Por monica.lima

A publicação ontem dos balanços auditados da Petrobras referentes aos terceiro e quatro trimestres de 2014 pode abrir caminho para a retomada das emissões de empresas brasileiras no exterior, pelo fato da estatal ser a maior e mais conhecida empresa brasileira no exterior. Mas, como os balanços do primeiro trimestre deste ano estão muito perto de serem divulgados — a data final é 15 de maio — muitos investidores estrangeiros podem preferir esperar mais um pouco antes de voltar a dar seu voto de confiança na Petrobras — e, por tabela, ao Brasil e a outras companhias brasileiras.

Os resultados da estatal com os impactos dos superfaturamentos e propinas, investigados pela Operação Lava Jato, demoraram a sair pela dificuldade de se chegar a uma metodologia correta. Agora, a empresa continua sob pressão, mas entra numa nova fase.

Para o diretor de América Latina da Consultoria Eurasia Group João Augusto de Castro Neves, o balanço da Petrobras ajuda na melhora de percepção sobre as empresas e o Brasil, mas não é suficiente para trazer um cenário benéfico imediatamente. “De fato é um passo importante para virar a página. Para a Petrobras em si, porque elimina algumas incertezas; e para economia como um todo é um uma luz no fim do túnel”, diz. Mas ele prefere cautela: “Será que parte desta melhora já não foi precificada?”, questiona. “Não dá para dizer que a vai melhorar muito, pode ser que sim, mas sou cauteloso”, diz.

Na semana passada, o subsecretário do Tesouro Nacional, Paulo Valle, disse que o Brasil poderá emitir dívida no exterior até junho, segundo a Bloomberg. Questionado sobre a declaração, o Tesouro Nacional, por meio da sua assessoria de imprensa, informou que não há decisão quanto à uma possível emissão externa. “O Tesouro Nacional já havia pre-financiado toda a sua necessidade de financiamento externo de 2015, então, só faria uma emissão externa em 2015 se agregasse valor na sua estratégia. A mesa de operações do Tesouro Nacional acompanha o mercado diariamente e considera vários fatores para definir a janela adequada para emissão, não havendo restrições quanto a datas, podendo ser antes ou depois de junho, dependendo das condições de mercado”, informou a assessoria.

Pedro Bianchi, chefe de mercados de capitais de dívidas do Bank of America no Brasil, disse que pelo menos sete empresas estão em conversas sobre a oferta de bonds para as próximas semanas.
Bianchi disse que as empresas que podem surgir com novas emissões possuem grau de investimento e receitas em moedas “fortes”, e costumam acessar esse mercado com frequência. Ele preferiu não identificá-las, nem fornecer informações adicionais.

Já o analista independente Flavio Conde, especializado em Petrobras, acredita que a companhia vai apresentar o balanço do primeiro trimestre deste ano dentro do prazo, que termina em 15 de maio. “Como faltam apenas 20 dias, os investidores podem preferir esperar para ver esses números antes”, diz. O mesmo raciocínio vale para uma eventual revisão da nota de risco de crédito por parte da Moody’s, que rebaixou a Petrobras a “junk”. “Os preços do dólar subiram muito no primeiro trimestre o que pode ter onerado ainda mais os custos da empresa”, diz Conde.

Mesmo assim, o analista acredita que com o novo presidente Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil, que assumiu a petroleira em fevereiro e trouxe junto Ivan Monteiro para a diretoria de finanças, a Petrobras vai voltar aos trilhos. “A diretoria anterior estava paralisada, uma vez que estava no comando durante as irregularidades descobertas pela Operação Lava Jato. Uma das coisas que Bendine e Monteiro fizeram logo foi contratar bancos para vender ativos da empresa, como 49% da BR Distribuidora (ainda sem preço definido) e a participação de R$ 3 bilhões na Braskem”.
Para Conde, para recuperar a credibilidade — e a confiança dos investidores — a Petrobras ainda precisa divulgar o plano de corte nos investimentos.

Mais otimista, James Gulbrandsen, sócio gestor, da NCH Capital, acredita que se os números convencerem o mercado se abre para as empresas brasileiras. “Se a divulgação for vista como crível, sim. É bem capaz que a Petrobras abra não apenas o Mercado de bônus mas também— alguns meses depois—o mercado de equities. A restauração de credibilidade da Petrobras significar a restauração da credibilidade do Brasil”, afirma.

O pesquisador do Centro de Estudos em Regulação e infraestrutura da Fundação Getulio Vargas (FGV), Edson Daniel Lopes Gonçalves, concorda. Para ele, a divulgação do balanço auditado da Petrobras abre uma “nova jornada de possibilidades no mercado externo, não só para a Petrobras, mas para os grandes grupos empresariais”.

Segundo ele, o reconhecimento das perdas causadas pela corrupção e pela avaliação equivocada dos ativos mostra o compromisso da nova direção da empresa com os melhores princípios de governança corporativa. “ Os números vão balizar o desempenho dos ativos da petrolífera tanto interna como externamente”.

Perguntado sobre a possibilidade de a divulgação do balanço reanimar investidores com Brasil - e encerrar as discussões sobre os “covenants” — o assessor do Aurelius Capital Management disse, por email, que não comentaria o assunto. O fundo com sede em Nova York ameaçava pedir resgate antecipado dos bônus da Petrobras porque ela estaria descumprindo o prazo de publicação dos balanços. 

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