A seca de IPOs (ofertas iniciais de ações), fusões e aquisições no Brasil provocada pela retração da atividade econômica e a baixa confiança de investidores, está fazendo o BTG Pactual está se transformando numa grande trading company de commodities.
Na contramão dos grandes bancos norte-americanos, que saíram da atividade por investigação de órgãos reguladores por suspeita de manipulação de preços, o BTG Pactual montou um operação global de commodities, com embarques físicos, logística e armazenagem. Enquanto as receitas do banco de investimento recuam, o novo negócio cresceu em torno de 30% no primeiro trimestre do ano.
Na sexta-feira, o CEO do BTG Pactual, André Esteves, contou em palestra na Rio Conference Global Summits, evento realizado pela agência Rio Negócios, que o novo empreendimento está indo “extremamente bem” e que o banco tem planos de crescer. “A América Latina é o maior hub de commodities mundial, tanto em produtos agrícolas, como em metais e minérios, e até mesmo petróleo e gás. No entanto, não havia uma trading latino-americana. Para nós isso é obviamente uma grande oportunidade”, afirmou.
Segundo Esteves, o novo negócio começou a ser montado há cerca de dois anos, com investimentos em equipe e instalações, incluindo armazéns, e há pouco mais de um ano entrou em operação. A operação de commodities tem como principal centro de decisão a base do banco em Londres, mas também é operacionalizada em outras cinco bases, como Nova York, São Paulo, Buenos Aires, Genebra e Singapura. “Além dessas bases, hoje temos equipes fazendo frete ou metais em Genebra, logística de grãos em Kiev. Hoje é uma operação verdadeira internacional e que ainda vai crescer muito ao longo do tempo”, previu.
Com a estratégia de internacionalização, Esteves conta que o BTG Pactual já tem a maior parte dos seus 3 mil funcionários alocados no exterior, com equipes de 65 diferentes nacionalidades, e mais da metade das receitas do grupo também são provenientes das operações internacionais. Além dos escritórios em nos principais centros financeiros mundiais - Nova York, Londres, Singapura e Hong Kong — Esteves conta que o banco consolidou sua presença o continente americano, abrindo escritórios no México, Colômbia, Chile, Peru e Argentina.
A atividade de trader está no nome do BTG — Banking and Trading Group — mas o negócio feito por uma instituição financeira não é bem visto pelos órgãos reguladores, pelo risco de conflito de interesse na operação simultânea de movimentação física e apostas em preços nos mercado futuros. Assim como produtores, as trading companies também podem influenciar na cotação de uma determinada commodity.
No ano passado, o banco JPMorgan pagou US$ 410 milhões para encerrar investigação sobre manipulação de preços no sue negócio fisico de commodities e acabou vendendo a bilionária operação, avaliada em quase US$ 3 bilhões. O mercado especulou que o BTG Pactual pudesse comprar a unidade do banco norte-americano mas o negócio foi vendido para a trading de origem suíça Mercuria, que após a aquisição passou a ser uma das quatro maiores do mundo, ao lado das gigantes Glencore Xstrata, Vitol e Trafigura.
O banqueiro André Esteves aproveita a saída dos grandes bancos globais do negócio de commodities para avançar no mercado contratando profissionais das operações. No ano passado, “headhunters” contaram que o BTG recrutou quase uma dúzia de operadores, gerentes e analistas em Londres, Genebra e Nova York para cobrir tudo no setor, desde frete de grãos até gás natural.
Mas o crescimento da operação de commodities do BTG Pactual não reduziu o apetite do banco por outras oportunidades de negócio. Na semana passada anunciou a compra de 100% da resseguradora Ariel Re, baseada em Londres e Bermuda, da Global Atlantic Financial Group. Sócio de mais de 20 empresas, o BTG Pactual está próximo de fechar um grande negócio na Europa, segundo Esteves.