Nobel Peace Prize laureate Dmitry Muratov of Russia (L) reacts next to US Nobel Peace Prize 2020 laureate David Beasley as they greet the crowd from the balcony of the Grand Hotel in Oslo on December 10, 2021, following the Nobel Peace Prize gala award ceremony. - Investigative journalists Maria Ressa of the Philippines and Dmitry Muratov of Russia won the prestigious award earlier this month for their work promoting freedom of expression at a time when liberty of the press is increasingly under threat. (Photo by Odd ANDERSEN / AFP)AFP

O jornalista russo Dmitry Muratov pediu "um minuto de silêncio" pelos repórteres assassinados, ao receber nesta sexta-feira, 10, em Oslo, o Nobel da Paz junto de sua colega filipina Maria Ressa, que culpou os grupos de tecnologia americanos pela "lama tóxica" propagada nas redes sociais.

Maria Ressa, cofundadora do site de notícias Rappler, e Dmitry Muratov, editor-chefe do jornal independente Novaya Gazeta, foram anunciados no início de outubro como ganhadores do prêmio Nobel da Paz de 2021 por sua luta "a favor da liberdade de imprensa".

"Fiquemos de pé e honremos com um minuto de silêncio os nossos colegas jornalistas, que deram suas vidas por essa profissão", disse Muratov, de 60 anos. "Quero que os jornalistas morram de velhice", acrescentou.

Por sua vez, Maria Ressa atacou os grandes grupos de tecnologia americanos por permitirem a difusão de "uma lama tóxica" nas redes sociais. Ressa assinalou que esses grupos "são inimigos dos fatos, inimigos dos jornalistas. Sua natureza é nos dividir e nos radicalizar", explicou a jornalista de 58 anos para uma audiência reduzida devido à covid-19.

"Com seu poder quase divino", sua tecnologia "permitiu que o vírus da mentira infectasse cada um de nós, colocando uns contra os outros, trazendo à tona nossos medos, nossa raiva e nosso ódio, preparando o terreno para a chegada de dirigentes autoritários e ditadores", disse.

Sob os olhares dos integrantes da família real norueguesa, todos usando máscaras, Ressa destacou a importância de uma informação confiável em períodos eleitorais e durante pandemias.
No entanto, "sem os fatos, não podemos ter a verdade. Sem a verdade, não podemos ter a confiança. Sem confiança, não temos democracia, e se torna impossível enfrentar os problemas existenciais do nosso planeta: o clima, o coronavírus, a luta pela verdade", acrescentou.

No dia anterior, Ressa havia dito que "a liberdade de imprensa está ameaçada", quando foi questionada se o prêmio mudaria a situação em seu país, Filipinas, que ocupa o 138º lugar da lista de liberdade de imprensa elaborada pela ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

À espera da resolução dos sete processos judiciais que estão pendentes nas Filipinas, Ressa precisou pedir permissão a quatro tribunais de seu país para poder viajar à Noruega.
Agente estrangeiro
Já Muratov tem 60 anos e dirige um dos poucos jornais que ainda são independentes no restritivo panorama midiático russo. "O jornalismo atravessa um período sombrio na Rússia", afirmou.

O Novaya Gazeta é conhecido especialmente por suas investigações sobre a corrupção e as violações dos Direitos Humanos na Chechênia. Desde a década de 1990, seis colaboradores do jornal foram assassinados, entre eles a jornalista Anna Politkovskaya em 2006.

"Se tivermos que nos tornar agentes estrangeiros por recebermos o prêmio Nobel da Paz, então vamos fazê-lo", ironizou, referindo-se à qualificação dada pela Rússia a jornais críticos do Kremlin.

A classificação de "agente estrangeiro", que busca desacreditar os jornais que recebem "financiamento do exterior" e realizam "uma atividade política", obriga os grupos de informação a apresentarem esse status em todas as suas publicações. O presidente russo Vladimir Putin alertou que o prêmio Nobel não é um "escudo" contra esse status. A Rússia ocupa a 150ª posição na classificação da RSF. Mas Muratov se mostrou confiante de que escaparia desse rótulo.

"Acredito que, nos 30 anos de existência de nosso jornal, fizemos tantas coisas positivas para o país que nos classificar como 'agentes estrangeiros' seria prejudicial para os que estão no poder em nosso país" e "seria algo estúpido", disse, em entrevista à AFP.

'Informar não deve custar a vida'
Até 1º de dezembro, 1.636 jornalistas morreram nos últimos 20 anos no mundo, 46 em 2021, segundo os dados da RSF. "Informar não deve continuar custando a vida", insistiu o secretário-geral da RSF, Christophe Deloire, durante a apresentação do relatório esta semana.

Além disso, nunca houve tantos jornalistas detidos no mundo: 293, denunciou na quinta-feira o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), com sede nos Estados Unidos. "Levar a informação para o público pode, por si só, evitar a guerra", disse a presidente do Comitê Nobel norueguês, Berit Reiss-Andersen. "O papel da imprensa é levantar o véu da agressão e do abuso de poder, e assim contribuir para a paz", acrescentou.

Durante a cerimônia em Oslo, o diretor do Programa Mundial de Alimentos (PMA), David Beasley, pronunciou o discurso de aceitação do prêmio Nobel concedido no ano passado à agência humanitária da ONU. Em 2020, a celebração foi cancelada por causa da pandemia.

Os ganhadores do Nobel recebem um diploma, uma medalha de ouro e um cheque no valor de 10 milhões de coroas suecas (mais de 1 milhão de dólares).