Por monica.lima

São Paulo - No mercado de capitais, não se duvida que os corretores autônomos, chamados agentes autônomos de investimentos (AAI), são essenciais para ampliar sua capilaridade mas o modo como esses profissionais devem trabalhar tem sido ao mesmo tempo alvo de disputa e motivo de discórdia. Enquanto a BM&FBovespa defende que esses profissionais só devem operar dentro das corretoras atendendo investidores institucionais se houver vínculo empregatício, a Associação Nacional das Corretoras de Valores (Ancord) contesta e argumenta que essa é uma questão individual de cada empresa.

De acordo com a Bolsa, a partir do dia 2 janeiro de 2015 o selo do Programa de Qualificação Operacional (PQO) só será concedido para corretoras que tiverem agentes interno com vínculo empregatício, que não atendam investidores institucionais e voltados, exclusivamente, para a pessoas físicas e empresas não financeiras.

A decisão, no entanto, não agrada as corretoras e, principalmente, os agentes. O conselheiro e presidente do Comitê Estratégico da Ancord, Carlos Arnaldo Borges de Souza, entende que não é coerente determinar que tipo de investidor o agente deve atender, já que todos são certificados e preparados para a função.

Borges de Souza avalia que se a presença desse profissional é importante para o mercado, ele não pode atender só alguns clientes. “É um direito que eles têm, é uma forma de negócio que existe há muitos anos e não se de mudar as regras sem ouvir todos os interessados”, avalia.

Hoje, segundo o conselheiro, de 25% a 20% dos autônomos em atividade são focados no atendimento de investidores institucionais e muitos que não atendem diretamente têm pequena participação em suas carteiras. A preocupação dos profissionais é de que a Bolsa volte a adotar outras medidas impopulares. “O que impede que daqui seis meses a Bolsa diga que o profissional não pode atender um investidor acima de X reais? Essa interferência começa e talvez não pare”, diz.

De acordo com Borges de Souza, a Ancord está trabalhando com dois grupos de trabalho num projeto de fortalecimento do setor. Um deles, o comitê de agentes autônomos, que tem no conselho o agente autônomo Rubens Futuro, está preparando um projeto de ampliação de escopo da atividade. “É uma modernização da função de agente que iremos entregar para a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) no primeiro trimestre de 2015. É um projeto que envolve várias etapas”, diz.

Também insatisfeito com o rumo que a profissão está tomando, o sócio da assessoria de investimentos Bahia Partners, Tiago Couto, decidiu criar a associação de agentes autônomos que deve ser fundada oficialmente em janeiro. Para ele, é completamente inviável essa exigência da Bolsa, tanto pelo aspecto que limita o atendimento a investidores institucionais, quanto à questão trabalhista. “Eu montei uma carteira de investidores institucionais, levei para a corretora e agora sou forçado a sair ou virar CLT, não faz sentido. Isso limita meus ganhos”, diz.

Para Couto, a Bolsa precisa retomar o assunto e discutir com os interessados essa questão, ele também defende que seja pensado um novo modelo regulatório e seja colocado em audiência pública.

A CVM informou por meio de nota, está permanentemente e, sempre que necessários, modernizando a regulamentação do mercado de capitais, em função de fatores diversos, tais como estruturas inovadoras, experiência da supervisão, demandas de agentes de mercado, entre outros”.

Para outro profissional que preferiu não se identificar, a Bolsa está agindo de forma correta em busca de resultado. “O processo da Bolsa visa buscar eficiência com um número menor de corretoras, mas ela não pode dizer que têm muitas corretoras. A Bolsa quer mais lucro, precisa maximizar sua força de trabalho. Falar com um grupo menor, fica mais fácil. É uma questão puramente de planejamento de negócio, mas ela não pode explicitar”, diz.

Enquanto a Bolsa quer restringir a atuação dos autônomos, algumas corretoras disputam esses profissionais no mercado como estratégia de crescimento, buscando disputando autônomos nas mesas de operação dos conorrentes. É o caso da XP Investimentos e da TOV Corretora.

Em uma ação audaciosa, a XP lançou um plano de marketing para atingir três mil autônomos certificados do mercado, enviando para cada um uma caixa personalizada com cartão de visita, caneta e pen drive. A iniciativa surpreendeu as corretoras e foi comentada por vários profissionais. A ação teve como objetivo apresentar a XP para esses profissionais, mostrar o leque de produtos e serviços que a corretora oferece e, também, a possibilidade de ganhos, explica o diretor de expansão da XP Investimentos, Gabriel Leal.

De acordo com o executivo, a maior aposta para 2015 é o Programa de Aceleração de Negócios (PAN) da corretora, que visa atrair agentes qualificados e ajudá-los durante o processo de maturação da carteira. Segundo Leal, uma estatística feita pela corretora, um agente autônomo demora, em média, 18 meses, para ter uma remuneração entre R$ 10 e 15 mil, e durante esse período ele vai construindo a carteira. Para incentivar esses profissionais, a XP irá pagar R$ 2 mil de incentivo para cada cliente que o corretor trouxer, que invista, no mínimo, R$ 200 mil em produtos.

“A profissão de agente autônomo é altamente relevante na vida do investidor. Esse profissional busca sempre defender o seu cliente, procurando alternativas de investimentos que considerem o perfil de cada um deles”, diz, ressaltando, no entanto, que todos os profissionais que trabalharem com o XP não podem ter vínculo com nenhum instituição financeira e só poderão distribuir produtos da corretora. “Para que todos consigam atender aos seus clientes, a XP tem um plataforma completa de produtos e serviços”, diz.

Em entrevista ao Brasil Econômico em setembro, a TOV Corretora informou que sua estratégia de expansão de agentes foca numa política de remuneração diferente da praticada no mercado. Em vez de cobrar percentuais sobre o faturamento bruto de corretagem do AAI, a instituição adotou taxas fixas, de acordo com o volume transacionado. Dessa forma, pretende atrair, até agosto de 2015, mais 50 escritórios de agentes autônomos, além dos 25 que fazem parte da sua rede.

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