Rio - Todo dia 20 de novembro é a mesma coisa. Na data em que é celebrado o Dia da Consciência Negra, a internet é tomada por um vídeo específico. O material faz parte de uma entrevista dada por Morgan Freeman em 2005. Na ocasião, o ator de Hollywood, que é um homem negro, minimizou a importância do Dia da Consciência Negra e que uma das ferramentas para acabar com o racismo deveria ser não falar sobre isso.
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Mesmo Freeman já tendo mudado seu posicionamento sobre o tema, o vídeo continua sendo fortemente veiculado na internet, principalmente por quem tem o objetivo de minimizar os movimentos de igualdade racial e, de alguma forma, ridicularizar as consequências do racismo estrutural na sociedade.
Coordenador da Setorial Luís Gama do movimento Livres, Edson Lau, reforça a problemática de se repetir este tipo de discurso. "Esse tipo de post é utilizado por pessoas que fazem uma escolha: não falar sobre racismo. Esta escolha serve apenas para a manutenção do status quó que, como apontam as pesquisas, não é nada favorável à população afro-descendente no Brasil: falta educação, saúde e emprego, enquanto sobra fome, violência e vulnerabilidade", argumenta o especialista, que reforça a necessidade de uma data como a celebrada hoje em todo o país.
"Daí a importância do Dia da Consciência Negra, para fazer com que haja no país uma discussão séria sobre a história dos negros e suas contribuições culturais e econômicas. Para também ressaltar as consequências nefastas do racismo arraigado no seio da sociedade brasileira. Temos um senso comum (de cunho colonialista) do mito da democracia racial, como se todos no Brasil vivêssemos harmonicamente sem conflitos e tensões provocadas pelo racismo", explica, Lau, que chega a aconselhar, inclusive, que não se deixe de falar sobre racismo para que, dessa forma, a desigualdade racial possa vir a diminuir.
"Outro mito é o de que falar sobre racismo só aumenta o racismo. Muito pelo contrário em ambos os casos, nunca houve democracia racial num país que nem cidadania plena dá a seu povo. Falar sobre o racismo é importante pois coloca um espelho ante à pessoas que tem atos e falas racistas, claro que isso causa reação e resistência, dos que estão 'felizes' com a atual conjuntura. Mas a ideia é de fato mudar uma cultura, que é secular, para isso, não podemos fingir que o problema não existe. Para nós negros, não fazer nada não é opção", completa o historiador, que em 2018 foi vice-presidente do Conselho Estadual de Promoção a Igualdade Racial (CONSEPIR).
Nas redes sociais, muito debocharam do vídeo e dos que compartilham a mensagem 'antiquada'. Como não poderia deixar de ser, vários memes surgiram com a situação. Confira:
mês da consciência negra é sempre bom postar o Morgan Freeman, mas tem de ser a versão revisada
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