Relatório aponta incertezas sobre a produtividade e um "dano significativo" ao capital humano pelo fechamento prolongado das escolasMarcello Casal Jr/Agência Brasil

Na América Latina e Caribe, os efeitos negativos da pandemia de covid-19 em termos de produtividade, emprego e capital humano podem "demorar muitos anos para serem revertidos", alertou o Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta quinta-feira (21).
"O crescimento para a maior parte da região não está voltando à trajetória que previmos antes da pandemia", disse o diretor interino do Departamento das Américas do FMI, Nigel Chalk, ao revelar as perspectivas econômicas para a região.
O FMI aumentou sua previsão de crescimento para 2021 para os países latino-americanos e caribenhos para 6,3%, 0,5 ponto percentual a mais do que o estimado em julho. No entanto, revisou para baixo sua projeção para 2022, em 3% (-0,2 ponto).
Embora a recuperação tenha se mantido este ano, não foi suficiente para apagar a recessão histórica de 2020 na região, que levou a uma contração do PIB de 7%, muito acima do -3,1% em nível mundial.
"Os países devem se preparar para a possibilidade de essa recuperação não ser um caminho linear. Na verdade, devem antecipar um caminho longo e sinuoso", disse Chalk.
O panorama atual mostra uma recuperação desigual do emprego, com impacto maior nos jovens, em quem tem menor grau de escolaridade e nas mulheres. Além disso, também menciona incertezas sobre a produtividade e um "dano significativo" ao capital humano pelo fechamento prolongado das escolas, segundo o relatório.
Também persistem "desafios" no setor do turismo, especialmente no Caribe, onde "é provável que a quantidade de visitantes este ano alcance apenas cerca de 60% dos níveis anteriores à covid-19".
Pressões inflacionárias
O FMI alertou também sobre o impacto na região do aumento dos preços das matérias-primas e dos alimentos, das interrupções na cadeia de abastecimento e dos aumentos globais dos preços dos bens, que impulsionam a alta dos preços ao consumidor.
"As pressões inflacionárias estão se tornando uma característica importante para grande parte da região", alertou Chalk, prevendo que os aumentos das taxas de juros "continuem em muitos países nos próximos meses".
"Muitos bancos centrais da região reagiram corretamente a essas pressões, elevando as taxas de juros oficiais e reforçando seu compromisso com suas metas de inflação", afirmou Chalk.
Para América Latina e Caribe, o FMI projeta uma inflação de 9,7% para 2021 e de 6,9% para 2022. Na América do Sul, a projeção é particularmente alta em relação ao restante da região: de 12% para 2021 e 8,9% para 2022.
Neste contexto, o FMI recomenda o lançamento de "políticas ambiciosas", melhorar a eficiência do gasto público, promover "um sistema tributário progressivo e propício ao crescimento", ou até investir mais em projetos de combate ao aquecimento global.
Também recomendou prudência ao retirar os subsídios públicos extraordinários que foram disponibilizados para contra-atacar o impacto da pandemia sobre famílias e empresas. Pediu para considerar a necessidade de "voltar a colocar a dívida em queda".
Vulnerável à mudança climática
Em um relatório separado sobre a mudança climática, também publicado nesta quinta-feira, o Fundo aponta que essa região é uma das mais diversas em termos de riscos relacionados ao clima.
A nível mundial, a região da América Latina e Caribe produz emissões de gases de efeito estufa proporcionais ao seu tamanho econômico e população, que representam 8,4% das emissões globais para um peso de 8% do PIB mundial.
Mas os volumes são muito diferentes, com Brasil, México e Argentina como os maiores emissores e as economias do Caribe com uma participação marginal.
Embora os países latino-americanos e caribenhos sejam geralmente menos vulneráveis à mudança climática, "há focos de grande vulnerabilidade", como a região do Caribe.
Esses países se diferem "em termos de frequência e impacto econômico de desastres naturais de origem meteorológica por área", afirmam os autores do relatório.
No Caribe, os danos causados por desastres naturais representam 2,5% do PIB anual, "afetando grandes segmentos da economia e da população", o que pesa fortemente sobre as finanças públicas.