de 2015 com melhor desempenho da balança cambial. Pelo lado das operações financeiras entraram na economia brasileira US$ 3,421 bilhões e, pelo comercial, outros US$ 989 milhões. O resultado do ano é ainda mais expressivo. Em 2015, até sexta-feira passada, o ingresso líquido foi de US$ 9,174 bilhões — 78,83% acima do saldo de US$ 5,13 bilhões registrado em igual período de 2014. O Brasil está em crise? Quê crise?, perguntam os investidores de fora.

Os gestores que utilizam o marketing do medo para captar clientes dizem que o superávit cambial é passageiro, resultado do último suspiro de um moribundo. Os capitais especulativos globais se aproveitam das elevadas taxas de juros internas enquanto não acontece “o grande evento” — a alta da taxa básica do Federal Reserve (Fed) — acontecimento tido por eles como de magnitude apocalíptica, capaz de desencadear uma disrupção nas mentes e carteiras. Trata-se de um exagero destinado a atrair os paranoicos. Quando o Fed começar a subir a taxa — sendo que a data consensual mais próxima é a de 17 de setembro — o fará de forma muito lenta, possivelmente ao ritmo de 0,15 ponto por reunião, com intervalos para avaliação dos benefícios e dos eventuais estragos do aperto. A economia americana, nada exuberante, não requer hoje juro maior do que 0,25%.

Os contratos de juros futuros mostram ontem na BM&F comportamento assimétrico porém condizente com a cena econômica atual. Os contratos mais curtos subiram, consolidando a aposta do mercado de que o Copom vai, na semana que vem, subir a Selic em 0,50 ponto, para 13,25%. A taxa para a virada do ano subiu de 13,53% para 13,54%. Já o contrato para janeiro de 2021 recuou de 12,64% para 12,60%, carimbando a confiança depositada pelos investidores externos na política econômica de Levy.

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