São Paulo - “O maior inimigo do investidor é ele mesmo. A maioria toma decisões ruins, movida pelos instintos e emoções. É seu comportamento, suas decisões que condicionam o retorno das suas aplicações”. A opinião é do planejador financeiro americano Jay Mooreland, que deu uma palestra, na sexta-feira, em evento do Instituto Brasileiro de Planejadores Financeiros (IBCPF).
Os investidores que obtêm os melhores retornos, segundo ele, são os que agem de cabeça fria. Mas ele explica que há razões científicas para o “comportamento de manada” - aquele instinto animal que leva todos a agirem em massa em uma mesma direção. No caso dos investimentos, é o que acontece quando todos (ou a maioria) decidem vender determinado ativo que está se desvalorizando, e/ou comprar os que estão subindo.
“Racionalmente, todo mundo sabe que o correto é o contrário”, diz. A estrutura no cérebro responsável pela fuga dos investimentos que dão prejuízos é a “amígdala” (que como a amígdala da garganta, tem forma de “amêndoa” - que é o que significa a palavra em latim). “É o centro do medo. É ela que faz as pessoas ou animais fugirem - passando até por cima dos outros - quando há fumaça em uma sala fechada por exemplo”, explica. Ao ver seus investimentos depreciando, a maioria dos investidores que tem aversão a perdas ouve a campainha da amígdala soar, mandando sair correndo dali.
E, ao contrário, quando está ganhando dinheiro com um investimento, o cérebro libera dopamina, uma droga natural que dá sensação de grande prazer. O cérebro, que associou o prazer à alta daquele determinado ativo, ordena que o investidor compre mais e mais do mesmo. O especialista diz, ainda, que diversos estudos mostram que uma aversão irracional a perdas reduz os ganhos em até 3,6% ao ano.
Mooreland garante que a grande maioria dos investidores age intuitivamente, enquanto a melhor forma de ganhar dinheiro seria agir analiticamente. Mas diz que o investidor totalmente racional não existe. Para ele, é preciso compreender essa natureza e não lutar contra ela.
“Nossa obrigação é entender o perfil do investidor- não apenas seu perfil de risco, mas seu perfil comportamental.” A diferença entre perfil de risco e perfil comportamental é que o primeiro revela quanto risco o investidor diz que está disposto a correr - mas o segundo indica quanto ele realmente suporta.
Quando ele fala em traçar o perfil comportamental, ele quer dizer ficar atento, detectar antecipadamente qualquer viés de comportamento do investidor. “A aversão a risco é um viés, por exemplo. A irracionalidade também.
Mooreland diz, ainda, que muitas das atitudes irracionais dos investidores são induzidas por “ilusão de ótica” muitas vezes difundidas pela mídia. Além disso, lembra que o ser humano está sempre querendo controlar o futuro - mas o futuro é imprevisível. “Todos sabem que rentabilidade passada não garante o futuro, mas poucos agem guiados por essa certeza”.
Segundo ele, é preciso “educar” os investidores para esse caráter imprevisível. Ele propõe que o planejador financeiro estabeleça por escrito com seus clientes determinadas metas e preços para vender ou compra ativos, por exemplo - o que pode não evitar as decisões impulsivas, mas vão reduzi-las.
Também recomenda que a migração para ativos de maior risco seja feita gradualmente, principalmente no caso daqueles investidores mais avessos a riscos. “Além disso, é importante investir em diversos ativos não-correlacionados - em termos de prazo e classes de ativos, por exemplo.
A inclinação a decidir por impulso deve ser evitada também. “Espere, atrase a resposta, durma sobre a decisão. Deixe que o cérebro se acalme”, aconselha.