O dólar fechou em queda de mais de 2% ante o real pela segunda sessão consecutiva, diante da tranquilidade nos mercados internacionais, com investidores deixando de lado por ora as turbulências políticas locais e se concentrando na expectativa de liquidez abundante nos mercados financeiros globais.
A moeda norte-americana recuou 2,63%, a R$ 3,145 na venda. Segundo dados da BM&FBovespa, o giro financeiro ficou em torno de 900 milhões dólares. Nas últimas duas sessões, a divisa acumulou queda de 4,59%.
"O resumo é que o mercado está volátil, tanto para baixo quanto para cima", disse o gerente de câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo. "O investidor não sabe onde o dólar vai se assentar, então quando vê um movimento mais acentuado, acompanha a manada".
Apostas de que o Federal Reserve não deve ter pressa para elevar os juros nos Estados Unidos e a liquidez adicional providenciada pelo programa de compra de títulos do Banco Central Europeu (BCE) têm gerado algum alívio no mercado brasileiro de câmbio nas últimas sessões, apesar das persistentes preocupações com a viabilidade do ajuste fiscal no país.
Atritos entre o governo federal e o Congresso Nacional vêm dificultando a implementação das medidas de reequilíbrio das contas públicas prometidas pela equipe econômica liderada pelo ministro Joaquim Levy. O quadro de fundamentos macroeconômicos deteriorados e expectativas de que o Banco Central brasileiro possivelmente não estenda sua intervenção no mercado de câmbio somam-se aos ruídos.
A estrategista para a América Latina do Jefferies, Siobhan Morden, defendeu em relatório que boa parte das notícias negativas já estão embutidas na atual cotação do dólar, ressaltando que o câmbio pode ter mais uma onda de alívio se a Petrobras divulgar seu balanço auditado. Ela salientou, contudo, que o processo de ajuste fiscal deve ser longo e arrastado, sustentando a volatilidade no mercado.
"Há dificuldades par avaliar o risco de crédito durante o que parece ser um processo longo para restaurar a âncora fiscal sem apoio parlamentar, com o persistente escândalo da Petrobras e a iminente recessão econômica", disse ela. "Dito isso, os mercados já descontaram cenários extremos".
Bolsa
O principal índice da bolsa paulista encerrou a segunda-feira praticamente estável, após um pregão sem tendência definida, marcado por movimentos de realização de lucros, giro reduzido e ausência de um rumo no ambiente financeiro global.
O Ibovespa recuou apenas 0,11%, aos 51.908 pontos, após cair 0,87% na mínima e avançar 0,41% na máxima da sessão. Na semana passada, o índice acumulou alta de 7%. O volume financeiro desta sessão somou R$ 5,34 bilhões, abaixo da média do mês, de R$ 6,7 bilhões.
A trégua global do dólar, que respingou no mercado de câmbio local, também influenciou a Bovespa, enfraquecendo ações de algumas exportadoras brasileiras, como Embraer e Fibria.
O noticiário corporativo também fez preço no pregão, e um dos destaques foi a aprovação do desdobramento de ações da Gol, que levou os papéis da companhia aérea a fecharem com alta de 5,1%. Na máxima, chegaram a subir 7,39%.
O operador da corretora Gradual Alexandre Soares destacou o volume reduzido do pregão, com muitos agentes financeiros ainda com receito de fazer novas apostas firmes em qualquer direção diante do cenário bastante incerto no país. "Muitos ainda estão perdidos para criar um cenário de apostas futuras", disse.
Após o fechamento, a Standard & Poor's confirmou o rating do Brasil em "BBB-", dizendo que a perspectiva para a nota do país segue estável, diante do apoio da presidente Dilma Rousseff à correção da política em andamento, apesar dos desafios políticos.
Mais cedo, pesquisa CNT/MDA mostrou que a avaliação positiva do governo da presidente Dilma Rousseff despencou em relação a setembro.
O setor de educação também esteve na ponta positiva, com Kroton avançando 3,24 por cento, enquanto Estácio subiu 2,08 por cento.
A equipe de estrategistas do Citi substituiu as ações do grupo siderúrgico Gerdau pelos papéis da Estácio em seu portfólio para Brasil, citando entre outros fatores, que questões relacionadas aos novos limites do Fies podem ser melhor mensuradas agora, com um efeito mais moderado do que se temia.
O Ministério da Educação afirmou nesta segunda-feira que um grupo de trabalho acompanhará os preços das mensalidades em cursos superiores financiados pelo Fies, com o objetivo de dar tranquilidade aos alunos no futuro.