Por monica.lima

São Paulo - O início do segundo trimestre tem se mostrado bem mais positivo do que os três primeiros meses do ano para a Bolsa de Valores. A expectativa de divulgação do balanço da Petrobras atrelado à cena política menos conturbada, e a percepção nos Estados Unidos de que os juros devem começar a subir mais no fim do ano, abriu espaço para a recuperação dos ativos.

A forte alta do dólar no início do ano deixou a Bolsa mais atrativa para o excesso de liquidez global. Segundo dados da BM&FBovespa, até o último dia 15 a participação de estrangeiro na BM&FBovespa era de 28,6%, o maior nível desde agosto de 2014, quando atingiu 29,6%. As ações da Petrobras, que estão puxando o movimento, lideram as altas do Ibovespa no mês, com ganhos de 38,52% as ordinárias e 33,71% as preferenciais. A valorização acumulada do índice em abril soma 5,48% e no ano, 7,89%
Esta mudança de humor, no entanto, não significa que os investidores já estão apostando em uma reversão de tendência. “Para falar em mudança de tendência ainda é cedo, tem muita coisa para acontecer. Muito impasse na Europa, o juros dos EUA, que ninguém sabe qual será o impacto da alta, e o balanço da Petrobras. Para mudança de tendência ainda estamos longe de uma análise mais consistente”, afirma o diretor da corretora Mirae Pablo Stipanicic Spyer.

Ele ressalta ainda que o investidor estrangeiro tem se mostrado mais otimista. “Tenho escutado muito estrangeiro otimista com Brasil, mas também estão na expectativa de Petrobras. Se o balanço vier bom, deve vir mais dinheiro para cá”, estima.

Para o analista da Clear Corretora Raphael Figueredo, o Ibovespa está passando por um processo de ajuste após um movimento especulativo que aconteceu no início do ano, com o dólar chegando ao redor de R$ 3,40 e a perspectiva de perda do rating soberano. “Essa melhora é um reconhecimento de que o problema não era daquela magnitude, mas ele ainda existe. Estamos longe de apontar para uma economia a pleno vapor. Isso deve acontecer, mas ainda não é a perspectiva do momento”, diz. “É mais um ajuste aos seus pares. O real foi a moeda que mais se desvalorizou ante os emergentes e o Ibovespa também”, diz.

Para Figueredo, mais que o balanço, o mercado procura pela transparência da companhia. “A governança da Petrobras ficou obscura. Mais que os números, o mercado espera uma tomada de atitude da empresa sinalizando como serão os próximos passos, como será a venda de ativos, como vai ser o modelo de partilha...”, diz.

Para o estrategista de investimentos da Guide Investimentos Luiz Gustavo Pereira, esse movimento também reflete a antecipação da alta de juros nos EUA. No entanto, ele não acredita em uma saída forte de recursos do Brasil. “O mercado antecipou muito a possível alta dos juros norte-americano. Não vemos como risco grande para os emergentes. A alta não será de forma muito linear e nem muito forte, vai ser lenta e não tende a prejudicar a nossa liquidez”, avalia.

A consultora de investimentos da Órama Investimentos Sandra Blanco destaca o cenário político como motivo que também ajudou a contribuir para o otimismo. De acordo com ela, a escolha de Michael Temer para fazer a articulação política trouxe mais chances para o governo conseguir aprovar os projetos. Além disso, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, está conseguindo implantar as medidas necessárias. “O ajuste fiscal não vai ser fácil. Vai ter muita negociação. A gente está precisando do ajuste. Mesmo que ele não saia completo, ele é necessário para a retomada do crescimento da economia em 2016. Os partidos devem dificultar, mas no final irão aprovar alguma coisa”, diz.

Na sexta-feira o Ibovespa encerrou em queda de 1,32%, a 53.954 pontos, numa semana dominada por expectativas relacionadas à divulgação do balanço auditado de 2014 da Petrobras. O volume financeiro somou R$ 6,4 bilhões.

Os papéis ON da Petrobras terminaram o dia com alta de 0,68% e os PNs com avanço de 0,62%, acumulando na semana ganhos de 12,17% e 10,07%, respectivamente. 

Você pode gostar