A Bovespa fechou praticamente estável nesta quinta-feira, com o avanço das ações do setor elétrico ajudando a compensar o efeito negativo da queda dos papéis da Vale e de empresas do setor de educação.
O Ibovespa encerrou com variação negativa de 0,10%, aos 51.760 pontos. Na mínima, chegou a recuar 1,2% . O volume financeiro somou R$ 5,78 bilhões. O avanço nos papéis de empresas elétricas foi atribuído à redução de posições vendidas com especulações sobre dados melhores de chuvas, o que tiraria pressão da parte de geração, enquanto novas tarifas aliviam as distribuidoras de energia.
O chefe da mesa de renda variável de uma corretora avaliou que as companhias integradas, com geração, transmissão e distribuição, como Cemig e Eletrobras, tendem a mostrar um desempenho superior nesse cenário, em relação às distribuidoras puras. O índice do setor elétrico subiu 2,53%. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) costuma informar entre quinta e sexta-feira a previsão de chuvas que devem chegar aos reservatórios das hidrelétricas do país.
O tom negativo verificado em boa parte do pregão foi guiado pela queda de Vale, após prejuízo líquido de R$ 4,761 bilhões no quatro trimestre de 2014, com preços do minério de ferro despencando no exterior, perdas cambiais em derivativos e baixas contábeis.
"Quando uma companhia reporta os resultados de 2014 fazendo referência à geração de caixa de 2017 em diante, nós temos uma mensagem clara sobre quão desafiadores serão os próximos 24 meses, que já começaram a ser ilustrados no quarto trimestre de 2014", escreveu a clientes o analista Ivano Westin do Credit Suisse. No fechamento, as preferenciais da mineradora acusaram queda de 3,87%.
Ações de educação também pesaram no Ibovespa, após três altas seguidas, principalmente Kroton, que fechou em baixa de 9,87% e Estácio, que despencou 10,93%.
As ações da Petrobras ensaiaram uma recuperação na abertura, mas logo perderam fôlego diante da forte queda do petróleo no exterior. As preferenciais da estatal terminaram em baixa de 1,17%.
Outro destaque positivo foi BR Properties, que fechou em alta de 9,54% após o Fundo de Investimento em Participações Bridge afirmar que pretende fazer oferta pública (OPA) para adquirir o controle da companhia de investimentos em imóveis comerciais.
A alta de 1,55% de Ultrapar também ajudou a anular as perdas do índice. A empresa reportou lucro líquido de R$ 371,8 milhões para o quarto trimestre, praticamente estável frente ao mesmo trimestre de 2013, em balanço que trouxe previsão de investimeno quase 30% para este ano.
Dólar
O dólar renovou a máxima em mais de uma década ante o real nesta quinta-feira, após uma rodada de dados mistos sobre os Estados Unidos sugerirem que o Federal Reserve pode começar a elevar a taxa de juros em meados deste ano, apesar de declarações cautelosas da chair do banco central norte-americano, Janet Yellen.
A moeda norte-americana subiu 0,60%, cotado a R$ 2,8852 reais na venda. Os preços ao consumidor dos EUA tiveram em janeiro a maior queda desde 2008, mas o núcleo da inflação, que não inclui energia e alimentos, subiu 0,2 por cento no período. Em outros dados, as encomendas de bens duráveis subiram, revertendo a queda de dezembro, e os novos pedidos de auxílio-desemprego aumentaram mais que o esperado na semana passada.
"Na margem, eu diria que os dados mantêm o Fed em vias de elevar os juros entre junho e setembro", disse o economista da 4Cast Pedro Tuesta.
Na terça-feira, a falta de uma sinalização mais contundente de que o aperto monetário teria início em breve no discurso de Yellen, do Fed, em comitê do Senado dos EUA havia levado os contratos futuros dos juros norte-americanos a embutir aumento de juros em outubro, sendo que até então apontavam setembro.
Economistas em pesquisas da Reuters, contudo, vêm repetidamente projetando que o banco central agirá em junho. Juros mais altos nos EUA podem atrair para a maior economia do mundo recursos investidores atualmente em países como o Brasil.
Mais cedo, o dólar chegou a recuar firmemente, após o analista da Moody's Mauro Leos afirmar que, mesmo num cenário que envolve algum tipo de apoio financeiro à Petrobras, a dívida brasileira não ultrapassaria 70 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), ainda compatível com o rating "Baa2".
A moeda norte-americana havia avançado 1,22% na sessão passada em reação ao rebaixamento da petroleira pela Moody's ao grau especulativo.
"O mercado percebeu que pelo menos parte do mau humor de ontem foi exagero", disse o operador de câmbio de uma corretora internacional.
A estatal, envolvida em um escândalo bilionário de corrupção, pode ter de quitar antecipadamente sua dívida devido ao atraso na divulgação de seu balanço financeiro, o que geraria intensa pressão de liquidez sobre a companhia.
Alguns operadores acreditavam que o dólar pode chegar a níveis relativamente equilibrados no curto prazo, enquanto investidores aguardam sinais que indiquem se o aperto fiscal promovido pelo governo está dando resultados.
"Nesses últimos dias, o dólar tem feito esses movimentos: busca níveis mais altos, depois volta. O mercado está dando um tempo antes de voltar a ficar tomador", disse o operador da corretora Walpires José Carlos Amado, ressaltando, contudo, que a moeda norte-americana ainda tem "potencial" para se apreciar.