Por marta.valim

O lucro líquido dos bancos médios — aqueles com ativos totais de R$ 10 bilhões a R$ 100 bilhões — cresceu no primeiro semestre deste ano. Segundo levantamento da Austin Rating, oito deles somaram juntos lucro de R$ 940 milhões, 29,3% acima do que apuraram no mesmo período do ano passado. O aumento veio em boa parte pela redução de 11,7% nas despesas com provisões contra calotes feitas por esses bancos — no período, atingiram R$ 3,2 bilhões.

Segundo relatório da agência de classificação de risco de crédito Fitch Ratings, “os resultados refletem a cautela destas instituições em relação ao apetite por risco no crédito diante das fracas condições macroeconômicas do país”. Por essa razão, justificou a manutenção das notas associadas aos bancos que classifica: Banco ABC Brasil ('BBB-' [BBB MENOS]/Estável), o Banco Daycoval ('BBB-' [BBB MENOS]/Estável) e o Banco Pine ('BB+' [BB MAIS]/Estável). “O conservadorismo na concessão de empréstimos pelos bancos médios privados os posiciona bem em suas categorias de rating”, diz o diretor da agência no Brasil para a área de instituições financeiras, Eduardo Ribas.

De fato, segundo o levantamento da Austin, enquanto os depósitos cresceram 8,3% nesses bancos, as carteiras de crédito evoluíram apenas 1,2%, para R$ 142,28 bilhões. As receitas de crédito caíram 0,7% mas as de serviços subiram 2,3% no semestre, em relação ao mesmo período de 2013.

No universo analisado pela Fitch, que considera apenas os bancos médios com ações na Bovespa,o volume de crédito concedido aumentou apenas 0,9% no período. Considerando todas as instituições privadas, a elevação foi de 1,1%. A falta de apetite por crédito devido a preocupações com o impacto do fraco ambiente macroeconômico contribuiu para desacelerar o crescimento da concessão de empréstimos, e segundo a Fitch, aponta um desaquecimento ainda maior no crédito, diante dos 7,5%, desde 30 de junho de 2013. “A Fitch acredita que o crescimento do crédito bancário privado continuará morno no resto do ano, apesar das recentes medidas do Banco Central para aumentar a liquidez e fomentar a concessão de empréstimos”, diz o relatório.

Ribas nota ainda que os índices de inadimplência estão controlados e assim devem permanecer até o fim do ano. “Uma boa administração de ativos e passivos e melhoras na qualidade de captação dos bancos médios, sem forçar o crescimento do crédito, têm mantido lucratividade desses bancos em patamares aceitáveis, mesmo durante um primeiro semestre desafiador. Os níveis de liquidez estão adequados e nossa expectativa é que continuarão saudáveis até o fim de 2014”, diz.

Os bancos brasileiros também estão diversificando fontes de captação e apostando em prazos mais longo, como demonstram as emissões de Letras Financeiras feitas pelo Pine (R$ 250 milhões, Rating Nacional de Longo Prazo 'AA-(bra)' [AA menos (bra)]) e pelo Daycoval (R$ 400 milhões, 'AA(bra)'), no início do ano. Fontes alternativas de captação, como as próprias Letras Financeiras, Letras de Crédito Agrícola (LCAs) e Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) representavam cerca de 20% da base de captação destes bancos no final do primeiro semestre de 2014, ante menos de 3% no fim de 2010.

O Daycoval aumentou a carteira de consignados, que registrou boa qualidade de ativos ao longo dos ciclos, enquanto o ABC Brasil e o Pine estão expandindo suas fontes de receita com prestação de serviços. A Fitch também nota tendência de empréstimos a grandes clientes, em oposição ao foco em clientes menores.

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