Por monica.lima

São Paulo - Depois de ficar negativo em outubro, o saldo das aplicações e resgates de investimentos estrangeiros na Bolsa brasileira reverteu a tendência. Nos primeiros sete pregões de novembro, acumula R$ 963 milhões positivos. No ano, há R$ 21,9 bilhões de saldo — quase o dobro do que foi registrado em 2013. Mas a sensação é de que a tendência ainda não está definida. Os investidores estariam apenas refazendo algumas posições desmontadas antes das eleições mas ainda não estão montando novas estratégias. Ou seja: estão em cima do muro, aguardando definições para se posicionar.

“Os estrangeiros estão aguardando as primeiras indicações do novo governo Dilma. Enquanto isso, não acredito em grandes fluxos de entrada ou de saída da Bolsa”, diz Álvaro Bandeira, sócio e economista-chefe da Órama. “Por enquanto, só vejo entra e sai especulativo”, acrescenta. O especialista defende a tese de que é preciso um nome forte e bem aceito pelo mercado no Banco Central e no Ministério da Fazenda e, mais do que isso, sinalizações de cortes de gastos do governo.

Para ele, o que explica o forte saldo positivo de investimentos na Bolsa neste ano até agora é o “rally” das bolsas no Japão e nos Estados Unidos, que encareceram os preços das ações. Enquanto isso, na Bolsa brasileira, o índice quase não se mexe há dois anos, ou seja, há boas oportunidades para garimpar papéis. Além disso, Bandeira lembra que os juros altos também abrem o apetite dos investidores. “Hoje quase não existe mais operações solteiras, ou seja, sem que o investidor case com alguma outra operação, montando uma engenharia financeira que permite aproveitar esses juros elevados”, diz.

O fluxo cambial, porém, registra saldo positivo mais modesto, de R$ 2,8 bilhões neste ano na conta financeira, até o dia 7 de novembro. Em 2013, o fluxo ficou negativo em R$ 23,4 bilhões; e até o dia 7 de novembro, estava negativo em R$ 14,4 bilhões. O fluxo cambial na conta financeira inclui investimentos em títulos, remessas de lucros e dividendos ao exterior e investimentos estrangeiros diretos, entre outras operações. Na primeira semana de novembro, o resultado ficou negativo em US$ 443 milhões — houve saída de recursos maior do que entrada no país.

O fluxo total, porém, foi salvo pelo lado comercial: operações de câmbio relacionadas a exportações e importações registraram saldo positivo de US$ 728 milhões.

O estrategista chefe para mercados de ações para a América Latina do Bank of America Merrill Lynch (BofA), Felipe Hirai, tem afirmado que cerca de US$ 100 bilhões em investimentos que saíram do Brasil nos últimos anos estão agora prontos para voltar. A visão é compartilhada pelo gestor de fundos de ações João Braga (ex-Credit Suisse Hedging Griffo, e futuro sócio da XP) e Regina Nunes, presidente da Standard & Poor"s (S&P) para o Brasil e para o Cone Sul. Os três concordam com Bandeira, da Órama, e consideram que o dinheiro só volta para o Brasil quando o governo der sinais inequívocos de que vai promover as reformas e ajustes necessários para retomar o crescimento, reduzindo gastos públicos e a inflação.

“O investidor vai voltar, mas não sem saber o que vai acontecer. Pode demorar ou não. O mercado vai esperar dados mais concretos e ações antes de apostar”, diz Hirai. “É preciso um sinal do governo no sentido de reduzir o Custo Brasil”, disse Regina. A executiva lembra que o país precisa atrair investimentos de longo prazo para a infraestrutura.

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