Conferência da ONU vai até o próximo dia 12 de novembro e deve receber chefes de Estado e manifestantes de todo o mundoAFP

Sob pressão para atuar contra a mudança climática antes que seja muito tarde, os líderes de mais de 120 países começaram a chegar nesta segunda-feira a Glasgow (Escócia), para uma reunião de cúpula prévia às negociações decisivas da COP26.
"Falta um minuto para meia-noite e precisamos agir agora", afirmará o primeiro-ministro britânico e anfitrião Boris Johnson, de acordo com trechos do discurso que vai abrir o encontro de dois dias.
Com cumprimentos com os cotovelos e apertos de mão, Johnson e os altos funcionários da ONU receberam durante a manhã os líderes que chegaram ao centro de conferências de Glasgow, sobrevoado por helicópteros e cercado por fortes medidas de segurança.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que proclama o retorno do país às negociações sobre o clima, será o grande protagonista de uma reunião marcada pelas ausências do chinês Xi Jinping, presidente do país que mais emite gases poluentes, e do russo Vladimir Putin.
Biden desembarcou no fim da manhã à cidade escocesa de Edimburgo, de onde seguiria para a sede da COP26. Antes de sua chegada, o enviado especial do governo americano para o clima, John Kerry, reafirmou a determinação dos Estados Unidos de atuar para "sair de Glasgow como aumento significativo da ambição global".
Apesar da ausência, o chinês Xi Jinping transmitirá nesta segunda-feira uma mensagem por escrito aos participantes.
Também discursará, de maneira presencial, o príncipe Charles, em substituição à rainha Elizabeth II, de 95 anos, que está de "repouso" por recomendação médica. Ele deve pedir às empresas que se unam ao esforço mundial: "Precisamos de uma ampla campanha do tipo militar para reunir a força do setor privado mundial que dispõe de trilhões de dólares".
"Território desconhecido"
O presidente brasileiro Jair Bolsonaro não vai participar da COP26, apesar de ter comparecido à reunião do G20, que terminou no domingo em Roma.
A COP26 deve abordar os principais temas do histórico Acordo de Paris, assinado em 2015, como o aumento dos compromissos de cada país para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, o financiamento da luta contra a mudança climática ou as regras de transparência e controle mútuo.
Um total de 196 partes assinaram o Acordo de Paris, com o objetivo de limitar o aumento da temperatura do planeta a +1,5ºC. Mas a realidade é que a Terra segue rumo a um aumento de 2,7ºC, e com este número o clima e os ecossistemas entram em "território desconhecido", segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM).
Cinquenta gigatoneladas
O mundo emite anualmente mais de 50 gigatoneladas de gases do efeito estufa, de acordo com cálculos da ONU. Uma gigatonelada representa um bilhão de toneladas.
"Nossos estudos indicam que acontecerá um aumento de emissões de 16% em 2030, quando deveríamos registrar uma redução de 45%", resumiu a secretária executiva do organismo da ONU para a mudança climática, a mexicana Patricia Espinosa.
E embora publicamente exista a consciência de que a situação deve mudar, ainda subsistem grandes dúvidas sobre o modelo energético alternativo.
As divergências voltaram a aparecer na reunião do G20 em Roma, que apesar de ter ratificado o compromisso com o limite de +1,5ºC não apresentou maneiras específicas de como alcançar o objetivo.
"Saio de Roma decepcionado", declarou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres.
Biden acusou diretamente China, Rússia e Arábia Saudita de não estarem à altura do desafio.
As previsões de crescimento mundial implicam um desafio global, admitem os especialistas. O G20 é responsável por 80% das emissões de gases do efeito estufa e seus membros divulgaram um comunicado final vago.
"Os países do G20 deixarão de financiar centrais de carvão no exterior. Mas haviam prometido fazer isto com todas as energias fósseis. O que começou no G20, a COP26 deve terminar", advertiu Pierre Cannet, da organização ecologista WWF na França.
Os países pobres pedem ajuda para mitigar ou adaptar-se às consequências da mudança climática. Os países ricos prometeram 100 bilhões de dólares por ano, quantia que já deveria ter sido repassada em 2020, mas faltam US$ 20 bilhões. As principais potências econômicas afirmam que o tema será solucionado em alguns anos.
A Aliança de Pequenos Estados Insulares denuncia as consequências "terríveis" que podem ocorrer em alguns anos se o nível do mar continuar aumentando, como afirmam os cientistas.
"Parece que alguns não têm medo, ou pior, são indiferentes", declarou a negociadora do grupo em Glasgow, Lia Nicholson.