Por marta.valim

A redução do volume de concessão de crédito — que subiu ligeiramente em abril, mas vem patinando desde novembro do ano passado — é resultado do desaquecimento da demanda, e não de uma menor oferta por parte dos bancos. A opinião é de Érico Ferreira, presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi) — e compartilhada por outros representantes do setor financeiro.

“O consumidor não compra, e se não compra, não precisa de financiamento. E não compra porque está desconfiado, segundo mostram diversos índices divulgados recentemente”, diz Ferreira. “Os bancos vivem de dar crédito, não de não dar crédito. A oferta está igual a sempre. O que diminuiu foi a demanda”, afirma. Para ele, a desaceleração vai bater até no crédito imobiliário: “As vendas estão desaquecidas, isso vai ter reflexos nos financiamentos imobiliários dentro de dois meses”, prevê. O crédito imobiliário vinha crescendo cerca de 30% ao ano.

Ferreira admite, contudo, que os bancos continuam interessados em dar empréstimos a bons clientes. E aí, também, reside outro problema: o alto nível de endividamento do consumidor. Além disso, as taxas de inadimplência, que vinham recuando no ano passado, voltaram a subir recentemente. Ou seja, quem precisa de dinheiro para se refinanciar está com sua capacidade de endividamento tomada — ou com o nome sujo. Ontem, a Serasa Experian divulgou que o avanço da inadimplência do consumidor no Brasil manteve seu ritmo em maio, subindo 2,4% ante abril, a mesma taxa registrada na comparação entre abril e março. De acordo com avaliação dos economistas da Serasa, o aumento do custo das dívidas devido às elevações das taxas de juros, a permanência da inflação em nível elevado e o enfraquecimento da atividade econômica estão entre as causas que explicam a evolução da inadimplência nos últimos meses.

Para o presidente da Austin Rating, Erivelto Rodrigues, a redução no ritmo de fechamento de novos contratos de crédito tem a ver, também, com a alta dos juros. “Demanda existe, mas o custo está muito alto”. Mas ele concorda que com desaquecimento da economia, a procura de empresas por recursos diminui.

Ferreira disse que a redução na oferta promovida por algumas instituições em algumas linhas, principalmente na de veículos, foi um ajuste necessário devido a excessos cometidos em 2010 e 2011. “O governo quer que o excesso vire norma”, disse, referindo-se a uma polêmica levantada há cerca de dois meses pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Segundo o ministro, as vendas das montadoras de automóveis estavam caindo por falta de oferta de financiamento nos bancos.

Logo em seguida o presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF) e do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, declararam que não existia escassez de crédito. “Mesmo nos balanços publicados, o crédito ano a ano tem crescido acima de 10%”, disse Trabuco, lembrando que cada banco tem a sua política de crédito. “Financiamento de carro depende de políticas, como valor de entrada e prazo. Mas carros nos pátios não podem ser explicados unicamente pelo canal do crédito”.

Na semana passada, também o presidente da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Murilo Portugal, saiu em defesa dos bancos. “Os financiamentos cresceram 7% no primeiro trimestre deste ano, só que a alta foi em carros usados — para carros novos houve retração de 2%”, lembrou. Para ele, o impacto maior veio da queda de 34% das exportações para os países vizinhos, e da volta do IPI, que havia sido reduzido, provocando a antecipação das compras. “Também pode haver alguma questão relacionada a preços, já que os carros usados mais baratos continuaram vendendo bem”.

Mas há sinais de que em linhas com custos mais baixos a procura continua firme. O Banco do Brasil (BB) informou ontem que atingiu recorde de contratação na linha BB Crédito 13º salário, com saldo total em carteira de R$ 1,5 bilhão, o maior já registrado. O crescimento de contratação foi de 24% no 1° trimestre de 2014, em comparação com o mesmo período de 2013. Apenas em fevereiro, o crescimento foi de 31%, comparado com o mesmo mês do ano anterior.

Para ter acesso à antecipação, é preciso ter proventos creditados em conta corrente no Banco do Brasil e possuir limite de crédito pré-aprovado. É possível antecipar até 80% do benefício até um limite de R$ 20 mil. “O BB orienta seus clientes a utilizar a antecipação do 13º salário como uma alternativa para quitar dívidas de custos maiores e para despesas mais urgentes”, afirma Edmar Casalatina, diretor de empréstimos e financiamentos do Banco do Brasil.

Atualmente, gerentes do BB possuem metas líquidas de concessão de crédito e, em alguns casos, enfrentam dificuldade para cumprir. “Tenho que fechar R$ 500 mil até o final deste mês (junho) e não está fácil”, revelou um gerente de atendimento da instituição, que pediu para não se identificar.

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