“A alta dos spreads em abril é reflexo da queda no volume de créditos atrasados não recuperados pelos bancos, principalmente no segmento de veículos. E não é uma tendência”. A afirmação foi feita ontem pelo presidente da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Murilo Portugal, em entrevista pós a abertura do XXIV CIAB, a feira de tecnologia bancária promovida anualmente pela Febraban. O spread é a diferença entre o custo de captação dos bancos e o que cobram nos empréstimos. “A tendência dos spreads é de queda. A alta foi pontual, e refletiu aumento de custos”, explicou, dizendo que espera que a taxa continue caindo ao longo do ano. Segundo Portugal, embora a taxa de inadimplência esteja em queda, o percentual de recuperação de créditos no Brasil é muito baixo — e no caso de veículos essa taxa teria diminuído ainda mais no primeiro trimestre deste ano. Para ele, também, o pior da inadimplência já passou: “O pico foi em 2011, agora está se acomodou ao redor dos 4% em média”, disse.
O presidente da Febraban também não acredita que a redução na venda de automóveis seja reflexo da menor oferta de crédito por parte dos bancos. “Os financiamentos cresceram 7% no primeiro trimestre deste ano, só que a alta foi em carros usados — para carros novos houve retração de 2%”, lembrou. Para ele, o impacto maior veio da queda de 34% das exportações para os países vizinhos, e a volta do IPI, que havia sido reduzido, provocando a antecipação das compras. “Também pode haver alguma questão relacionada a preços, já que os carros usados mais baratos continuaram vendendo bem.”
Portugal também afirmou que a oferta do crédito continua crescendo mais do que a economia, passando de 26% a 6% do PIB, mas desacelerou — a expectativa da Febraban é de um aumento de 13% a 14% neste ano. “Com outra diferença: a mudança na composição do crédito, com aumento maior das linhas de mais longo prazo, como crédito imobiliário”, acrescentou. O presidente da Febraban disse ainda que, em relação ao financiamento de projetos de infraestrutura, os bancos têm colaborado com o governo em busca de alternativas de “funding”, hoje ainda muito concentrado nas linhas do BNDES. “Mas no mundo todo é assim, a fonte principal de financiamento de longo prazo para infraestrutura é governamental. Os 40% restantes se dividem entre crédito bancário e mercado de capitais — nos Estados Unidos a participação do segundo é maior, na Europa é o contrário”, afirmou.
Em relação aos planos econômicos, Portugal disse que o adiamento do julgamento foi devido a dúvida que surgiu durante as discussões verbais — a procuradoria apresentou um cálculo que os bancos descobriram equivocado, e pediram a revisão, com o que a Procuradoria concordou. O cálculo da procuradoria apresentava um ganho de R$ 441 bilhões dos bancos durante os planos econômicos, com aplicações de 20% dos depósitos da poupança (os “recursos livres”) em títulos do governo, com rendimento muito maior. Mas os bancos argumentam que houve sobreposição e dupla contagem. Para eles, os ganhos brutos, sem considerar os impostos, seriam entre R0$ 17 bilhões e R$ 20 bilhões. Portugal não quis dar uma estimativa de prazo para a solução dessa questão.