O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu, por unanimidade, elevar pela sexta vez consecutiva a Selic, em 0,50 ponto percentual (p.p.), para 13,75% ao ano – o maior nível desde agosto de 2006, quando a taxa básica de juros se encontrava em 14,25%. A continuidade do aperto monetário tende a pressionar ainda mais a atividade econômica, que já apresenta retração no primeiro trimestre.
Em comunicado, Comitê diz que, “avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic em 0,50 p.p., para 13,75% a.a., sem viés.”
Especialistas destacam que o ciclo de alta da Selic é um esforço do BC para recuperar a confiança do mercado e tem como objetivo diminuir o ganho real dos trabalhadores para frear o consumo e, assim, controlar a pressão inflacionária.
A decisão reitera a posição da autoridade monetária de manter os esforços para trazer a inflação, que ultrapassa os 8% nos últimos 12 meses, ao centro da meta, de 4,5%, no fim de 2016 .“A moderação salarial constitui elemento-chave para a obtenção de um ambiente macroeconômico com estabilidade de preços”, apontou o BC no último relatório de inflação, divulgado em março. O esforço para controlar a inflação deve aprofundar a retração da atividade econômica, de acordo com economistas ouvidos pelo Brasil Econômico.
Vale destacar que, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego subiu para 8% no trimestre até abril, enquanto o rendimento médio dos trabalhadores caiu 0,4% em relação ao mesmo período de 2014. De acordo com o professor de economia da Unicamp, Francisco Loprato, é um exagero subir novamente a Selic, uma vez que o cenário já contribui para o recuo da demanda agregada.
“A queda na produção industrial em abril (recuo de 7,4% em relação ao mesmo mês de 2014) comprova isso. A taxa de desemprego apresenta crescimento constante e o Produto Interno Bruto (PIB) está recessivo. Em meio a este cenário de arrefecimento, a continuidade do ciclo de aperto monetário é um excesso”, argumentou. No primeiro trimestre, o PIB apresentou queda de 0,2%, impactado pelo recuo no consumo das famílias, que caiu 1,5% no período – o pior resultado desde o quarto trimestre de 2008.
“Além do aperto monetário, estamos em um momento de ajuste fiscal, o que corrobora para um desempenho ainda mais fraco da economia. O problema é que essas medidas inibem os investimentos, refletem na demissão de trabalhadores e podem não impactar os preços. Quando a economia entra em recessão, a tendência é que importantes setores, como o automobilístico, aumentem os preços para compensar a queda nas vendas e assim defender a massa de lucro”, destacou Lopreato.
Na avaliação professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, Clemes Nunes, a desaceleração do mercado de trabalho ainda não se mostra suficiente para controlar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, e acumula alta de 8,17% nos últimos 12 meses.
“O foco está na expectativa de inflação para 2016. Enquanto a projeção do BC continuar apontando para um número que estoure o teto da meta (4,5%), a autoridade monetária deve manter o processo de aperto monetário. O objetivo é recuperar a confiança dos agentes da economia ao garantir a estabilidade dos preços no ano que vem”, afirmou. Por enquanto, a expectativa do BC é que a inflação feche 2016 a 4,9%.
Nunes argumenta que o efeito recessivo que a alta dos juros provoca no curto prazo é necessário para convencer os agentes que o IPCA vai convergir para o centro da meta, o que tende a contribuir para a retomada dos investimentos privados. “Acredito que, no segundo semestre de 2016, teremos uma pequena recuperação cíclica, e o PIB deve fechar o ano com crescimento próximo a 0,5%”, disse.
Próxima reunião
Para o economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho, o Copom deve optar por mais uma alta de 0,25 p.p. na Selic na reunião que acontece no fim de julho. “Até lá, os indicadores que medem o desempenho da indústria e do mercado de trabalho devem mostrar ainda mais fraqueza, e a atividade econômica tende a aprofundar o arrefecimento no segundo trimestre, o que aumenta a expectativa pelo fim do ciclo de aperto monetário após esta última elevação. No Focus, os economistas consultados pelo Banco Central projetam que a taxa básica de juros termine o ano em 14%.