Por parroyo

A cautela que prevaleceu durante toda a semana no mercado financeiro se intensificou, nesta sexta-feira, em meio à expectativa de que a manifestação contra a administração de Dilma Rousseff, programada para acontecer no domingo, possa enfraquecer ainda mais o poder de governabilidade da presidenta, o que pode dificultar a aprovação das medidas fiscais no Congresso.

O temor é que, no pior cenário, o plano de ajuste das contas públicas não se realize nas dimensões necessárias e, como consequência, o Brasil tenha a nota de crédito rebaixada pelas agências de classificação de risco, o que provocaria uma fuga de capitais do país. O clima de incerteza pesou sobre a bolsa e o Ibovespa caiu 0,58%, aos 48.595 pontos. Na semana, o índice acumulou queda de 2,77%, e no mês de março, as perdas são de 5,79%.

A aversão ao risco fez com que os investidores corressem para o dólar, que disparou 2,77%, cotado a R$ 2,249, o maior valor desde 2 de abril de 2003. Nas últimas cinco sessões, a moeda norte-americana teve alta de 6,3%. De acordo com o analista da Clear, Raphael Figueredo, alguns fatos pontuais contribuíram para a aversão ao risco no último pregão da semana.

“Ontem, a venda de LTFs (título pós-fixado do tesouro que tem a rentabilidade balizada pela Selic) foi recorde, e há rumores de que o governo está tentando arrecadar para arcar com as contas da Petrobras. Além disso, o mercado avalia a informação da imprensa de que a estatal estaria fazendo um acordo com os credores para atrasar a divulgação do balanço por mais seis meses”, pontuou Figueredo.

Em relação à manifestação de dopmingo, o estrategista-chefe do banco Mizuho, Luciano Rostagno, acredita que, caso os protestos tomem uma dimensão nacional, a aprovação do governo Dilma Rousseff pela população tende a piorar. “Se os protestos tiverem a dimensão de junho de 2013, a tendência é que o governo enfraqueça, o que colocaria em xeque os ajustes fiscais”, disse Rostagno, para quem, em meio ao risco de rebaixamento da nota de crédito do Brasil, não existe um teto para a cotação do dólar nas próximas sessões.

Além das incertezas domésticas, o avanço do dólar reflete ainda expectativa pelo adiantamento da alta de juros nos Estados Unidos. Os rumores ganharam força entre os investidores depois que os dados de emprego do país, referentes a fevereiro, vieram bem acima das expectativas dos analistas. Na quarta-feira, o comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) irá se reunir pela primeira vez depois da divulgação dos números.

Embora o consenso seja pela manutenção dos juros a 0,25% ao ano, o mercado acredita que a autoridade monetária possa dar alguma pista sobre os próximos passos. “Essa reunião é o principal evento da semana. O mercado vai acompanhar o discurso da presidente do Fed, Janet Yellen, logo após a divulgação da decisão, para ver se há alguma mudança na postura, uma vez que até agora a maioria dos presidentes regionais da autoridade monetária deixaram a entender que não existe pressa para a elevação dos juros”, pontuou Rostagno.

O evento nos Estados Unidos e os reflexos da manifestação em relação a um possível enfraquecimento da governabilidade de Dilma devem ofuscar a agenda de indicadores econômicos domésticos. Entretanto, vale destacar que, na segunda-feira, o Banco Central divulga o IBC-BR, indicador considerado uma prévia do PIB, referente ao mês de janeiro. De acordo com a consultoria LCA, o índice deve ficar estável na comparação mensal e recuar 1,40% em relação ao mesmo período do ano passado. Na sexta-feira, será conhecido ainda o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) – a prévia da inflação de março, que deve subir 1,30% em relação a fevereiro, também na projeção da LCA.

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