Forçados pela pior seca em quatro décadas e pelos limites de preços impostos pelo governo, as companhias de eletricidade sem dinheiro do Brasil estão tomando emprestado a maior quantidade de reais em seis anos, enquanto os custos de financiamento aumentam.
Companhias como a Copel -Cia Paranaense de Energia- e a CPFL Geração de Energia SA venderam R$ 11 bilhões (US$ 4,9 bilhões) em títulos durante os cinco primeiros meses do ano, de acordo com os dados mais recentes da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). O rendimento extra que os serviços pagaram nas ofertas, que corresponderam ao recorde de 38 por cento das vendas de dívidas locais, foi em média mais do que o dobro no ano anterior.
Os produtores de energia estão tomando mais dívida depois que uma seca provocou em março a maior redução em 13 anos nos níveis de represas hidrelétricas, o que os obrigou a depender de uma geração de energia termelétrica mais cara. O aumento nos custos ocorreu em uma época em que as companhias já estavam cambaleando, depois que a presidente Dilma Rousseff ordenou, no ano passado, uma redução de 20 por cento no preço médio da energia para frear a inflação.
“Este é um segmento que precisa de grandes quantidades de dinheiro para financiar suas operações e eles estão dependendo cada vez mais dos mercados locais de capital para consegui-lo”, disse Renato Odo, diretor de pesquisa em renda fixa na divisão de investment banking do Banco do Brasil SA em São Paulo, em entrevista por telefone.
Custos para tomar empréstimos
Pelo menos mais seis empresas de serviços públicos estão prevendo vender dívida nos próximos dois meses, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
O prêmio médio sobre a taxa interbancária, conhecida como CDI, que as companhias de eletricidade pagam para emitir títulos locais aumentou para 2,06 pontos porcentuais, frente a 0,88 ponto porcentual durante o mesmo período em 2013. O CDI ontem estava em 10,8 por cento. O rendimento extra que as empresas pagam no mercado local de dívida do Brasil aumentou 0,66 ponto porcentual neste ano.
As companhias de eletricidade que aceitaram vender mais energia do que poderiam gerar devido aos baixos níveis dos reservatórios estão enfrentando prejuízos de mais de R$ 22 bilhões (US$ 9,75 bilhões) neste ano, de acordo com a operadora de energia Bolt Comercializadora. Elas não podem repassar o custo aos consumidores devido à redução de preços imposta pela presidente.
“Elas precisam do dinheiro e ter acesso ao mercado local, faz sentido para elas”, disse Carolina Lacerda, diretora de investment banking da unidade do Brasil do UBS AG, em entrevista telefônica, de São Paulo.
Rebaixamento da classificação
Embora a seca tenha levado as empresas de distribuição a buscar financiamento para cumprir suas obrigações de curto prazo, a preocupação de que o governo tenha que racionar energia pela primeira vez desde 2001 está diminuindo, depois que as chuvas do mês passado reabasteceram parte da água perdida das represas hidrelétricas.
“Temos certeza de que isso não representa nenhum risco”, disse Márcio Zimmermann, secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, em entrevista de Brasília no dia 4 de junho.
Em fevereiro, a Moody’s Investors Service colocou em revisão para rebaixamento a classificação Baa3 das unidades de geração, distribuição e transmissão da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), mencionando o impacto negativo das políticas governamentais e a pressão por liquidez devido aos custos mais altos relacionados com a compra de eletricidade gerada a partir de combustíveis fósseis.
“A mudança de regras introduziu uma volatilidade muito alta no segmento”, disse Paulo Bianchi, gestor de recursos na divisão de gerenciamento de ativos da unidade brasileira do JPMorgan Chase Co. em São Paulo. “O segmento de eletricidade como um todo está sob pressão”.