Por diana.dantas

Os mercados financeiros equilibraram-se ontem numa corda bamba fustigada por ventos imprevisíveis. Externamente, discurso da presidente do Federal Reserve (Fed), Janet Yellen, em tom otimista sobre a recuperação da economia americana, crescimento chinês mais robusto do que o esperado atropelado por novo tombo, superior a 3%, da bolsa de Shangai e as adversidades enfrentadas pelo premier grego Alex Tsipras para aprovar no parlamento o acordo firmado domingo com os credores europeus provocaram intensa oscilação do mercado que serve de referência para os demais: os rendimentos do título de 10 anos do Tesouro americano, vindos de 2,40% no fechamento de terça-feira, oscilaram entre 2,34% e 2,43%.

Esta montanha-russa desencadeou movimento similar no dólar e nos contratos futuros de juros negociados na BM&F. Internamente, há ansiedade e incerteza sobre dois pontos cruciais interligados: os impactos negativos que a irritação dos políticos com as várias operações policiais pode produzir nas negociações do ajuste fiscal; e o resultado dos contatos da Moody’s com autoridades brasileiras destinados a colher subsídios para a reavaliação da nota de crédito soberano do país.

De manhã, seguindo a tendência externa, o dólar chegou a subir 0,75%, cotado a R$ 3,1621. Neste preço, os operadores de day trade realizaram o lucro e a moeda baixou até R$ 3,1331, em queda de 0,17%. Fechou a R$ 3,1360, recuo de 0,08%. Mesmo movimento de bate-e-volta foi descrito pelos DIs futuros. A taxa para a virada do ano avançou no pregão matutino de 14,04% para 14,08%, mas fechou no mesmo nível da véspera. O contrato com vencimento em janeiro de 2017 subiu de 13,53% para até 13,60%, mas encerrou o dia a 13,54%.

A má vontade com a qual os senadores trataram o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, nas articulações para a reforma do ICMs e para a aprovação do projeto de lei sobre repatriação de recursos pode já estar evidenciando o início da retaliação do legislativo ao que considera uma falta de controle do Ministério da Justiça sobre a Polícia Federal. As aprovações subsequentes de matérias pertinentes ao processo de ajuste fiscal podem ficar comprometidas. Se for rigorosa, a retaliação pode criar despesas adicionais à União. O trabalho fiscal de Levy ficará comprometido, restando o remanejamento de alíquotas que independam do consentimento do Congresso. Se o esforço fiscal vier a se tornar infrutífero, ficará escancarada a porta para o rebaixamento do rating brasileiro. A Moody’s atribui hoje ao Brasil rating “Baa2”, com perspectiva negativa. Trata-se de nota dois degraus acima do limite que separa o “investment grade” do “junk”. Já está precificado pelo câmbio e juros futuros o rebaixe para o último patamar antes do grau especulativo.

A dúvida é quanto ao viés. Os analistas alimentam a esperança de que a reputação conservadora de Levy será suficiente para garantir um “outlook” de estabilidade, caso em que seria improvável um novo rebaixamento em prazo inferior a 12 meses, ou seja, ao ministro seria concedido tempo hábil para a consolidação de sua política. Mas o mercado teme que a diminuição da nota seja acompanhada por outra perspectiva negativa. Nessa hipótese, o país ficará à beira do abismo.

Embora alguns executivos ainda repitam a argumentação de que a saída de capitais estrangeiros de investimento do país reflete apenas uma “realização de lucros”, a motivação pode ser buscada numa antecipação de um “outlook” negativo. Se o investidor externo não fizer nada e esperar pela confirmação da nota e do viés, pode pagar mais caro para comprar dólares e enviá-los para fora. Na semana passada, segundo dados divulgados ontem pelo BC, saíram liquidamente do Brasil pela conta financeira US$ 641 milhões, elevando para US$ 2,154 bilhões o saldo negativo do acumulado de julho até o dia 10. Como em maio a fuga líquida foi de US$ 5,56 bilhões e em junho de US$ 7,629 bilhões, em apenas dois meses e dez dias nada menos que US$ 15,34 bilhões arrumaram as malas e partiram.

As influências vindas de fora sobre os mercados locais não respeitaram um sentido único. Em seu depoimento ao Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados, Yellen reiterou em linhas gerais o conteúdo de falas anteriores: se tudo acontecer do jeito que o Fed quer e imagina, ainda este ano será iniciado o movimento muito suave, que não deveria ser superestimado pelos mercados, do juro básico americano. A dirigente manteve intacta a frase-guia: "Se a economia evoluir como esperamos, as condições econômicas provavelmente tornarão apropriado em algum momento deste ano elevar a taxa de juros". Os altistas do mercado frisam o “algum momento” para não descartar a primeira alta já na reunião de política monetária de setembro. Já os baixistas preferem salientar o “provavelmente”. Foram os primeiros que puxaram a T-Note de 10 anos para o pico de 2,43%. E foram os segundos que derrubaram a taxa para o piso de 2,34%. Ela fechou a 2,36%.

Yellen fez um diagnóstico cru e preciso sobre a situação chinesa. “A China continua a enfrentar desafios impostos pela dívida elevada, mercados imobiliários fracos e condições financeiras voláteis", disse, no mesmo dia em que os economistas foram surpreendidos pela divulgação de um crescimento do PIB de 7% no segundo trimestre do ano, alta acima da previsão de avanço de 6,8% formulada por eles. Entre abril e junho, a segunda maior economia do mundo sustentou o mesmo ritmo a expansão verificado entre janeiro e março. Estão dando bons frutos os estímulos monetários feitos desde novembro e a retomada dos investimentos. Mas a debilidade do mercado imobiliário e o estouro da bolha de ações levam os analistas à conclusão de que a velocidade de 7% não será mantida no segundo semestre.

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